Imperdoável (István Örkény)

por Arnaldo Rivotti
image_pdfimage_print

Imperdoável (István Örkény)

 

Dei vinte forints às duas enfermeiras que o colocaram na maca e o levaram para a ambulância. Também na clínica, dei vinte forints a cada um dos enfermeiros, diurno e noturno, e pedi-lhes que tomassem conta dele. Disseram para não me preocupar, que o verificariam de meia em meia hora, mas felizmente o paciente não estava inconsciente. O dia seguinte era domingo, pelo que pude visitá-lo. Ele ainda estava consciente, mas já quase não falava. Ouvi do paciente na outra cama que as enfermeiras não apareceram sequer uma vez, o que não me surpreendeu, porque entre elas tinham cento e sessenta pacientes para cuidar. Os médicos também não o tinham examinado: disseram que o iriam verificar em pormenor na segunda-feira. É sempre esse o caso, disse o vizinho, quando o doente é admitido no sábado ao meio-dia.

Saí para o corredor e procurei uma enfermeira, mas não consegui encontrar nenhuma delas do dia anterior. Depois de muita procura, consegui encontrar a que estava de serviço. Também lhe dei vinte forints, e pedi-lhe que olhasse para o meu pai de vez em quando. Também teria gostado de conhecer o médico. Ainda em casa tinha posto uma nota de cem forints num envelope, mas a enfermeira disse-me que o médico tinha sido chamado à enfermaria das mulheres para uma transfusão. Disse-me para confiar nela, pois falaria com ele. Voltei à enfermaria dos doentes, onde o vizinho me assegurou que o médico de serviço provavelmente não teria tempo para examinar os doentes, pois assim era melhor, escusava de lhe dar o dinheiro. Em qualquer caso, era apenas no dia seguinte que os especialistas viriam, e teriam tempo para cuidar dele.

– Precisa de alguma coisa? – Perguntei.

– Obrigado, não preciso de nada.

– Trouxe-lhe umas maçãs.

– Obrigado, não tenho fome.

Sentei-me à beira da cama por mais uma hora. Gostaria de ter falado com ele, mas não sabia do que falar. Um pouco mais tarde perguntei-lhe se estava com dores. Disse que não. Por isso, também não lhe perguntei mais nada sobre isso. Ficámos em silêncio o tempo todo. A relação entre nós era cordial e reservada, falávamos apenas de factos. Mas os factos que teríamos podido mencionar ontem não tinham hoje qualquer significado. Sobre sentimentos jamais trocámos uma palavra entre nós.

– “Vou andando” – disse eu depois.

– “Vai, filho” – respondeu ele.

– Amanhã irei falar com o médico.

– “Obrigado” – disse ele.

– O especialista só vem pela manhã.

– “Não é assim tão urgente” – disse ele, e o seu olhar acompanhou-me até à porta.

Às sete horas da manhã chamaram-me para me dizerem que ele tinha morrido durante a noite. Quando entrei no 217, já havia outro no seu lugar sobre a cama. O seu vizinho tranquilizou-me, dizendo que ele não sofreu nada, apenas suspirou um pouco e foi o fim. Suspeitei que talvez o vizinho não estivesse a dizer a verdade, porque me ocorreu que no seu lugar eu teria dito a mesma coisa, mas depois tentei convencer-me de que ele não me tinha enganado e que o meu pai tinha de facto morrido sem sofrimento.

Tive de passar por muitas formalidades. No escritório de admissão fui abordado por uma enfermeira, não uma das que vieram de sábado, não a que estava de serviço ontem, mas uma que eu não tinha visto antes, que me entregou o relógio de ouro do meu pai, os seus óculos, a sua carteira, o seu isqueiro e o saco com as maçãs. Dei-lhe vinte forints e continuei a ditar os dados. Então um homem com uma touca de couro abordou-me e ofereceu-se para lavar, rapar e vestir o corpo. Foi ele que o disse, “o corpo”, pelo qual provavelmente pretendia transmitir a sensação de que, embora a pessoa em questão já não estivesse viva, não seria um cadáver completo até que tivesse sido lavado e vestido.

Ainda tinha comigo a centena de forints no envelope. Entreguei-lho. Ele rasgou o envelope, olhou para o seu interior e depois, com um gesto rápido, tirou o boné e nunca mais o pôs na minha presença. Disse que ia organizar tudo muito bem, bastava enviar-lhe um fato e roupa interior limpa, e certamente iria ficar satisfeito. Respondi que viria à tarde com roupa interior e um fato escuro, mas agora queria ir vê-lo.

