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Podemos Salvar a Serra d’Arga?

No sábado passado, fiz algo que raramente faço: juntei-me com mais 1,500 pessoas numa manifestação, em Viana do Castelo. O motivo? Foi um protesto contra as minas de lítio que estão propostas em várias partes de Portugal, mas concretamente no nosso caso na Serra d’Arga – a serra que se vê em quase todo lado no Alto Minho, incluso da aldeia onde moro, a serra onde caminho nos fins de semana, normalmente sem ver ninguém, e por isso a serra que considero como ‘a minha’. Além de alguns pastores com ovelhas ou cabras, ou alguns apicultores, e nos domingos um punhado de rapazes em motos, tenho a serra só para mim, o que é um grande privilégio hoje em dia. Muitas vezes vou até o Cabeço do Meio Dia (na foto), um monte não muito alto, mas com vistas espectaculares. Desde o cume, vejo a maior parte do Alto Minho, e uma boa parte de Galiza também, mais o mar e o Rio Minho.

Mas infelizmente há pessoas que querem destruir o nosso paraíso. O governo português acaba de anunciar que já está a convidar propostas de companhias mineiras, apesar dos estudos ambientais não terem sido feitos ainda – o que é ilegal, para não falar em imoral e idiota. Para quê? Porque pelos vistos, embora ninguém saiba concretamente, há reservas grandes de lítio na serra sagrada, e o governo pensa que este mineral vai ser o novo ouro, com a importância crescente de transportes elétricos previstos no futuro. O argumento é que a exploração será benéfica tanto para a economia como para o ambiente. O problema é que estão errados em ambos os casos.

Primeiro, a economia. Já sabemos que nenhum benefício económico resultará para a gente local. Como sabemos? Porque nunca os benefícios económicos ficam com a gente trabalhadora. Será muito bom, talvez, para os chineses ou os australianos que eventualmente ganharem o contrato. Será muito bom provavelmente para os politicos corruptos que aceitaram os subornos oferecidos pelas companhias de minas. Mas quanto ao povo, é óbvio que não servirá para nada, senão estragar os pastos, envenenar as águas, e demolir as suas casas e terrenos. Nem sequer terão a possibilidade de encontrar trabalho. O mineirismo é um trabalho difícil que requer empregados treinados, que as companhias vão trazer de fora, quase de certeza de fora do país. Os ricos de Shanghai vão ficar mais ricos aindas, e Xi Jinping vai ficar mais poderoso ainda, porque controlará uma boa porção dos recursos necesários para produzir baterias para os vehículos elétricos do mundo inteiro.

Mas quanto ao ambiente, seguramente a produção do lítio é esencial para reduzir o impacto dos combustíveis fósseis, certo? De facto, não. Muitos peritos pensam que os danos feitos na extracção do lítio são superiores aos danos feitos por vehículos que usam a gasolina. Em média, é preciso usar um carro elétrico durante sete anos para começar a ver os beneficios, em termos de poupança de energia. E quantos portugueses têm o dinheiro para comprar um carro elétrico? Muito poucos. Portugal não é a Noruega. Digamos 10%, no máximo. E essas pessoas vão se contentar a conduzir o mesmo carro durante sete anos? Nem pensar! Hoje em dia a maior parte das pessoas mais prósperas já não compram o carro, senão alugam ao longo prazo, o ‘leasing’. E mudam muito regularmente; querem ter um carro sempre novo. Portanto os estragos ao património cultural e natural do Minho nem sequer terão uma compensação ecológica. Um dos sítios mais lindos e mais caracteristícos do país vai desaparecer, só para enriquecer uns tantos estrangeiros e politicos. E eu, que contava em ficar cá até falecer, terei de fugir para outro sítio qualquer. A não ser que os nossos protestos resultem…