Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro, foi no passado recente, um nome que andou pelas bocas do mundo, mas não pelos seus golos ou recordes batidos, mas por aquilo que foi a sua (inexistente) presença no Mundial de Futebol do Qatar.
Escrever sobre Cristiano, durante o Mundial, seria sempre atirar “mais lenha para a fogueira”, uma fogueira que já por si só era difícil de apagar. Não ganhando ou perdendo nada em falar do assunto, pretendo apenas dar uma opinião sobre a pintura, meia “borrada” que foi toda a sua época desportiva até ao momento e, de quem é a culpa de tudo o que aconteceu à sua volta.
Não comecei por ser fã de CR7, passei a sê-lo, e agora sou um pouco menos. Aprendi como adepto e português a criticar a sua postura de jovem arrogante, a admirá-lo aquando da maturação da sua personalidade e que evoluiu para uma mentalidade lionesca de foco e obstinação em ser o melhor a cada jogo e de quebrar todos os recordes existentes. A sua disciplina e dedicação superavam qualquer talento natural que pudesse ter (e tinha!). A sua ascensão como um dos melhores jogadores do mundo era inevitável. Mas essa “indústria” responsável pelo seu endeusamento naquela época é a mesma que agora contribuiu para a sua menorização e crítica. E foi isto mesmo que aconteceu: quem tanto vangloriou e idolatrou os feitos de Cristiano Ronaldo, é agora seu acérrimo crítico. E de quem é a culpa? Será ela toda de Cristiano? Será dos Medias? Dos seus empresários e Staff? Será dos adeptos? Com um fundo de certeza, opino que a culpa é de todos!
De Cristiano, que imbuído pelos seus recordes estratosféricos e perfeição do Homus Fisicus, fez-se acreditar que nunca existiriam, para ele, qualquer tipo de limites físicos e mentais, acreditou mesmo que seria um ser supremo que poderia prolongar a sua carreira física até à eternidade, e foi criando a sua própria “bolha”, uma certa realidade paralela em que tudo poderia ser alcançável e nada, nem ninguém poderiam dizer o contrário. Todas as pessoas ao seu redor contribuíram aos longos dos anos para o crescimento dessa bolha do “Ámen Ronaldo, tu és o melhor, e ninguém é igual a ti”. Ronaldo creu-se especial, “perfeito” e ninguém, nem os seu próprios treinadores, lhe poderiam dizer o contrário. Era muito confortável viver nessa bolha e dizer “tu és o melhor do mundo”, quando na verdade não o era. Será que alguém mesmo consegue acreditar que é a perfeição em pessoa? Cristiano, sim, e ninguém do seu entorno lhe dizia o contrário. Criou-se a ilusão da eterna juventude, e perdeu-se a completa noção da realidade e do mundo em que vivia e nem os melhores coaches, psicólogos, consultores, advogados ou empresários poderiam rejeitar essa aparente realidade paralela. Cristiano escolheu viver assim e não quis viver de outra forma, e esse seu querer cego fê-lo tornar-se o melhor desportista português de todos os tempos, mas também o levou a crer-se como maior que as equipas que representava, inclusive até que a sua própria Seleção Nacional.
Aqui também residiu, uma parte da culpa da queda abrupta de Ronaldo, uma Federação e um ex-selecionador que, reféns dos contratos angariados por CR7, nunca o conseguiram convencer de que, apesar de decisivo, o futebol continua a ser um desporto jogado por 11 jogadores e, que ele, como capitão tem de saber liderar pelo exemplo, e de aperceber-se que ao chegar à parte final da sua carreira, onde a sua disponibilidade física não é a mesma que tinha no início da mesma e que já não era necessário andar a correr meio campo a buscar bolas, em vez de ficar a cumprir a sua função como avançado: estar no centro da área e marcar golos, o único sítio onde ainda poderia fazer a diferença, seja com os pés, com a cabeça ou com as pontas dos cabelos. Faltou coragem e foi pena, refém de tudo o que Cristiano trouxe à Federação, todos pareciam ser súbditos do auto-intitulado “Rei” e ai de quem gritasse “Olha, o Rei vai nu”.
Os Medias, esses “organismos” vivos que inundam as nossas telas retangulares, são eles também responsáveis (e culpados!) pela criação de uma áurea à volta de CR7, e já não conseguem viver sem ele: cada toque de bola, cada gesto, ação, ida à casa-de-banho faz CR7 virar notícia, transformando-o no seu ganha-pão e, fugindo muitas vezes à ética e ao respeito, em troco de publicidade e likes, por vezes incitando ao ódio, são eles que criam e criaram todo o celeuma á volta do qual Cristiano não se poderia esconder. Vivem à conta de emoções e quando as emoções são despertadas pelo melhor futebolista português de todos os tempos, a tentação de criar conteúdo dúbios e de veracidade questionável é problemático e bastante apetecível, tanto quanto, dar um chupa-chupa a uma criança.
E, por fim, nós, os adeptos, o verdadeiro “motor” de toda esta indústria do futebol, que alimenta egos de jogadores, que enriquece dubiamente dirigentes, que consome páginas e páginas de jornais (online ou em papel), contribuímos também para a “bolha” mediática em torno de CR7, criando entre nós divisões sobre a forma como o “Rei”, se virou ao seu líder, ou de como o seu líder desrespeitou o “Rei”. Continuaremos divididos entre a questão da gratidão e da ingratidão do treinador que, nunca pôde contar a real história da sua saída imediata após o Mundial, mas que acabou por ser julgado, por contrariar a figura mais alta Seleção Portuguesa e da verdade absoluta que o “R”ei deveria entrar em campo sempre como titular. Ficará sempre a questão no ar se, não fazer alinhar um jogador que já recebeu centenas de agraciações, prémios e homenagens, que tem um Aeroporto com o seu nome, uma estátua e um busto na sua Terra Natal, será sempre considerado como um ato de ingratidão, o que nos leva a pensar no real significado da palavra gratidão, enquanto valor humano. E se então, idolatramos CR7 pelos valores humanos que nos transmitiu e se aceitamos a suas ações como válidas, estaremos então a aceitar que, num amanhã, também no nosso caso, quando recebermos uma ordem do nosso patrão, também possamos dizer “tás com muita pressa de me mandar trabalhar”. Se isto são os valores que ficam dos nossos ídolos, acontece uma de duas coisas: passamos a ter falta de respeito e a encarar mal os nossos superiores ou então temos de mudar de ídolos. Decidi pois, optar pela segunda opção, porque os valores, esses permanecerão sempre connosco, até ao fim das nossas vidas e conquistam-se ao longo do tempo, como o próprio CR7 nos ensinou, com árduo trabalho, dedicação e disciplina. Serão sempre esses os valores que devemos guardar então do melhor desportista português de todos os tempos e, que nem um “poço de dinheiro” das Arábias poderá alguma vez comprar.