– Quer ver o corpo? – perguntou, surpreendido.

– Sim, quero vê-lo” – disse eu.

– Seria melhor mais tarde” – aconselhou-me ele.

– “Quero vê-lo agora” – disse eu. Não pude estar ao seu lado quando morreu.

Relutantemente conduziu-me ao necrotério, que se encontrava num edifício separado no centro do parque da clínica. A cave era iluminada por uma lâmpada brilhante e havia escadas de pedra para descer. Ali, no asfalto, ao pé das escadas, o meu pai estava deitado de costas. As suas pernas estavam abertas, os seus braços também, tal como pintam os heróis mortos em telas. Não tinha roupa, e de uma das suas narinas sobressaía um pequeno pedaço de algodão e outro estava colado à sua coxa esquerda. Foi provavelmente onde ele tinha recebido a sua última injeção.

– Agora ainda não se consegue ver nada”, disse o homem com a capa de couro, como se se justificasse a si próprio. Ele ficou ao meu lado, ali na cave gelada, com a cabeça descoberta. Mas terá de ver como vai ser quando eu o vestir.

Eu não disse nada.

– Passou muito tempo doente? – perguntou ele mais tarde.

– “Muito” – disse eu.

– “Eu estou a pensar” – disse ele, “Vou cortar-lhe, um pouco, o cabelo”. Isso ajuda muito.

– “Como queira” – disse eu.

– Posso pentear-lhe o cabelo com uma risca ao lado?

– “Sim” – disse eu.

Caiu em silêncio. Também fiquei calado. Não podia dizer nada, não podia fazer nada, não podia dar dinheiro a mais ninguém. Não podia fazer nada, nem sequer enterrar-me vivo ao seu lado.

 

Trad. Arnaldo Rivotti

Crédito da Foto: Fortepan

 

NINCS BOCSÁNAT

 

Húsz forintot adtam a két ápolónak, akik hordágyra tették, és levitték a mentőautóba. A klinikán is adtam húszat-húszat a nappalos és az éjszakás nővérnek, és megkértem őket, hogy vigyázzanak rá. Azt mondták, hogy ne féljek semmitől, ők fél óránként be-benéznek hozzá, habár szerencsére nem eszméletlen a beteg. Másnap vasárnap volt, bemehettem hozzá látogatóba. Még mindig eszméletén volt, de már alig beszélt. Csak az ágyszomszédjától tudtam meg, hogy az ápolónők feléje sem néznek, ami nem is csoda, mert kettejükre százhetven beteg jut, s ráadásul az orvosok sem nyúltak hozzá, azzal, hogy majd hétfőn alaposan megnézik. Ez mindig így szokott lenni, mondta a szomszéd, amikor szombat délelőtt hoznak be beteget.

Kimentem a folyosóra, és kerestem a nővért, de egyiket sem találtam meg a tegnapiak közül. Nagy nehezen előkerítettem a vasárnapi ügyeletes nővért, neki is adtam húsz forintot, és megkértem, hogy nézzen be időnként az apámhoz. Az orvossal is szerettem volna találkozni, mert egy százforintost még odahaza borítékba ragasztottam, de a nővér azt mondta, hogy az orvost transzfúzióra hívták a női kórterembe, bízzam rá, majd ő szól neki. Visszamentem a betegszobába, ahol a szomszéd megnyugtatott, hogy az inspekciós orvos úgysem ér rá kivizsgálni a beteget, tehát nem is baj, hogy nem tudtam átadni a pénzt. Úgyis csak holnap, amikor majd bejönnek az osztályos orvosok, lesz idejük foglalkozni vele.

– Nincs valamire szükséged? – kérdeztem.

– Köszönöm, nem kell semmi.

– Hoztam néhány almát.

– Köszönöm, nem vagyok éhes.

Még egy óra hosszat ültem az ágya szélén. Szerettem volna beszélgetni vele, de már nem volt miről. Egy idő múlva megkérdeztem, nincsenek-e fájdalmai. Azt mondta, nincsenek. Erről sem kérdezősködhettem többet. Egész idő alatt hallgattunk. Nagyon szemérmes és zárkózott volt köztünk a viszony, mindig csak tényekről beszélgettünk egymással, de azok a tények, melyeket tegnap még szóba hozhattunk, mára eltörpültek, és semmivé váltak. Érzelmekről pedig sohasem esett szó miköztünk.

