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Essência – Tiago & Éva. Primeiro restaurante português inaugurado recentemente em Budapeste

Abriu as portas, no dia 7 de julho, em pleno centro da capital húngara, o restaurante fine dining Essência – Tiago & Éva, o primeiro restaurante português na Hungria.

O Essência é liderado pelo prestigiado Chef português, Tiago Sabarigo, anterior chef do Costes Downtown, restaurante com uma estrela Michelin em Budapeste.

O Essência – Tiago & Éva oferece pratos portugueses e húngaros e na carta de vinhos do restaurante estão vinhos de várias regiões vinícolas portuguesas.

 

Crédito da imagem: Koncz Márton




Magyar Gulag. Vale sempre a pena conhecer a história, mesmo que doa…

”Először tönkretesszük magukat fizikailag, azután majd lelkileg, végül felakasztjuk magukat. Mi ebben az országban azt csinálunk, amit akarunk” – A tábor operatív tisztje – Kazinbbarcika Internalótabor (1951-1953).

“Em primeiro lugar vamos destruir-vos fisicamente, depois mentalmente e no final serão enforcados. Neste país fazemos o que queremos” – O Oficial Operacional do Campo de Internamento de Kazinbbarcika (1951-1953).

Com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945 e a derrota das Potências do Eixo – inicialmente constituído pela Alemanha, Japão e Itália, seguidos da adesão de outros países, tendo entre estes, a Hungria sido o primeiro, e a vitória dos Aliados, primeiro na Europa e depois do Extremo-Oriente, a Hungria, um dos países derrotados, foi ocupada pelo exército vermelho, situação que definiu para muitos anos, a vida e a história do país. O modelo soviético de partido único e da “ditadura do proletariado” foi instaurada, o regime “socialista”, o “socialismo real”, durou até 1989-90.




Foi também assim com a instalação de campos de trabalhos forçados – Magyar Gulag (Gulag Húngaro) de 1945 a 1953 (ano que coincide com a morte de Estaline), onde eram obrigados a trabalhar até à exaustão e muitas vezes até à morte, 150 mil pessoas, verdadeiros escravos do estado e do partido comunista. Uma imensa força de trabalho não remunerada, malnutrida e maltratada, que em muito contribuiu para que os objetivos do primeiro Plano Quinquenal Socialista fossem alcançados.

O Campo de trabalhos forçados de Recsk – hoje Recsk National Memorial Park, inaugurado em 1996 – foi um dos piores e funcionou entre 1950 e 1953. Este campo de trabalho, estabelecido secretamente, seguindo o modelo soviético, foi dirigido pela famigerada ÁVH, a polícia política, a KGB húngara.

Os 1500 prisioneiros detidos por razões políticas derivavam de diferentes camadas da sociedade, desde antigos políticos a poetas, ex-proprietários de terras, trabalhadores manuais e intelectuais. Os prisioneiros para aí deportados sem qualquer jurisdição foram mantidos em condições desumanas até aos últimos dias do seu funcionamento. Entre eles, muitos morreram de fome, de acidente ou pelas sevícias e castigos impostos pelos guardas.

Vide Sobre o Gulag húngaro (em inglês)  https://munkataborok.hu/en/recsk/1




“Békés Forradalom” – “A Revolução Pacífica” de Salazar

Livro de Salazar editado em 1937, em Budapeste

A Revolução Pacífica

Muitos poucos o saberão, mas na Hungria dos anos 30 do século XX, no período antecedente ao início da Segunda Guerra Mundial, António de Oliveira Salazar (Vimieiro, Santa Comba Dão, 28 de abril de 1889 – Lisboa, 27 de julho de 1970) era uma das principais referências  – políticas e ideológicas (com exceção da “questão judaica” vs anti-semitismo*) – para a liderança política da Hungria, pós-Primeira Guerra Mundial, pós-tentativa de implantação da República dos Conselhos (soviets) de Béla Kun e pós-Tratado (traumático) de Trianon.

O livro ora, em apresentação – dele diz-se que haverá apenas alguns exemplares tão raros que nem chegam ao número de dedos das nossas duas mãos – foi editado e publicado em Budapeste, pela primeira vez em 1937, tendo-se seguido pelo menos uma segunda edição em 1939 (não conseguimos confirmar se teria havido uma terceira edição em 1941, mas parece-nos pouco provável).

