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O Jardim do Feiticeiro: Géza Csáth (1887-1919)

Dois jovens altos e esguios saíram para a praça em frente da estação. Reconheci-os de imediato:

– Os irmãos Vass!

Fomos juntos ao centro da cidade. Aquela suave tarde de junho deu-me uma sensação muito agradável. No liceu, éramos inseparáveis. Não os via desde o liceu, ainda não há quatro anos. Estudavam no estrangeiro. Ficaram muito contentes em rever-me.

Os seus rostos ainda não tinham adquirido feições masculinas definidas. Tinham narizes finos e olhos vivos, típicos de pessoas inteligentes. Nos seus modos havia a mesma generosidade e simpatia dos homens do mundo que os tornava tão invulgares no liceu, e mesmo assim todos nós gostávamos deles.

Caminhávamos ao longo da rua e da praça principal a passo estugado. Estavam com pressa. Duas horas depois, deveriam de continuar viagem.

– “A verdade é que só viemos para visitar o jardim do feiticeiro”, disse o irmão mais velho.

– “O jardim do feiticeiro? Onde fica?”,  perguntei eu.

– Mil preceitos há que nos ensinam. Claro que, naquela altura, não falávamos disso a ninguém. Vais ver. Vens connosco, não vens? Não é longe daqui…

A partir da praça principal seguimos até à igreja. Atravessámos o parque. O nosso antigo professor de religião estava sentado no seu antigo banco, imerso na leitura de um livro.

Cumprimentámo-lo, e ele gentilmente retribuiu. Depois contornámos a igreja. Os rapazes conduziram-me a um beco, cuja existência, até esse momento, eu desconhecia de todo. A viela era estreita, com cerca de duzentos passos; curioso, nunca tinha visto casas assim na cidade.

Eram baixas e disformes, e havia qualquer coisa de singelo gosto nas curvaturas das  janelas e no entalhe das suas portas. Nos passeios das ruelas, avistavam-se homens velhos e mulheres pálidas sentados em bancos, de cara triste, e raparigas pequenas varriam e borrifavam a calçada. Nada mais havia que merecesse ser visto.

Parámos em frente da última casa. Ou melhor, em frente da vedação, porque não se podia ver a casa. Era uma cerca de madeira descolorida: as ripas estavam tão juntas e apertadas que era impossível colocar uma mão entre elas, e era necessário aproximar-nos muito para ver o que estava por detrás.

Um cheiro inebriante abatia-se sobre nós. Atrás da vedação havia um jardim, não maior do que uma pequena sala. O solo tinha sido levantado com terra até à altura das nossas ancas. Todo o jardim estava plantado, em maciço e em sebe florida.

Tinha uma flora peculiar. Flores com caules longos, em forma de cornetas, cujas pétalas pareciam ser de veludo negro. Num dos cantos estava um canteiro cheio de lírios brancos com cálices gigantes. Espalhadas por todo o lado viam-se flores de haste branca e baixa, que tinham apenas uma pétala vermelho-pálido. Parecia ser de onde emanava aquele cheiro adocicado desconhecido, que, quando inalado, parecia cortar a respiração. No meio do jardim havia uma leira de vigorosas flores roxas. As suas pétalas carnudas de brilho sedoso prostravam-se desde há muito até à erva verde e crispada. Aquele pequeno jardim mágico assemelhava-se a um caleidoscópio. Mesmo à minha frente cresciam as flores violetas dos lírios. Ao seu aroma inebriante misturava-se o perfume de centenas de flores, desafiando-nos a ver e a distinguir as mil e uma tonalidades do arco-íris.

No fundo do jardim, em frente à vedação, estava uma pequena casa de campo. As suas duas janelas com ferrolho verde encontravam-se ao nível térreo. Nenhuma porta era visível. O telhado fechava-se imediatamente por cima das janelas. Deve ter existido ali um grande sótão. Em frente das janelas descobri cravos azuis. Olhámos silenciosamente durante pelo menos quatro minutos para aquele mundo mágico, de não mais de meio are.

– “Vejam, este é o jardim do feiticeiro”, disse o mais novo dos Vass.

– “E naquela casa vive o feiticeiro”, continuou o outro.

– “E ali vivem os ladrões”, disse o mais novo.

– “Quem?” perguntei eu.

– Os malfeitores, os discípulos do feiticeiro e os seus servos.

– Saem para roubar na cidade, mais ou menos por esta hora, por túneis subterrâneos. Sobem às águas-furtadas da igreja e descem pela corda da torre. Sob as suas capas castanhas, escondem pequenas lanternas, e penduradas nos seus cintos, carregam máscaras, adagas e alferças.

