João Miguel Henriques acaba de publicar, com chancela da editora Enfermaria 6, um novo livro de poesia, que traz o título “Panónia”, uma seleção de poemas escritos ao longo destes dez anos por paragens húngaras.
João Miguel Henriques (Cascais, 1978) é poeta, tradutor e professor de língua e literatura portuguesa. Publicou os livros O Sopro da Tartaruga (2005), Também a Memória é Algum Conhecimento (2009), Entulho (2010), Isso Passa (2012), Fonte Breve (2015) e Incêndios (2016), além de outros textos dispersos por várias revistas e publicações online. Vive atualmente na Hungria, onde leciona na Universidade ELTE de Budapeste, dirigindo igualmente o Instituto Camões na Hungria.
Todas as informações sobre o livro aqui:
https://enfermaria6.squarespace.com/joo-miguel-henriques-pannia
3 Poemas de João Miguel Henriques
São Martinho
leva-os pelo caminho do santo
pela vereda do peregrino
diz-lhes do viço e da ventura
do jugo e da longa jornada
assinala na terra ensopada
pegadas de porco e de cervo
e fá-los deslizar dedos por sebes
cabelos e pontas de dedos
por ramos e folhas de sebes
diante já do cotovelo
onde a estrada dobra para a floresta
fá-los reparar nesse estandarte
de são martinho, branco e amarelo
que um dia arranquei ao teu vestido
Hotel Sarajevo
tu devias-me uma tragédia
e eu fiz-ta pagar em incêndios
faculdade de direito
junto à estátua do cavalo
a polícia anda à nossa procura
e o dia ameaça a denúncia
as fronteiras estão todas fechadas
o povo exige a nossa cabeça
quero esconder-nos numa viela
na cave esconsa do taberneiro
mas não há ruas para o teu corpo
tu já sequer cabes no mundo
por isso pagaste a tragédia com fogo
ateado na ponta dos dedos
tudo isto, claro está, noutra cidade
que não a colónia massacrada
Letra
atenta, a letra
de lenta curva
já curvilínea
vem lembrar-me que existe
que ainda corre
e se apresenta:
abrigo para a ira do dia
salvação para a tormenta
Fonte: Enfermaria 6