Juhász Gyula (1883–1937)

por Pál Ferenc
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A carreira criativa de Juhász Gyula começou junto com a primeira geração dos autores da revista Nyugat.  Embora nunca tenha sido colaborador da revista, a tradição da história literária húngara o colocou entre os autores desta revista.

Ele nasceu em 1883 em Szeged. Durante toda a  vida teve um amor nostálgico por esta cidade. Vivia entre 1908 e 1811 em Nagyvárad (hoje Oradea), foi envolvido na animada vida intelectual da cidade e participou ativamente da criação da antologia de jovens poetas, A Holnap (O Amanhã, 1908-1909).

Foi em Nagyvárad que conheceu a  sua grande amor e musa, a atriz  Sárvári Anna. A experiência do amor por  Anna, aliás mulher  irresponsável e leviana, foi o determinante da sua poesia (“poemas de Anna”). Foi também nesta cidade que conheceu  Lajos Gulácsy, notável pintor da época, com quem teve amizade até a morte.

Durante os anos da Primeira Grande Guerra  voltou para sua cidade natal e  trabalhou como jornalista para vários jornais locais e envolveu-se na organização da vida literária em Szeged. Após o entusiasmo inicial, ele logo se desiludiu com a guerra, abalado pela experiência do sofrimento e das perdas causadas por ela. Seu pensamento foi fortemente influenciado por ideias de esquerda, e as revoluções de 1918-1919 até o tiraram de sua depressão por um curto período de tempo.

Sua doença  agravou-se  na década de 1920,  fugia às  pessoas e da realidade e  se preparou para o suicídio. Morreu em 1937 em Szeged.

O SILÊNCIO DO TISZA
Tiszai csönd

Grande aranha castanha, noite tece
rede; não mexem os barcos do Tisza.

Harmónica ecoa, num; ao longe,
grilo responde, algures, no silêncio.

Na planície do céu, vaga já lua:
vestem de prata os barcos do Tisza.

Acendem lume lugares do céu,
harmónica ecoa em surdina.

Eu estou sozinho na margem do rio,
barcos do Tisza, companheiros mudos!

Hoje, não chamam longes loquazes;
hoje, sonho aqui, no nosso porto!
1910

ERA AMOR
Szerelem volt

Tão longe, longe, longe, já,
onde alegria e nem ave há,
onde desejo chega deveras,
tão longe, longe, longe espera.

Era amor o seu nome no passado,
na Primavera, noite ou contos de fadas:
ontem, foi inda tormento, grande, puro;
hoje, lembrança; amanhã, cruz na sepultura.
1912

ANNA É ETERNA
Anna örök

Anos correram, vieram, saíste
lentamente da memória, deliu-se
teu retrato no coração, esfumou-se
o contorno dos teus ombros, sumiu-se
a tua voz, e eu não te segui
até ao fundo da selva da vida.
Hoje, digo já teu nome sem medo,
hoje, não tremo já ao teu olhar,
hoje, sei bem, foste uma em mil,
que juventude é louca – oh, porém,
não julgues, querida, que foi em vão,
e que só passou; oh, não julgues, não!
Porque tu vives nas desajeitadas
gravatas, e nas palavras sem nexo,
e em mal formuladas saudações,
e em todas as cartas destruídas,
e em toda a minha vida falhada
vives, e para sempre reinarás. Amen.

 

Traduções de Ernesto Rodrigues

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