– Hát akkor megyek – mondtam később.

– Menj csak, fiam – mondta.

– Holnap bejövök, és beszélek az orvossal.

– Köszönöm – mondta.

– Csak reggel jön az osztályos orvos.

– Nem olyan sürgős – mondta, s a tekintete az ajtóig kísért. Reggel hétkor fölhívtak, hogy az éjszaka folyamán meghalt. Amikor beléptem a 217-esbe, már másvalaki feküdt a helyén. Az ágyszomszédja megnyugtatott, hogy nem szenvedett semmit, csak sóhajtott egyet, és vége lett. Gyanítottam, hogy a szomszéd talán nem mondott igazat, mert az jutott eszembe, hogy én is ezt mondtam volna az ő helyében, de aztán igyekeztem elhitetni magammal, hogy a szomszéd mégsem csapott be, és csakugyan fájdalom nélkül halt meg apám.

Nagyon sok formalitást kellett elintézni. A fölvételi irodában odalépett hozzám egy ápolónő, de sem a szombati, sem pedig a tegnapi ügyeletes, hanem egy eddig nem látott nővér, és átadta apám aranyóráját, szemüvegét, pénztárcáját, öngyújtóját és azt a zacskót, amiben az almák voltak. Húsz forintot adtam neki, és tovább diktáltam az adatokat. Ezután egy bőrsapkás férfi lépett hozzám, és ajánlkozott, hogy megmosdatja, megberetválja és felöltözteti a testet. Ő mondta így, hogy a “testet”, amivel bizonyára azt akarta érzékeltetni, a szóban forgó személy nem él ugyan már, de mégsem egészen holttest, amíg mosdatva és öltöztetve nincs.

Nálam volt még a borítékba ragasztott százforintos. Ezt átnyújtottam neki. Fölszakította, belenézett a borítékba, aztán lekapta fejéről a bőrsapkát, és nem is tette többé föl a jelenlétemben. Azt mondta, hogy nagyon szépen el fog rendezni mindent, csak küldjek be ruhát és tiszta fehérneműt, egészen biztosan meg leszek elégedve. Azt válaszoltam, hogy délután behozom a fehérneműt és egy sötét öltönyt, most azonban szeretnék odamenni hozzá.

– Meg akarja nézni a testet? – kérdezte megütődve.

– Meg akarom nézni – mondtam.

– Jobb lenne aztán – tanácsolta.

– Most akarom látni – mondtam. – Nem lehettem mellette, amikor meghalt.

Vonakodva bár, de elvezetett a hullaházba, egy különálló épületbe a klinikakert közepén. Nagyon erős, ernyőtlen villanyégő világította meg a pincét. Betonlépcsőn kellett lemenni, s a betonpadlón, mindjárt a lépcső tövében, hanyatt feküdt az apám. Lába szétvetve, karja kitárva, ahogy csataképeken festik a hősi halottakat. De őrajta nem volt ruha, csak az egyik orrlyukából állt ki egy kis vatta, egy másik pedig a bal combjához volt hozzátapadva. Úgy látszik, ott kapta az utolsó injekciót.

– Most még nem lehet látni semmit – mondta a bőrsapkás mentegetőzve. A jéghideg pincében hajadonfőtt állt mellettem. – De majd akkor tessék megnézni, milyen lesz, ha felöltöztettem.

Nem szóltam semmit.

– Sokáig betegeskedett? – kérdezte később.

– Sokáig – mondtam.

– Arra gondolok – mondta -, hogy egy kicsit lenyírom a haját. Az nagyon sokat tesz.

– Ahogy akarja – mondtam.

– Oldalt választva viselte a haját?

– Oldalt – mondtam.

Elhallgatott. Én is hallgattam. Már nem mondhattam semmit, és nem is tehettem semmit, és pénzt sem adhattam többé senkinek. Azzal sem tudok jóvátenni semmit, ha elevenen mellétemettetem magam.

 

Fordítás: Arnaldo Rivotti

Fotó: Fortepan

 

Também poderá gostar de

O nosso website utiliza cookies para melhorar a sua experiência de navegação. Aceitar Ler Mais

Privacidade