Que na corte dos reis de Portugal se falasse castelhano, francês, inglês, italiano e português.. pode dizer-se que até seria normal, mas que se falasse húngaro, seria muito improvável, para não se dizer impossível …a não que houvesse magyar na corte…
Em 1836, a Rainha D. Maria II de Portugal, casou-se com Fernando II. Marido e Rei Consorte de Portugal, Fernando nasceu em Viena a 29 de outubro de 1816 e faleceu em Lisboa, a 15 de dezembro de 1885.
Era o filho mais velho do príncipe Fernando de Saxe-Coburgo-Gota e de sua esposa, húngara Maria Antónia de Koháry, princesa que nasceu em Buda (antiga capital da Hungria) em 2 de julho de 1797 (viria a falecer em Viena a 25 de setembro de 1862).
Devido a morte prematura do seu irmão mais velho (com apenas 2 anos), Maria Antónia tornou-se a única herdeira da Casa de Koháry, uma das famílias aristocratas mais ricas e poderosas, não só da Hungria, mas também da Europa.
Aliás, a riqueza, a exuberância pode ser constatada com o casamento dos pais de Fernando II que foi celebrado de forma faustosa. Nunca antes Viena vira um casamento tão ostentoso. As festividades duraram 9 dias, animadas por um orquestra de 790 ciganos que tocaram ininterruptamente canções do folclore húngaro.
Com a morte de seu pai, o príncipe Francisco José em 1826, Maria Antónia herdou toda a sua fortuna, tornando-a uma das mulheres mais ricas da Europa. Se fosse hoje, estaria certamente nos lugares do pódio dos europeus + (mais) ricos, segundo o ranking, anualmente atualizado, da revista Forbes…
Por falar em dinheiro, talvez não seja descabido o que vários estudiosos têm dito ao longo dos tempos… que houve (muito) dinheiro húngaro na construção do Palácio (Nacional) da Pena em Sintra, uma das obras primas deixadas a Portugal e aos portugueses por D. Fernando II, que pela parte da mãe, era húngaro, a sua origem era metade “magyar”.
Quem era afinal D. Fernando?
Permitam-me recorrer a quem sabe…
Maria Antónia Lopes, Faculdadede Letras e Centro de História da Sociedade e da Cultura da Universidade de Coimbra com 2 excertos selecionados pelo LMn. Sociabilidades dinásticas oitocentistas: o rei D. Fernando II (1816-1885) e a sua rede familiar europeia
”Na sua viagem para Portugal, em 1836, já casado com D. Maria II por procuração, D. Fernando, o pai e o irmão Augusto passaram um mês em Bruxelas com o tio e irmão Leopoldo, visitaram a corte de Paris, onde conviveram com os Orleães, e seguiram depois para Londres. Foi então que os jovens conheceram a prima Vitória, herdeira do trono inglês. A princesa, que vivia muito isolada e sem companheiros da sua idade, descobriu com os primos austro-húngaros que o convívio podia ser descontração e alegria. Neste ambiente de requinte e diversão, D. Fernando, com 19 anos, expandiu a sua faceta jovial, que comunicava a todos, e preencheu os dias e o pensamento da prima – o que transborda no seu diário, onde Fernando é alvo de apreciações constantes e entusiastas, bem reveladoras da personalidade inteligente, culta, desenvolta e folgazã do novo príncipe de Portugal” e
’’Sendo uma linhagem de origem saxónica, mas que atravessara fronteiras, a língua nativa dos seus membros já não era só o alemão, caso de Vitória de Inglaterra na geração de D. Fernando e de muitos outros na geração seguinte. Mas o alemão era aprendido por todos, tal como o francês, obviamente, a língua internacional da época. Assim, a correspondência e as conversas de D. Fernando com a sua família tanto podiam ser em alemão, como francês, português ou ainda húngaro, idioma que a sua parentela materna usava a par do alemão. D. Fernando era fluente em todas e entendia e falava razoavelmente inglês, castelhano e italiano.
Fernando era como está acima escrito, um homem europeu, uma personalidade da sua época. um aristocrata culto, inteligente, visionário e empreendedor.
Sim. Na corte da Rainha D. Maria II de Portugal havia quem falasse “magyarul”!
Köszönöm D. Fernando II. Muito obrigado!
Nota: Com amigos especialistas, mais tarde voltaremos a abordar D. Fernando. O Palácio da Pena em Sintra, entre outros obras que ficaram para os vindouros, ligadas ao ”Principe Húngaro”, assim o exige.
Links consultados:
https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/27188/1/Lopes,%20Maria%20Ant%C3%B3nia.Sociabilidades%20din%C3%A1sticas%20oitocentistas.pdf
Crédito das imagens:
ncultura.pt e
Assembleia Municipal de Sintra