Guilherme de Faria (Portugal)

por João Miguel Henriques
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Soneto da minha ânsia

Subir! Subir! Subir! – Eis o ideal
Único desta vida de imperfeito!
Quero subir, meu Deus, tenho o direito
De subir! Que, em minha alma de Imortal,

Sinto, às vezes, dourada e triunfal,
Uma luz singular! E sou perfeito
Embora sinta o Mar dentro do peito!
Sou divino, supremo e desigual!

Então ulula o vento da loucura…
E a voz eterna e clara da Aventura
Chama por mim, gritando, sem cessar…

Subir! Subir! Subir! Hei-de subir!
Que, em minha alma, Senhor!, ’stou já a sentir
Uma sombra de génio a perpassar!

 

Guilherme de Faria nasceu em Guimarães, em 1907. Em 1919 mudou-se com a família para Lisboa, onde publicou sete livros de poesia, foi editor de Teixeira de Pascoaes e se relacionou com os mais importantes literatos e artistas do seu tempo. Suicidou-se em 1929. A sua vida, à luz de um epistolário humaníssimo e comovente, e do testemunho dos seus contemporâneos, revela-se um acontecimento tão intenso quanto fugaz. Tradicionalista monárquico, Guilherme de Faria foi partidário do Integralismo Lusitano, mas foi como poeta que se realizou, concebendo um raro universo poético, profundamente idiossincrático e povoado por espectros de poetas e poéticas. Guilherme de Faria, apesar de esquecido, é um dos mais notáveis poetas neo-românticos lusitanistas. Tendo morrido com apenas 21 anos, deixou uma obra que se situa na melhor tradição lírica da poesia portuguesa.

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