Beijo Negro
Beija-me profundamente com o teu gosto,
dá-me o teu gosto,
faz-me renascer,
para que no meu despertar sinta a fresca melodia dos pássaros
e a brisa me traga esse incenso
místico… terra…
que os rios e os mares quentes, me lavem a consciência
e me aqueçam a alma,
o meu dia seja uma caça felina… a minha presa… a vida…
o mergulhar no entardecer da esperança ardente,
e esses tambores ao anoitecer, me embalem em sons embriagantes,
o fogo dos corpos mais forte que as chamas das fogueiras,
os gestos dos corpos suados,
uma dança feiticeira de beijo negro,
a minha entrega inteira,
beija-me profundamente com esse gosto,
porque só tu me beijas assim.
(Sónia Sultuane, 2006)
Sónia Sultuane é uma artista multifacetada – poeta, artista plástica, escritora, colaboradora da imprensa e curadora. É uma voz afirmada na poesia, desde a estreia com a obra Sonhos, em 2001. Além de escritora e artista plástica, o seu mérito é reconhecido, pelo seu papel social na valorização das mulheres do mundo, pela participação em festivais internacionais e moçambicanos.
Sónia Abdul Jabar Sultuane nasceu em Lourenço Marques, atual Maputo, Moçambique, em 4 de março de 1971. Sónia Sultuane quando criança mudou-se com a sua família para Nacala Porto, no norte de Moçambique, após a transferência do seu pai que trabalhava nos Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique. Após a independência de Moçambique em 1975, passou a residir em Maputo.
Aos treze anos de idade, Sónia Sultuane começou a realizar atividades artísticas e desde jovem a escrever poesias. Em 2001, publicou o seu primeiro livro Sonhos, seguido pelas outras obras, Imaginar o Poetizado (2006), No Colo da Lua (2009) e A Lua de N’weti (2014), e em 2005, começou a fazer esculturas. Os seus temas retratam a posição das mulheres na sociedade moçambicana e as circunstâncias presentes, e também na dialética entre as comunidades multi-religiosas. Ela descreve as suas obras de forma transdisciplinar, e muitos dos seus poemas possuem formas plásticas.
Entre 2006 e 2008, foi secretária da assembleia geral da Associação dos Escritores Moçambicanos. Em 2009 foi convidada pela Associação dos Amigos de Moçambique em Macau para realizar uma exposição das suas obras na Escola Portuguesa de Macau, tendo sido a sua primeira exposição individual. Realizou exposições em Itália e África do Sul.
Sónia Sultuane foi amiga de Fernando Leite Couto, pai de Mia Couto, e as suas obras Roda das Encarnações e Celeste, a boneca com olhos cor de esperança foram lançadas na Fundação Fernando Leite Couto em 2016 e 2017.
Foi membro do Movimento de Arte Contemporânea de Moçambique, Núcleo de Arte e da Associação Moçambicana de Fotografia, e pertenceu ao conselho do Arterial Network Mozambique.
Em 2017, foi agraciada com o Prémio Femina pelo mérito nas Letras: Literatura e Poesia. (Wikipédia)
Site de Sónia Sultuane https://soniasultuane.com/