Csoóri Sándor (1930-2016) poeta e ensaísta húngaro

por Pál Ferenc
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Os seus primeiros poemas apareceram em 1953, atraindo muita atenção para o seu tom crítico da era Rákosi. Nestes e no seu primeiro volume (Felröppen a madár, 1954), ele seguia ainda, na sua maioria, a vida pública realista de Petőfi. A sua poesia floresceu realmente nos anos sessenta. Tornou-se um dos mais proeminentes representantes da oposição da era Kádár. Nos anos 70, a sua poesia tinha desenvolvido um carácter distintivo, cujas características principais são o brilho metafísico das suas imagens, uma série de associações inesperadas e surpreendentes, um tom pessoal como marca de autenticidade e um compromisso com a comunidade. Um estudioso dele, Görömbei András diz assim “O seu maior mérito como poeta na história da literatura é ter levado avante com individualidade inconfundível a linha principal da nossa poesia, que os seus antecessores e contemporâneos, de Bálint Balassi a László Nagy, tinham criado”.

Nos seus ensaios, ele usa tanto uma abordagem pictórica como uma abordagem lógica. Desde o início da década de 1960, escreveu e publicou centenas de retratos literários, obras sobre folclore e história, ensaios sobre o nosso destino nacional e ensaios sobre acontecimentos da sua própria vida. Seguindo os passos de László Németh e Gyula Illyés, criou uma das melhores realizações da escrita de ensaios húngaros: “Os ensaios de Csoóri são a base para aprofundar e enriquecer o auto-conhecimento nacional húngaro”.

ADEUS A CUBA

Búcsú Kubától

Olhei para trás
e onde já estavas tu, ilha!
As folhas das palmeiras, como pássaros mergulhando na água,
ali ficavam
ao sol,
e teus botes cor de breu, quais
decrépitos cavalos das águas.
Soltou-se mão ao mar do horizonte –
eu esperava que corresse atrás de mim,
mas só voltado para mim seu rosto ardia.
Eu estava escuro e rígido pela despedida,
como negras esculturas de madeira.
Sabia que para sempre me expulsava Verão à escala do mundo,
e me esperava Europa com vinte e oito graus glaciais,
com dez mil toneladas de fuligem,
com nevoeiros que diluem o olhar,
com ruas que, túneis de estalactites,
não levam a nenhum lado,
e esperavam-me os sorrisos cultos de há dois mil anos,
os princípios trocados em publicidade,
as palavras apaziguadoras,
como “não se pode”,
como “não é possível”,
nas câmaras ardentes dos cafés, meus amigos
amortalhados em fumo dos cigarros.
Por tuas mulheres e teu sol
fiz-me traidor à pátria.
Por tua audácia cega, ainda, criança,
para quem todas as lutas de libertação na Terra
já terminaram na imaginação,
traz camisa desabotoada
e não se treina mais para a guerra,
só para o amor.
Tuas laranjas, como obuses do Verão,
caem aqui, à minha beira.

O ESTRANGEIRO

Az idegen

Alguém chega, bate, pede um quarto,
mas, qual o homem-robot, só pode sorrir ao puxador da porta,
no amarelo florido da antena do quarto.
Resmungo-lhe: desculpe, acaba de nos morrer alguém,
gostaríamos de passar a noite com ele, em silêncio,
e falar-lhe, com pão e vinho ao lado,
e, juntos, sermos esses sons da floresta, que ele ouvia.
Saúda com a cabeça, mas permanece estrangeiro no centro do meu luto,
embora também ele nascesse da Terra.

Tradução de Ernesto Rodrigues

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