Illyés Gyula (1902—1983) poeta, escritor, dramaturgo, tradutor, redator

por Pál Ferenc
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Illyés Gyula (1902—1983) poeta, escritor, dramaturgo, tradutor, redator. Membro correspondente da Academia das Ciências da Hungria,

Alguns dos seus poemas, publicados na década de 1920, foram concebidos sob a influência da vanguarda. Nunca abraçou totalmente as atitudes do surrealismo e do dadaísmo, sobretudo sentindo-se próximo do modernismo marcado pelo nome de Paul Éluard que proclamava a manifestação livre e espontânea do intelecto poético. Esses primeiros poemas de ritmo solto, mas com um ditado definido, devem ser avaliados como uma abertura poética significativa de Illyés para um mundo poético baseado em associações livres .

Retornando da emigração de Paris, comprometeu-se principalmente com a vanguarda de Kassák Lajos e nas colunas do Dokumentum, junto com seus amigos,  Déry Tibor, Nádass József e Németh Andor,  afastava-se do ideal literário representado pela Nyugat. Contudo, partir de 1928 começou a buscar contatos com a Nyugat e  a sua relação com o círculo de Kassák afrouxou-se. Reconheceu que o seu dever poético é falar sobre o destino da pátria, partindo das tradições literárias húngaras. Devido a isso, ele entrou para o cânone literário como um poeta nacional, e tornou-se um ícone, um poeta e oráculo intocável e estimado nas últimas décadas da sua vida.

AS VOZES DA PAISAGEM
A táj szava

Errando entre mudos vales, puros,
e brilho de águas – dá meio-dia -,
empurro porta; como se mão chaga
tocasse, já recuo; a paisagem
ruge com cinco crianças de fome.

REFLUXO
Apály

Crianças não há, na praça do mercado.
Velhos somente, nas ruas ao lado. . .

Vai voando,
qual aeróstato, toda a aldeia.

A dez metros do solo
balançam, imateriais,
a junta de freguesia, escola,
a igreja, com velhos bois na fachada.

O matadouro foi-se já no ano passado.
A casa do veterinário também ondula.

Lutando com o infinito,
desde o fim dos tempos as margens comendo aqui,
desfila cemitério, silencioso,
suas rugas de espuma cada vez mais parcas
sob a lua,
restos deixando atrás de si,
de ossos, destroços de barcas.

UM ESTRANHO CANIBAL
Különös kannibál

Este ano, que vivi até ao fim,
devorou-me! Ou só me levou consigo?
E para onde? Nosso rasto onde?
De mim que ficou? Era eu, no fundo?
Não me sondo.

Em cada noite, novas e novas
mudanças: em mim, sepultura.

Qual hóspede, em glorioso banquete
– que lindo pôr-do-Sol -,
sento-me educadamente
frente à casa, numa cadeira do jardim,
amigos cultos ao redor

aqui de novo, não é?,
na minha antropofagia diária.

DEPOIS
Azután

Depois, claro, será um ganido,
um roçar, como
cão aos pés do dono,
quando vai já pau enfurecido.

Depois, porque nem
sorri a piedade, nem assim,
deitado fico, altivamente, príncipe
num gelado desdém.

Traduções de Ernesto Rodrigues

 

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