Por ti
Por ti espero naquela roça grande
no perfume do izaquente
no sopro do vento irrequieto
no riso da montanha misteriosa.
Por ti espero junto ao secador
que meu avô ajudou a construir
e o cheiro do cacau
invade o corpo
que acalenta a esperança
de rever-te.
Espero sentada
no caminho que vai até à Grota
e serpenteio
a estrada de Belém onde as fruteiras
espreitam o sol
e o vianteiro.
Por ti espero
na calma do poente
entre a ânsia
e o amor que me consome.
A tarde vai caindo e nostalgicamente
arrastando o meu dilúvio de ternura.
Por ti espero ainda
no breu da noite imensa
na raiva que a paixão derrama e sangra
e é o tam-tam da madrugada que me obriga
a apagar da memória
a tua imagem
Olinda Beja nasceu em S. Tomé e Príncipe (1946), na cidade de Guadalupe. Com quase 3 anos de idade é enviada para Portugal (Mangualde, Beira Alta). Em Portugal estudou e obteve o Diploma Superior dos Altos Estudos Franceses da Alliance Française e, mais tarde, a Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas (Português/Francês) pela Universidade do Porto. Fez ainda o Curso de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa (LALP) pela Universidade Aberta. Na Suíça, onde foi professora durante dez anos, fez outros cursos inerentes à sua profissão docente e literária.
Aos 37 anos redescobre a sua ilha natal e dedica-lhe as suas obras. A partir de 1992 publicou: Bô Tendê? (poemas); Leve, Leve (poemas); 15 Dias de Regresso (romance); No País do Tchiloli, (poemas); A Pedra de Vila Nova (romance); Pingos de Chuva (conto); Quebra-Mar (poemas); A Ilha de Izunari (romance); Pé-de-perfume (contos); Água Crioula (poemas); Aromas de Cajamanga (poemas), Histórias da Gravana (contos); O Cruzeiro do Sul (poemas); A Casa do Pastor (contos); Um Grão de Café (conto infantil); À Sombra do Oká (poemas); Tomé Bombom (conto juvenil); Chá do Príncipe (contos).
Em 2005 e 2007 é-lhe atribuída (como prémio) uma Bolsa de Criação Literária para escrever as obras Pé-de-Perfume e Histórias da Gravana. Em 2012 é nomeada para o prémio PT Literatura, tendo sido finalista com a obra Histórias da Gravana. Em 2013 recebe o Prémio Literário Francisco José Tenreiro com o livro À Sombra do Ôká (poemas).
Olinda Beja tem trabalhos publicados na Alemanha (Universidade de Frankfurt e de Berlim), sobre a língua materna de S. Tomé, bem como poemas dispersos em revistas nacionais e estrangeiras, em livros didácticos dos Ministérios Português e Francês da Educação e em diversas antologias.
Poeta, romancista, contadora de histórias, Olinda Beja tem divulgado, através de conferências e recitais de poesia, a cultura de S. Tomé e Príncipe por vários países nomeadamente Brasil, Austrália, Timor, França, Espanha, Suíça, Inglaterra, Luxemburgo e Cabo Verde. Tem poemas e contos traduzidos para espanhol, francês, inglês, chinês (mandarim), árabe e esperanto. É membro da UNEAS (União dos Escritores e Artistas de S. Tomé e Príncipe) desde 1992.