– Entram sorrateiramente nas casas pelas janelas. Numa questão de momentos entram, com os seus pequenos alviões nos quartos, através das janelas às escuras que alguém deixara abertas.

– Depois escondem-se artificiosamente nos armários.

– Ninguém se apercebe que estão lá dentro, escondidos entre as roupas e os caixotes. Acendem as suas pequenas lanternas e esperam em silêncio.

– Esperam até que todos se deitem e depois saem pé ante pé, dirigem-se aos quartos, forçam as fechaduras e degolam as crianças, espetando as adagas no coração dos progenitores.

– Depois, levam as joias roubadas ao feiticeiro.

Os dois rapazes pareciam estar a recitar um velho poema há muito esquecido enquanto contavam os segredos do coio do feiticeiro. Entretanto, continuámos a olhar para o jardim.

– “Podes imaginar agora o que está lá dentro?” perguntou o rapaz mais novo.

O seu irmão respondeu por mim:

– “Aqui, atrás da janela fechada, fica o dormitório dos ladrões. É um casebre baixo, de paredes sem reboco. Uma lâmpada cintila na parede e no chão há seis colchões de palha à direita e seis à esquerda. De um lado, dormem seis ladrões, amontoados juntos; nem se consegue ver as suas caras.

– Do outro lado, as seis camas estão vazias.

–  Nesta altura já os bandidos devem ter saído pelos subterrâneos para os seus cruentos.

– Quando acordam, saem dos quartos em posição agachada, com as pernas fletidas e apoiados ou quase sentados sobre os calcanhares, pois é impossível ficar de pé naquele lugar tão baixo.

– Então, o feiticeiro dá-lhes de comer. Os seus olhos negros e maus parecem dizer: comam e tragam-me muitos tesouros de ouro e prata.

– Os malfeitores alimentam-se de sapos e lagartos frescos, e devoram com deleite abelhas anosas, que, tal como a compota, são guardadas em frascos, no celário do feiticeiro.

– Logo depois põem-se em marcha. O feiticeiro acende e encaixa a vela de cêra num castiçal de caveira, e mantém-se vigilante na alcova. Fica de atalaia, para que nada de mal lhes aconteça.

– Os cães e as crianças, entretanto, já dormem.

– E quando a leste o céu começa a escurecer, deita-se no jardim.

– É então que as flores se transformam em raparigas. E ele chafurda entre as flores…

– Mal os malfeitores chegam a casa, o feiticeiro recolhe o saque, esconde-o nos celários subterrâneos, e de imediato vão todos dormir. E assim é, até à noite seguinte. A casa permanece em silêncio, vazia.

– Nenhum dos vizinhos sabe quem vive aqui….

Ficámos mudos e quedos, a olhar para o jardim do feiticeiro durante alguns minutos, quando de repente um dos irmãos Vass olhou para o relógio.

– “Dentro de vinte e cinco minutos parte o comboio ,” disse, suspirando levemente.

– “Temos de ir andando”, respondeu o outro.

A Oriente, já se avistavam estrelas no céu. Na rua havia um silêncio como o de um cemitério; não havia uma alma na rua para além deles.

Calmamente, fomos andando pelas vielas. Os irmãos Vass olharam em frente, distraídos.  Atravessámos o parque e saímos ao pé da igreja.

Na fonte, havia três raparigas a bosquejar desenhos na água. Riam alegremente, eram bonitas. Os dois rapazes sorriram-lhes com os olhos.

O perfume avassalador das flores do feiticeiro desvanecia-se.

Um coche passou por ali. Pararam-no com um assobio.

Ouviu-se estalar o chicote do cocheiro a espicaçar os cavalos, para que estes galopassem em direção à rua principal, iluminada por um relâmpago.

Géza Csáth (1887-1919)

Géza Csáth (pseudónimo de József Brenner), nasceu em 1887 perto de Szabadka, no sul da Hungria e era primo direito do poeta e escritor Dezső Kosztolányi. Aos dezoito anos de idade publicou o seu primeiro conto numa prestigiada revista literária. Era pintor e violinista apaixonado, mas acabou por decidir estudar medicina, e ao mesmo tempo continuou a publicar em revistas literárias. O seu primeiro volume de contos, “O Jardim do Feiticeiro” (A Varázsló Kertje), foi publicado em 1908. “Diário de uma Mulher Insana” é a primeira análise completa de um caso de paranoia. As suas histórias refletem também a influência da psicanálise vienense precoce, largamente influenciadas pelos estudos de Freud e pelos dramas que viveu desde a Primeira Guerra Mundial. Tornou-se ginecologista e psiquiatra, mas a sua maior ambição era escrever. Publicou pequenas histórias, críticas musicais importantes, estudos sobre evolução e dramas. A sua dependência do ópio começou em 1910, quando lhe foi erroneamente diagnosticada tuberculose. Os seus Diários relatam a sua luta contra a toxicodependência. Trabalhou em várias estâncias termais e até que a morfina o destruiu completamente, continuou a publicar em jornais e revistas. Casou com Olga Jónás, que matou em 1919 num ataque de paranoia, devido ao consumo de drogas. Foi internado num hospital do qual escapou e tentou regressar à Hungria, atravessando a linha de demarcação. Quando foi preso, bebeu o veneno que transportava consigo.

