Para lá daquela curva
os espíritos ancestrais me esperam.
Breve, muito breve
tomarei o meu lugar entre os antepassados
À terra deixarei os despojos do meu corpo inútil
as unhas de todos os labores
este invólucro sulcado pela aranha dos dias
Enquanto não falo a voz do nyanga
cada aurora é uma vitória
saúdo-a com o riso irreverente do meu secreto triunfo
Oyo, oyo, vida!
Para lá daquela curva
os espíritos ancestrais me esperam.
Noémia de Sousa (Carolina Noémia Abranches de Sousa) nasceu em 20 de setembro de 1926, no distrito de Catembe, em Moçambique. Mais tarde, em 1951, exilou-se em Lisboa, devido a perseguições políticas sofridas em seu país natal. Nessa época, já tinha escrito a sua obra poética, publicada em 2001 no livro Sangue negro.
A mãe dos poetas moçambicanos, falecida em 4 de dezembro de 2002, em Portugal, produziu textos de teor nacionalista, caracterizados pela composição em versos livres. Neles, prevalece a voz feminina e negra, a qual se empenha em destacar a cultura africana, mas também mostrar os problemas sociais de Moçambique.