A sua estreia poética aconteceu em 1946 com o livro de poemas Kettos világban (‘Num mundo duplicado’). Este ano, juntamente com o marido, fundou a revista literária Újhold (‘Lua Nova’), que só pôde ser publicada até o outono de 1948, mas após a sua proibição, tornou-se um símbolo das aspirações literárias da escritora e da sua geração, continuadora das tradições da revista Nyugat.
Durante os anos da ditadura dura, Nemes Nagy Ágnes só podia publicar como tradutora e escritora de literatura infantil. Ela traduziu principalmente obras de francês e alemão, mas suas antologias incluíam traduções de muitas outras línguas, assim foi ela que fez conhecer Fernando Pessoa ao público húngaro, traduzindo e publicando 4 poemas de Pessoa na revista literária Nagyvilág.
A partir da publicação do seu segundo volume, Szárazvillám (‘Relâmpago Seco’ 1957), ela estava constantemente presente na vida literária, mas sempre se mantinha afastada da política cultural. Publicou relativamente pouco mas sempre de quilate. Saiu um novo livro de poemas suas em 1967, com o título Napforduló (‘Solstício’) e depois mais três livros de poesia, reunindo as suas obras anteriores: Lovak és angyalok (‘Cavalos e Anjos’, 1969), Között (‘Entre’, 1981) e A Föld emlékei (‘As Memórias da Terra’, 1986). Com a sua originalidade e poder poético, ela tornou-se uma figura importante da época e, ao mesmo tempo, inspiradora do desenvolvimento posterior da moderna lírica húngara.
ÁRVORES
Fák
É preciso aprender. As árvores de Inverno.
Geladas até às raízes.
Impassíveis cortinas.
É preciso aprender este risco,
onde fumado se faz o cristal,
e árvore está quase a fazer-se em nevoeiro, qual
o corpo numa lembrança.
E atrás das árvores o rio,
o voo silencioso de selvagens patos,
a brancura cega e azul da noite,
com seus objectos mascarados;
é preciso aprender aqui os
das árvores indizíveis actos.
OS OBJECTOS
A tárgyak
Lá em cima, em cima, os blocos. Na luz do meio-dia. Imóveis.
Felizes os objectos no meu coração.
SOBRE O OBJECTO
A tárgy fölött
Porque a luz sobrevoa qualquer objecto,
As árvores brilham, em auroras boreais,
E sucedem-se, num sem-fim crepuscular,
em coifas de luz, 92 elementos,
cada um na fronte seu duplo trazendo –
creio na ressurreição dos corpos.
LEVAVA ESTÁTUAS
Szobrokat vittem
Levava estátuas no barco,
de rosto poderoso e sem nome.
Levava estátuas no barco,
pra na ilha levantar.
O nariz e a cartilagem da orelha
faziam ângulo de noventa graus,
sem outro sinal particular.
Levava estátuas no barco,
e assim fui naufragar.
LÁZARO
Lázár
Erguendo-se, lento, no ombro esquerdo doíam
os músculos, de uma vida inteira.
Sua morte descolando, qual gaze.
Pois também é difícil ressuscitar.
Traduções de Ernesto Rodrigues