O Livro com o título: Salazar – Békés Forradalom (A Revolução Pacífica) é prefaciado pelo Conde Pál Teleki (Budapeste, 11 de novembro de 1879 – Budapeste, 3 de abril de 1941), personagem incontornável da Hungria entre as duas guerras mundiais, na Hungria do Regente, Almirante Miklós Horthy (Kenderes, 18 de junho de 1868 – Estoril, 9 de fevereiro de 1957), que aliás após o fim da Guerra, acabou os seus dias no exílio, em Portugal.

O Conde Pál Teleki foi Primeiro Ministro por 2 vezes, primeiro durante alguns meses em 1920-1921 e posteriormente entre 16 de fevereiro de 1939 – 3 de abril de 1941, mandato que acabou de forma trágica com o seu suicídio no Palácio Sándor no Castelo de Buda, Budapeste, por não querer pessoalmente, pactuar com a colaboração com a Alemanha de Hitler na invasão (a 2 de abril de 1941) da Jugoslávia, país com quem a Hungria e ele Primeiro Ministro, tinha justamente acabado de assinar um Tratado de Amizade Eterna, em Belgrado no dia 12 de dezembro de 1940.

“Hálás köszönet mondok Oliveira Salazar-nak, amiért engedélyével lehetővé tette, hogy nagy tanitásat a magyaroknak áthadatom”… “Para mim é gratificante e gostaria de agradecer a Oliveira Salazar, com a sua anuência, de me permitir transmitir aos húngaros este seu grande ensinamento”… escreveu o Conde Teleki, como conclusão da sua nota introdutória ao livro.

O Livro “Békés Forradalom” de 315 páginas, recolhe alguns dos escritos e discursos mais importantes de Salazar na época. A tradução foi da autoria de Gyula Lovass.

O Livro viaja pelo Estado Novo (Corporativo), fala sobre a Ditadura e a Revolução Nacional. P.ex. o capítulo XVI (pág 271) termina com o discurso de Salazar proferido a 17 de fevereiro de 1935, “Erzem, hogy győztünk: a forradalom folytatódik.” Sinto que triunfámos: a revolução continua”. Palavras do “revolucionário” Salazar!

Finalmente uma curiosidade, que não deixa de ser interessante. Como chegou esta relíquia às nossas mãos? Durante décadas, o livro de Salazar, era naturalmente um livro proibido, com alguns exemplares por aqui e por ali, de acesso reservado e normalmente exclusivo a historiadores… este livro, por esquecimento…não foi devolvido ao Arquivo da Escola do MSZMP (Partido Socialista Operário Húngaro). No início dos anos 80, um exilado uruguaio, historiador, que até tinha algumas dificuldades com a leitura em húngaro, decidiu num dia de aniversário, oferecer esta relíquia a um estudante português, seu amigo, que como ele, também vivia em Budapeste.

* Há mesmo quem conjeture que Salazar não apagava a ascendência materna de cristão-novo ou, de judeus sefarditas conversos ou convertidos, tanto mais que a família Oliveira era classificada no estudo genealógico-judaico, como de comprovada origem judaica. Quanto ao Conde Pál Teleki, está ligado intrínsecamente à introdução em 1920 do Numerus Clausus, que muitos consideram na Hungria, como sendo a “primeira lei sobre os judeus”, a que se seguiram a Primeira (1938), Segunda (1939) e Terceira (1941) “Zsidótörvény (Lei dos Judeus)”.



Fundo Húngaro-Português (East West – VC Fund) de 20 milhões de euros

Nas relaçöes económicas entre a Hungria e Portugal, para além, até pela inerência das suas próprias funções, do papel importante, de ponte que cabe às agências públicas de promoção das exportações, negócios, turismo e captação de investimento estrangeiro, é sempre muito importante, que simultaneamente, hajam outros veículos e ferramentas, que apoiem as empresas de ambos os países, como é o caso do Fundo de Capital de Risco Húngaro-Português, EuVECA (European Venture Capital Fund).

O Fundo foi constituído em finais de 2017 e ainda recentemente, a sua importância foi destacada em Lisboa, por Péter Szijjártó, Ministro do Comércio Externo e Negócios Estrangeiros.

Entre os investidores do Fundo, da parte húngara, estão o banco público Eximbank, o Grupo OTP Bank e Grupo MOL (Petróleo e Gás).

Como tem feito desde a sua criação e durante os próximos anos, o Fundo, investirá em pequenas e médias empresas húngaras e portuguesas com potencial de crescimento para auxiliar a transformação digital dos setores público e privado por meio de suas ações, soluções e desenvolvimentos.

O Fundo cuja gestão é da responsabilidade da Alpac Capital, com escritórios em Lisboa e Budapeste, está registada e regulamentada pela autoridade de supervisão financeira portuguesa, SEC (CVMV).