 A VARÁZSLÓ KERTJE

A pályaudvar kapuján két magas termetű, nyúlánk fiatalember lépett ki az állomás előtti térre. A következő pillanatban megismertem őket.
– A Vass fiúk!
Együtt mentünk be a városba. Az enyhe júniusi délutánban valami nagyon kedves érzés volt az. A gimnáziumban elválhatatlanok voltunk. Érettségi óta – 
négy esztendeje – nem láttam őket. Külföldön tanultak. Nagyon megörültek a találkozásnak.

Az arcuk még nem férfiasodott meg végképp. Finom orrukon, a mozgékony, okos szemükön a későn érő, intelligens emberfajták karaktere. Modorukban ugyanaz a világfias szívesség és kedvesség, amely annyira szokatlan volt a gimnáziumban, s mégis mindenkinek tetszett.

Gyalogolva haladtunk végig a főutcán és a főtéren. Siettek. Két óra múlva tovább kellett utazniok.
– Tulajdonképpen csak a varázsló kertjét jöttünk megnézni – szólt az idősebb Vass fiú.
– A varázsló kertjét? Hol van az? 
– kérdeztem.
– Igaz, te ezt nem tudod. Persze, akkor nem mondottuk el senkinek a dolgot. Majd meglátod, eljössz velünk, ugye? Nincs messze…
A főtér felől a templomnak tartottunk. Végighaladtunk a parkon. Az öreg gimnáziumi hittanárunk ott ült a rendes padján, egy könyv olvasásába merülve. Köszöntünk neki. Barátságosan integetett. Azután megkerültük a templomot. A fiúk egy vak utcába vezettek, amelyről eddig semmit sem tudtam. Az utca szűk volt, és körülbelül kétszáz lépés hosszú. Sajátságos! – ilyen házakat, mint itt, sohase láttam a városban. Alacsonyak és kezdetlegesek voltak, de vagy az ablakok hajlásában, vagy a kapuk faragásában és formájában volt valami ósdi. Az utcán padokon és székeken öreg emberek és bánatos arcú, sápadt asszonyok ültek, apró lányok söpörték és öntözték a földet. Kocsikeréknek nyoma se látszott.

Az utolsó ház előtt állapodtunk meg. Azaz – tulajdonképpen ház nem is látszott, csak kerítés. Festetlen, magas fakerítés: olyan sűrű, hogy a kezet rajta bedugni nem lehetett, és egészen közel kellett hajolni, hogy az ember megláthassa, mi van mögötte.
Kábító virágillat csapott meg. A kerítés megett kert volt; nem nagyobb, mint egy kis szoba. A talaja körülbelül a derekunk magasságáig fel volt töltve. És tele az egész kert virággal.

Sajátos növényvilág tenyészett itt. Hosszú szárú, kürt alakú virágok, amelyek szirmai mintha fekete bársonyból volnának. A sarokban liliombokor, óriási kelyhű fehér liliomokkal megrakodva. Mindenütt elszórva alacsony, vékony szárú fehér virágok, amelyeknek egy szirma, csak egy szirma, gyenge piros színű volt. Úgy tetszett, hogy ezek bocsátják azt az ismeretlen, édes illatot, amelyet szagolva az ember azt hiszi, elakad a lélegzete. A kert közepén egy csomó bíborpiros, kövér virág terpeszkedett. Húsos, selymes fényű szirmaik hosszan lógtak le egészen a magasra nőtt haragoszöld színű fűbe. Mint egy kaleidoszkóp, úgy hatott ez a kis csodakert.

Közvetlen előttem a nőszirom lila virágai nyíltak. Százféle virágillat tevődött össze a bódító szagában, s a szivárvány minden színét megtalálhattad a virágok színében.

