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Radnóti Miklós (1909-1944) poeta húngaro

Radnóti Miklós (1909-1944) poeta húngaro, excelente representante da poesia húngara moderna. Sua poesia é caracterizada pela busca do género puro e pelo renascimento dos géneros tradicionais testados e aprovados. O poeta foi vitima do fascismo. O último poema aqui apresentado foi já escrito na prisão de trabalho forçado.

RECORDAÇÃO
Emlék [Ó, én!]

Oh, eu!
Ainda criança, de saia,
braços no ar, posto
debaixo do céu e
o prado era cheio
de estrelas e joaninhas.
Então, verteu sobre mim
seu olhar um deus!
17 de Março de 1930

PAISAGEM, COM AMANTES
Táj, szeretőkkel

A Szalai Imre

Ainda ontem estava na estação de comboio
com jovens húngaros vindos de Paris,
mas agora vivo já só com uma oscilante
papoila entre os pés e canções
de raparigas, ao longe, no crepuscular
fundo da aldeia, onde se olham só,
longamente, por vezes, sábios
amantes, que se escondem entre abraços, à noite,
nos arbustos, onde asfixia de beijos a rapariga
e a manhã foge para casa no beijo total.

11 de Junho de 1930

FEDERICO GARCÍA LORCA
Federico García Lorca

Porque a Hispânia te amava
e teus versos diziam os amantes –
quando vieram, que mais podiam fazer?
Eras poeta – mataram-nos.
Em armas o povo, agora, combate sem ti,
ei, Federico García!

1937

IL FAUT LAISSER MAISONS ET VERGERS ET JARDINS
Il faut laisser maisons et vergers et jardins

Il faut laisser maisons et vergers et jardins –
é verso de um dos últimos poemas de Ronsard:
digo-o para mim e põe-se a vereda a escutar,
e soltam-se das roseiras pétalas mortas;
pasmam, nus, sonhadores, dois arbustos:
parece que a paisagem sabe um pouco de francês;
il faut laisser – declama pensativo carvalho
e deixa cair uma cansada bolota.
O Sol senta-se nas nuvens; um bode, preso,
branco, barbudo, dá voltas
e patinha nos charcos do prado;
passa no céu o V de um bando de aves
e, às vezes, dilui-se no lento crepúsculo;
cai, na folhagem rara, véu de chuva fresca,
il faut laisser – sussurra; está sob a terra Ronsard,
e teu frágil suor, não temas, há-de também gelar.

[7 de Outubro de 1938]

Traduções de Ernesto Rodrigues

RAZGLEDNICA (4)
Razglednica (4)

Caí sobre ele, e seu corpo rolou,
Rígido como um fio que vai quebrar.
Um tiro na nuca – Assim vais acabar tu, também –
Murmurei comigo -, deixa-te ficar, tranquilo.
Agora a paciência floresce em morte.
Der springt noch auf – ouvi sobre mim.
Na minha orelha secava sangue misturado com lama.

31 de Outubro de 1944, Szentkirályszabadja