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Retoma gripada. Até 2022, Portugal perde dois terços do emprego criado desde 2015

Durante os dois governos do PS foram criados 364 mil empregos, mas a pandemia fará desaparecer 224 mil postos de trabalho, segundo contas da OCDE.

Asegunda vaga da pandemia deve empurrar a economia portuguesa para uma situação mais crítica do que se espera em termos de emprego e salários. Há várias instituições que preveem que a retoma de Portugal seja três vezes mais lenta do que dizem o governo e a Comissão Europeia.

Algumas análises recentes indicam mesmo que, por causa das novas medidas de confinamento, a economia está à beira de uma nova recessão. Isto depois de ter recuperado no terceiro trimestre (período do verão).

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a que mais recentemente fez projeções para o País, está bastante descrente na retoma. A economia portuguesa deve avançar apenas 1,7% no ano que vem (três vezes menos do que os 5,4% estimados pelo Governo e Bruxelas) e os trabalhadores vão ser apanhados na crise de forma violenta.

De acordo com cálculos do Dinheiro Vivo a partir de dados da OCDE, a pandemia (primeira e segunda vaga) deve apagar dois terços do emprego criado durante os últimos governos PS.

A OCDE até está menos pessimista quanto à destruição de emprego este ano (fala de uma quebra de 2,8%, o governo espera 3,8%).

Mas em 2021, a recuperação perde gás. A economia cresce muito menos e o emprego em vez de avançar 1% como espera o governo, deve tombar 1,8%, segundo a organização sediada em Paris.

Isto faz com que em cima dos quase 138 mil empregos destruídos em 2020, Portugal fique sem 86 mil postos de trabalho adicionais no ano que vem.

Se assim for, no grupo de quase quatro dezenas de países (considerados desenvolvidos pela OCDE), Portugal vai ter a sexta pior prestação no mercado de emprego.
Salários estagnam em 2021

Com os salários acontece o pior também. O salário por trabalhador ainda até deve subir ligeiramente este ano porque muitos empregados com salários mais elevados conseguiram manter o emprego e continuar a trabalhar a partir de casa (o advento do teletrabalho).

Em contrapartida, os precários, mal pagos, tendencialmente mais jovens, menos qualificados, os trabalhadores com profissões iminentemente presenciais, não conseguiram manter os seus postos de trabalho. Veja-se o caso das atividades ligadas ao turismo. Por isso a média salarial per capita sobe.

Mas em 2021, a economia deve começar a destruir empregos que conseguiram resistir até aqui.

Segundo a OCDE, o ordenado médio por empregado ressente-se e vai estagnar em 2021, sendo um dos piores registos do grupo das quase 40 economias ricas.

A organização prevê uma subida de apenas 0,2% no ano que vem, o registo mais fraco desde os anos do ajustamento da troika e do governo PSD-CDS.

Será também o oitavo pior ritmo de atualização salarial da OCDE.

 

Economistas já veem país à beira de nova recessão

De acordo com o departamento de estudos conjunturais do ISEG, “na sequência das novas medidas restritivas da atividade económica e social, tomadas para controlar a evolução da pandemia, emergem sinais, ao nível qualitativo e quantitativo, de que a recuperação da atividade económica registada no 3º trimestre irá ser interrompida no 4º trimestre”.

Os indicadores relativos ao último trimestre, “ainda que muito parcelares”, evidenciam uma tendência mais negativa tanto na procura interna (consumo e investimento), como na procura externa líquida (exportações menos importações).

Assim, o grupo de analistas do ISEG antecipa uma “queda do PIB em relação ao terceiro trimestre, estimando-se provável um decréscimo em torno de 3%” nos últimos três meses deste ano.

Ou seja, Portugal volta a ficar à beira da recessão (tecnicamente definida como dois trimestres seguidos de quebra da atividade.

“Nestas condições, a variação homóloga no 4º trimestre deverá situar-se em torno de -9%” e “para a totalidade de 2020, dado o decréscimo acumulado de -8,2% nos três primeiros trimestres, torna-se provável uma variação homóloga em torno de -8,5%”. É exatamente o que esperam as Finanças este ano, no cenário incluído no Orçamento do Estado de 2021.

Kit Yeung, a analista da Fitch que segue Portugal, diz que apesar da retoma prevista, e mesmo não incorporando ainda os fundos europeus (a bazuca das subvenções, por exemplo), “as tendências do mercado de trabalho português são fracas”.

“A pandemia levou a um aumento da população inativa, por via dos trabalhadores temporários que deixaram de trabalhar”, observa a analista da agência de ratings.

Boa parte destes precários estava no turismo e nas atividades económicas que requerem trabalho presencial. Muitos negócios foram obrigados a fechar na primeira e nesta segunda vaga de confinamento; muitos, sabe-se agora, não reabriram, nem nunca nunca vão reabrir. Faliram.

Bomba-relógio e bazuca encravada

Joaquim Miranda Sarmento, professor de Economia do ISEG e presidente do Conselho Estratégico do PSD, também está pessimista. É membro da oposição e culpa muito o governo do PS por gerir mal a crise sanitária e económica.

O economista observa que “a Comissão Europeia refere que a redução do défice em 2021 será exclusivamente por via de o governo retirar os apoios à economia”. “O governo prevê retirar todos os apoios de 2020, apesar de a pandemia se prolongar no próximo ano.”

O professor relembra ainda que “um estudo do FMI mostra que Portugal é um dos países Europeus que menos investiu no combate à crise, quer na vertente da saúde, quer na vertente de apoio à economia” e que esse trabalho “indica que em 38 países desenvolvidos, Portugal é o 35º em gastos com a crise em percentagem do PIB “.

“O Governo apostou tudo nas moratórias, deixando uma bomba relógio para o setor financeiro enfrentar nos próximos anos” e ainda há o problema da “bazuca europeia”, “o dinheiro de Bruxelas que ninguém sabe quando chegará”, observa Miranda Sarmento num artigo divulgado pelo Fórum para a Competitividade.

A Hungria e a Polónia estão a bloquear todo o processo, impedindo Portugal de chegar a tempo aos mais de 13 mil milhões de euros em subsídios a fundo perdido.

“Para 2021, há sinais positivos, como a proximidade de uma vacina, mas também muita incerteza. Portugal, com o elevado peso do turismo, deverá ter dificuldade em recuperar, pelo que esperamos um crescimento do PIB entre 1% e 4%”, acrescenta Pedro Braz Teixeira, economista daquele Fórum.