Ernesto Sampaio (Portugal)

por João Miguel Henriques
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Tão pouco

Sondar
a linguagem das trevas
dormir
na neve dos limites
atravessar
flores distraídas

Decifrar
numa pedra fria
letras a arder
entrar
em comboios remotos
no olho gigante
das estações do fim do mundo

Ser
um sinal
lançado ao acaso na noite
deixar
noutra boca
o gosto de uma ausência

Temos tão pouco tempo
tão pouco sonho
tão pouco

 

Ernesto Sampaio (Lisboa, 1935 – Lisboa, 2001) foi poeta, tradutor, bibliotecário, jornalista, actor e professor do ensino secundário português. Foi um dos grandes teóricos e exegetas do surrealismo. Apesar de pouco conhecido dos leitores, é um nome indispensável para o conhecimento das margens da literatura portuguesa contemporânea, ao lado de Mário Cesariny, Herberto Helder ou António Maria Lisboa. Como jornalista trabalhou nas redacções do Diário de Notícias e, de 1980 até à sua extinção, no vespertino Diário de Lisboa. Por altura da sua morte, colaborava no suplemento «Mil Folhas», do Público, onde exercia a função de crítico teatral. Foi tradutor de Artaud, Éluard, Breton, Péret, Arrabal, Ionesco, Thomas Bernhard, Arthur Adamov, Walter Benjamin, Oscar Wilde, Eliot, etc. Era marido da actriz Fernanda Alves, a quem sobreviveu apenas um ano e cuja morte lhe inspirou o seu último livro Fernanda.

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