Eugénio de Andrade (Portugal)

por João Miguel Henriques
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As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
Orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

 

 Ti szavak

 

Olyanok vagytok, mint egy kristály,
ti szavak.
Néhányotok tőr,
egy másik lángolás.
Mások
alig egy csepp harmat.

Titokban jöttök, csupa emlék.
bizonytalan imbolyogtok:
csónak vagy csók,
beleborzongnak a vizek.

Cserbenhagyottak, ártatlanok,
könnyűek.
Fényből vagytok szőve
és éjszakából.
És éppen ilyen halványak
zöldek paradicsomiak emlegetnek még.

Ki hallgat rátok? Kicsoda
gyűjt össze, így,
nyersen, torzón,
tiszta kagylóhéjatokba zárva?

 

(Mohácsi Árpád fordítása)

 

Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, nasceu a 19 de janeiro de 1923 no Fundão. Manteve sempre uma postura de independência relativamente aos vários movimentos literários com que a sua obra coexistiu ao longo de mais de cinquenta anos de atividade poética. Revelou-se em 1948, com As Mãos e os Frutos, a que se seguiria, em 1950, Os Amantes sem Dinheiro. Os seus livros foram traduzidos em muitos países e ao longo da sua vida foi distinguido com inúmeros prémios, entre eles o Prémio Camões, em 2001. Morreu a 13 de junho de 2005 no Porto, cidade que o acolheu mais de metade da sua vida.

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