Benfica: É desta que acaba a maldição de Guttmann?

Como se pode ler no Szombat (Sábado), jornal da comunidade judaica de Budapeste, foi solicitado ao rabino Zoltán Radnóti que enviasse uma benção à equipa de futebol do Benfica em que segundo a explicação rabínica, pode ser útil para quebrar a “maldição de Guttmann” que continua a perseguir o clube encarnado.

A ”benção” foi levada a Lisboa aquando da recente visita do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Péter Szijártó e György Szöllősi, editor-chefe do diário desportivo Nemzeti Sport e Embaixador dos Assuntos de Puskás e da Tradição Húngara de Futebol” (na foto com o vice-presidente do S. L Benfica – vide link abaixo do jornal Szombat)

Como é do conhecimento público e certamente o sabem a grande maioria dos adeptos e simpatizantes do S.L.Benfica, a ”maldição” de Béla Guttmann, o inesquecível treinador  húngaro do clube e da conquista das 2 Taças dos Campeöes Europeus, em 1960-61 e 1961-62 diz „apenas” que o Benfica não voltará a vencer uma competição europeia – segundo os entendidos haverá 2 versöes – nos ”próximos 100 anos” ou…”nunca mais”…A propósito de referir que o S.L.Benfica é, com um total de 8 derrotas nas finais, o recordista europeu das finais europeias perdidas. Talvez agora a „benção” do rabino Rásnoti liberte de vez a maldição do judeu-húngaro Guttmann.  Se tal não acontecer, não será por falta de empenho dos amigos do Benfica na Hungria.


Notícia do jornal “Szombat”


”Béla Guttmann, o Abençoado” Jornal “O Público”

Mais tarde voltaremos certamente ao assunto “Maldição Guttmann”.




Camões, Figura Literária Húngara

As relaçöes históricas Hungria-Portugal

Muitos dos momentos de encontro e outras tantas preciosas curiosidades, desconhecidas pela grande maioria, já foram abordadas por alguns dos melhores especialistas na matéria, no caso pelo Professor Ferenc Pál. Vide

Resumo: Na literatura húngara do século XIX, Luís Vaz de Camões ocupa um lugar especial. Não apenas por ser um poeta que correspondia aos cânones do Romantismo, senão também por mencionar a origem  húngara  n’Os  Lusíadas.  Desta forma,  tornou-se  uma  figura  emblemática que  foi  herói  de  várias  obras  de  ficção  húngaras,  nascidas  pelo  século  XIX  afora,  às  vezes personificando aspirações húngaras.


Ver Documento Completo




Tem origens húngaras o Primeiro Rei de Portugal?

É uma “lenda” quase tão antiga como desconhecida em Portugal. Aliás, muito provavelmente, são bastante mais que os portugueses, os húngaros que sabem que Luis de Camões na sua epopeia “Os Lusíadas” se refere a hipótese de que o Conde Dom Henrique, pai de Afonso Henriques seja de origem húngara…”(dizem que segundo / Filho de um Rei de Hungria experimentado)”… que o colocaria em descendência direta de I István, Szent István Király – Rei Santo Estevão, Fundador e Primeiro Rei Católico da Hungria.

Como alguns especialistas no tema o fazem, talvez se possa divagar e até mesmo especular sobre a perspetiva de afirmação dinástica-europeia do “estratega” Luis Vaz de Camões, da sua visão estatégia da Europa e das mais poderosas ou mais pujantes casas reais europeias, das suas descendências, e talvez da legitimidade-autónoma do Jovem Afonso Henriques, Primeiro Rei de Portugal, perante os “primos reais” da Península Ibérica.  Sabe-se que para “lenda” e para quem se ocupa com a relação Hungria-Portugal, é uma vertente “quase histórica” muito simpática e que ajude a acordos e consensos.

Sabemos que o Conde Dom Henrique, e de Borgonha, membro da família ducal da Borgonha e também, muito justamente, “Conde de Portucale”.

Os tempos e as pessoas passam, mas as pedras, as inscrições nas pedras ficam. É tanto assim que ainda hoje, na Sé de Braga se pode ler, no túmulo de D. Henrique, “Ungaro Regis”….

Caros húngaros e portugueses, vale a pena ir a Braga e entrar na Bela Catedral.

Eis os versos dos Lusíadas que deixam subentendidos a ascendência “Magyar” do Primeiro Rei de Portugal:

 

Os Lusíadas

Canto III

 

25
«Destes Anrique (dizem que segundo
Filho de um Rei de Hungria exprimentado)
Portugal houve em sorte, que no mundo
Então não era ilustre nem prezado;
E, pera mais sinal de amor profundo,
Quis o Rei Castelhano que casado
Com Teresa, sua filha, o Conde fosse;
E com ela das terras tomou posse.