A kert végében, a kerítéssel szemben egy kis ház gubbaszkodott. Zöld zsalus két ablaka mindjárt a földszint magasságára nyílott. Ajtót nem lehetett látni. A háztető az ablakok felett mindjárt összehajlott. Nagy padlásnak kellett ott lenni. Közvetlenül az ablakok előtt kék szegfűket fedeztem fel. Vagy négy percig némán bámultuk ezt a tíz négyszögméternyi kis csodabirodalmat.
– Látod, ez a varázsló kertje – mondotta a fiatalabb Vass.
– És ott a házban lakik a varázsló – folytatta a másik.
– És ott laknak a rablók is.
– Kicsodák? – kérdeztem.
– A rablók, a varázsló tanítványai és rabszolgái.
– Ők kimennek rabolni a városba. Ilyenkor mennek ki, föld alatti utakon. A templompadláson bukkannak föl, és a toronykötélen ereszkednek le. Barna köpenyük alatt egy kis olajlámpát rejtegetnek, és övükre akasztva álarcot, tőröket, pisztolyokat visznek.
– Csendesen lopóznak be a házakba, vagy az ablakokon másznak be. Kis csákányaikkal pár pillanat alatt felkapaszkodnak az emeletes házak szobáinak nyitva hagyott, sötét ablakain.
– És azután gyorsan a szekrényekbe bújnak.
– Senki, aki a házban lakik, észre nem veszi őket, és akkor már elhelyezkednek a ruhák és skatulyák között. Meggyújtják kis lámpásaikat, és nesztelenül várnak.
– Várnak, míg mindenki le nem fekszik, és akkor kibújnak, végigjárják a szobákat, feltörik a zárakat, levágják a gyerekek fejét, és tőrüket otthagyják az apák szívében.
– És elviszik a kincseiket a varázslónak.
Mintha valami elfeledett, régi verset mondott volna fel a két fiú, úgy mondották el a varázsló barlangjának titkait. Ezalatt folyton néztük a kertet.
– Elképzeled most, mi van ott benn? – kérdezte a fiatalabb Vass.
A bátyja felelt helyettem:
– Itt, a zsalus ablak megett van a rablók hálószobája. Alacsony, vakolt odú. A falon egy lámpás pislog, és jobbra-balra hat-hat szalmazsák a földön. Az egyik oldalon hat rabló alszik, összekuporodva; az arcukat se látni.
– A másik oldalon üres a hat ágy.
– A rablók már a föld alatti utukon elindultak véres munkájukra.
– Amikor fölébrednek, négykézláb másznak ki a szobából, mert az alacsony helyen fölállani lehetetlen.
– A varázsló akkor enni ad nekik. Gonosz, fekete szemével mintha azt mondaná: egyetek, és hozzatok nekem sok kincset, aranyat, ezüstöt.
– A rablók friss békákat és gyíkokat esznek, továbbá több éves cserebogarakat kapnak csemegéül, amelyek, mint befőttek, üvegekben állanak a varázsló kamrájában.
– Azután menniök kell. A varázsló pedig meggyújtja a lámpását, mely egy koponyában van elhelyezve, és virraszt a szobájában. Olvas, őrködik. Nehogy baj érje a rablókat.
– Nehogy felébredjenek a kutyák vagy a gyerekek.
– És mikor keleten szürkülni kezd már az ég, akkor idejön: lefekszik a kertbe.
– És akkor minden virág leánnyá változik. Ő pedig hempereg a virágok között…
– Míg csak haza nem jönnek a rablók, és akkor átveszi a zsákmányt, elrakja a föld alatti raktáraiba, és aludni térnek mindannyian. És egész estig csendes, kihalt a ház.
– A szomszédok közül senki se tudja, hogy ki lakik itt…
Néhány percig szótlanul néztük a varázsló kertjét; akkor az egyik Vass fiú hirtelen megnézte az óráját.
– Huszonöt perc múlva indul a vonatunk – mondotta, és könnyen sóhajtott.
– Mennünk kell – mondta a másik.

A keleti égen már látszottak a csillagok. Az utcában csend volt, mint a temetőben; sehol egy élő lélek kívülünk.
Visszaindultunk. Szótlanul haladtunk a templomig. A két Vass fiú elmélázva nézett maga elé. Megkerültük a parkot. A kútnál három szolgálólány húzta a vizet. Jókedvűen nevettek, csinosak voltak. A két fiú rájuk nevetett.

A varázsló virágainak nyomasztó illata lassanként elszállt a mellükről. Egy bérkocsi haladt arra. Füttyentettek. Mosolyogva búcsúztak, és könnyedén szöktek fel a kocsira. A kocsis a lovak közé csapott. És elrobogtak a villámfényes főutca felé.

 

Tradução: Arnaldo Rivotti