Após um longo encerramento, devido ao Covid-19, este Setembro começou no espírito da literatura e da cultura, com uma sucessão de eventos oferecidos aos leitores assíduos e amantes das experiências sofisticadas. A Feira do Livro está a decorrer nestes dias, e o festival literário PesText que se realizará pela terceira vez este ano, terá lugar na segunda metade do mês, mais uma vez centrado na literatura mundial, enfocando a questão de como as obras literárias de diferentes línguas e culturas podem ser recebidas num outro país ou por um povo diferente.
E este ano marca também o 25º aniversário da revista de poesia Parnasszus, cujo fundador e incansável editor-chefe, István Turczi, apresentara, então, esta revista singular:
“- O que motivou o lançamento da revista?
– Gostaria de deixar claro que não se trata apenas de uma revista, mas de uma revista sobre poesia, que quer chegar até os amantes da poesia e aproximar os jovens e a literatura. A revista, cujo primeiro número foi lançado em Setembro, faz vinte e cinco anos, será o centro desta atividade multidireccional.
– Não será ilusório ter fé no futuro da poesia quando a literatura como um todo está em crise?
– É verdade que a Galáxia de Gutenberg tem ocupado um lugar secundário nos últimos tempos, mas ainda há muitos de nós que se preocupam com livros e poesia. Em tal situação, precisamos de nos unir, e queremos criar um fórum para esta unidade.
– Já houve fóruns antes, mas quase não havia dinheiro. Como encontrou um patrocinador para Parnasszus?
– No decurso do meu trabalho como funcionário público, entrei em contacto com o chefe da Holding Fiscal, um engenheiro-economista, que, trabalhando comigo, lentamente se tinha apaixonado pela literatura e decidiu apoiar a realização de um projeto que nunca tinha sido feito antes na Hungria ou na Europa Central. Em França, Inglaterra e Extremo Oriente, existem revistas de poesia, mas aqui o nosso poeta, cujo centésimo aniversário do nascimento comemoramos neste ano, János Pilinszky e outros mais só sonhavam com ela.
– Quem são os editores?
– Estou a fazê-lo eu próprio, porque não quero que se desenvolva uma espécie de “cabeça de água” que só gasta dinheiro, à volta da revista. Prefiro que os escritores que submetem os manuscritos recebam o que merecem. Um conselho editorial de um só homem não significa que não dependa da contribuição de colegas escritores e da experiência de colegas seniores para ajudar a moldar o workshop”.
E como o editor-chefe e impulsionador da revista é ele próprio um poeta, aqui está um seu poema em português:
Algures Budapeste
Valahol Budapest
A cidade é um espelho redondo com a sensação de mármore branco
do avião
a luz do sol rasga o nosso olhar
as palavras como um cinto de segurança
agarrado a língua, tenso
no campo de visão de olhos estreitos
acolhimento mudo
respirações de espirais ao ritmo do motor
aparas de imaginação em todo o lado
talvez com as mãos a acenar
ou sorrisos ansiados por
O CÉU ESCURO aproxima-se da terra
o maelstrom faz formigar a porcelana da espera
em algum lugar
a volta das suas mãos
não para além dos nós dos dedos
Budapeste