28
«Quando, chegado ao fim de sua idade,
O forte e famoso Húngaro estremado,
Forçado da fatal necessidade,
O esprito deu a Quem lho tinha dado.
Ficava o filho em tenra mocidade,
Em quem o pai deixava seu traslado,
Que do mundo os mais fortes igualava:
Que de tal pai tal filho se esperava.




Péter Szijjártó: Hungria e Portugal podem trabalhar juntos por uma estratégia da UE para África

Embora a Hungria e Portugal sejam diferentes em muitos aspetos, ambos os países têm interesse em implementar uma estratégia eficaz da UE para a África, afirmou o ministro húngaro dos Negócios Estrangeiros, Péter Szijjártó.

Relatando a visita do chefe do ministério a Lisboa, ele explicou: Hungria e Portugal são dois países com localizações geográficas completamente diferentes, suas histórias também são completamente diferentes e, como resultado, muitas questões internacionais são vistas de forma diferente. No entanto, isso não impede a cooperação em questões internacionais que são importantes e até estrategicamente importantes para a Hungria, ressaltou.

Ele enfatizou que existiam diferentes pontos de vista em relação à migração, mas havia um ponto em que a implementação seria de grande ajuda também para a Hungria. Portugal gostaria que a União Europeia elaborasse uma estratégia realmente eficaz para África, e a Hungria também está interessada nisso, uma vez que uma das ferramentas contra a pressão migratória na Europa é proteger as fronteiras, e a outra para impedir as saídas de África, referiu.

Avançou ainda que isso pode ser evitado através da implementação de programas de desenvolvimento em África, tanto económica quanto socialmente, que deixam claro que o futuro do povo africano está em África, para que eles não se sintam motivados a migrar massivamente rumo à Europa.

Péter Szijjártó enfatizou, que a Hungria está pronta para participar ativamente nesse processo. Portanto, se a UE, com o apoio de Portugal, puder criar uma estratégia verdadeiramente eficaz para África, será possível impedir uma grande saída de lá para a Europa, explicou.

O ministro das Relações Exteriores também falou que a economia é uma área importante da cooperação bilateral. A Richter possui uma fatia significativa do mercado português, os produtos da Hell são comercializados aqui em milhares de locais, sendo que foi criado um fundo comum de 20 milhões de euros para apoiar pequenas e médias empresas húngaras e portuguesas que obtêm sucesso na transição digital.

Também referiu que agora a cooperação está a ser expandida com outra indústria de alta tecnologia, a indústria espacial. Portugal está a trabalhar seriamente no desenvolvimento de satélites e capacidades de lançamento, e a Hungria também está trabalhando no seu próprio programa espacial: dois pequenos satélites já estão no espaço, o terceiro está prestes a ser lançado e, a partir de 2024, terá o direito de lançar em órbita um satélite de maior dimensão. Também é extremamente importante para o seu futuro, e um acordo de cooperação já foi assinado, disse o chefe do ministério.




“Előre nem latható múlt”, “Um passado imprevisível”, de Ernesto Rodrigues em húngaro foi editado. Tradutor Ferenc Pál

Ernesto Rodrigues escritor, novelista, poeta, professor universitário, diretor do CLEPUL- Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)… Ernesto Rodrigues entre 1981 – 1986 foi leitor do Instituto Camöes em Budapeste…

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Regressado a Budapeste e ao convívio com um velho professor universitário, vê-se o herói em busca do passado – imprevisível. O que sabemos da vida que julgamos ter vivido, se nem sempre assistimos às consequências dos nossos actos? Conhecemos quem está ao nosso lado? Não será cada passo condicionado por outrem?

Sujeito renascendo entre dois mundos – Hungria e Moçambique –, cujas feridas saram em encontros felizes, são também os perigos de hoje (violência, arbítrio, tráfico de crianças…) crua e subtilmente desvelados, nesta terra de verdade que é a ficção.
Memória de tempos, personagens e lugares sobre o Danúbio do antigo leitor de Português na Universidade de Budapeste (1981-1986) – quando aí vicejava um doce «sono comunista» procurando diluir os acontecimentos trágicos de 1956 – e visitante de Maputo, edita-se Um Passado Imprevisível após Uma Bondade Perfeita, Prémio PEN Clube Português – Novelística, em 2017.

Poderá ler as primeiras páginas da obra aqui.

Para mais informações: Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (CLEPUL); Email: clepul@letras.ulisboa.pt