“Love like a Poet”

por Frederico Raposo
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Budapeste, 30 de Novembro de 2021 – Neste dia em 1935 morria Fernando Pessoa.

No outro dia vi algures a seguinte frase: “Love like a poet”, ama como um poeta. Chamou-me logo a atenção e por momentos pensei, que fascinante e interessante frase, como seria melhor o mundo se todos amassem bastante mais, se todos buscassem a beleza em tudo e todos. Mas logo em seguida, vieram-me à cabeça as famosas palavras proferidas pelo Almirante Ackbar: “It´s a trap!”…

Ora, amar como um poeta, é estar constantemente insatisfeito, é andar constantemente à procura da palavra certa. Por exemplo andar dias e dias a pensar que palavra se adequa a uma determinada beleza que se viu ou sentiu num determinado momento, será graça, harmonia, sublime, ou algo tão feio, que só pode mesmo ser belo?  É andar anos com aquele azul das montanhas quando o sol se põe ou nasce, na mente e mesmo assim não o saber definir ainda. É nos apaixonarmos a cada momento, por árvores, flores, cores, pelo mar e a sua maresia, por ideias e pensamentos, e outras vezes por pessoas até. Quase sempre sem ter retorno algum, a não ser o que se exprime e o que se sente e isto muitas vezes traz consigo a solidão da incompreensão e do deslocamento. É curioso reparar que grande parte dos poetas são seres solitários, mesmo os boêmios como Camões, Bocage ou Baudelaire, têm os seus momentos de solidão, de introspecção, momentos em que “rasgam” com a sociedade, que a mim me dá a ideia de uma auto-sabotagem, a fim de atingir ou criar a sua própria tragédia onde em sofrimento podem, “melhor” amar. É que o amor sofrido é bem mais forte, e nos isola do mundo de uma forma que nos permite quase vê-lo como se o estivéssemos a observar de fora.

Este tudo querer ser e amar é o que vai originar o Desassossego, palavra quase exclusiva de Pessoa, mas tão bem aplicada a todo o pequeno e grande poeta que alguma vez viveu ou viverá. Todo o poeta ama em demasia, e é por isso que o que escrevem (pintam, compõem etc.) nos entra de forma tão arrebatadora e clara, por vezes como se sentissem por nós.

Talvez seja melhor que não amemos todos como os poetas. Deixemos este amor para eles, que o usem como espada, como candeia em defesa da humanidade e de tudo o que nos rodeia. A nós cabe-nos escutar, ler, sentir, aprender, e sim, talvez arriscar mais um pouco, seguir parte do seu exemplo. É que se todos amarmos um pouco mais, nem que seja só um pouco, vamos de certo nos afastar deste status quo em que vivemos, onde o amor é cada vez mais raro e onde a Humanidade vai minguando, desaparecendo, dando lugar a uma triste e pobre, sociedade de indivíduos.

 

Frederico Raposo

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