Zelk Zoltán (1906 – 1981), poeta húngaro, continuador, em parte, da poesia de Kassák Lajos, em primeiro lugar com os seus poemas comprometidos, mas hoje é também conhecido como inspirado autor de poemas para crianças.
No início da sua carreira este poeta, oriundo da Transilvânia, pertenceu ao círculo de Kassák Lajos, afastando-se lentamente da influência de Ady Endre. A partir de 1928 começou publicar na revista Nyugat e Radnóti Miklós escreveu elogios sobre o seu primeiro volume de poemas. As voltas e reviravoltas da história húngara do século XX também determinaram significativamente a sua vida. Durante a Segunda Guerra Mundial foi levado para o serviço de trabalho na Ucrânia, de onde fugiu. Após a guerra, ele serviu a direção comunista, mas foi preso pela sua atitude durante a revolução de 1956 e forçado a permanecer em silêncio. Ele pôde publicar novamente apenas a partir de 1962.
FENDA
Szakadék
Na fenda medonha entre dois minutos
caindo, estendo mesmo assim a mão.
Existo. É minha apresentação.
E E
És és
Quando, abrindo a porta do quarto,
vi o meu assassino
conversando, sentado na cadeira conchiforme,
deslizando, em mudo alarme,
pelas paredes inundadas de luz eléctrica –
como tive piedade dele! Lembrava-se ele, ainda,
de quem matou? E, respondendo à sua mão estendida,
sentei-me à mesa e
quetalohvamosindo
hávinteanosissoprecisamente
quantascoisasjámasestamosemforma
apesardosanosemisériasnãopoucos
apesardaanginadopeitoedaprótese
e e
conversa
e, no disco, riscar da água
e café e sanduíche e bebida
e cigarros e alguns charutos
e sofá e catre e enxergão
e turbilhão de neve e ramos de macieiras dobrados
e fogo na floresta e rio transbordando
e meia-noite passada e a palavra já se extingue
e companheiros deixam cair o copo
encostam-se ao muro da noite ruindo –
para que o mundo sobre eles não desabe!
Traduções de Ernesto Rodrigues