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Carolina Maria de Jesus (Brasil)

A rosa

Eu sou a flor mais formosa
Disse a rosa
Vaidosa!
Sou a musa do poeta.

Por todos sou contemplada
E adorada.

A rainha predileta.
Minhas pétalas aveludadas
São perfumadas
E acariciadas.

Que aroma rescendente:
Para que me serve esta essência,
Se a existência
Não me é concernente…

Quando surgem as rajadas
Sou desfolhada
Espalhada
Minha vida é um segundo.
Transitivo é meu viver
De ser…
A flor rainha do mundo.

Negra e favelada, Carolina Maria de Jesus foi uma autora improvável. Nasceu em 14 de março de 1914 em Sacramento, Minas Gerais, numa comunidade rural, filha de pais analfabetos. Foi maltratada durante a infância, mas aos sete anos frequentou a escola. Em pouco tempo aprendeu a ler e escrever e desenvolveu o gosto pela leitura.

Em 1937, após a morte da mãe, mudou-se para São Paulo. Aos 33 anos, desempregada e grávida, mudou-se para a favela do Canindé, na zona norte da capital paulista. Trabalhava como catadora de papel e, nas horas vagas, registava o quotidiano da favela em cadernos que encontrava no material que recolhia.

Um destes diários deu origem a seu primeiro livro, Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada, publicado em 1960. A obra foi vendida em 40 países e traduzida para 16 idiomas.

Após a publicação e o sucesso do primeiro livro, a autora mudou-se para Santana, bairro de classe média da capital. Três anos depois, publicou o romance Pedaços de Fome e o livro Provérbios. Em 1969, saiu de Santana para Parelheiros, no extremo da zona sul da cidade, uma região de grandes contrastes entre ricos e pobres, mas com ares de interior que lembravam a cidade onde cresceu.

A escritora nunca quis casar e teve três filhos, cada um de um relacionamento diferente. Morreu em fevereiro de 1977, aos 62 anos, de insuficiência respiratória. Outras seis obras póstumas foram publicadas após sua morte, compiladas a partir dos cadernos e materiais deixados pela autora. Em 2017, sua história foi registada por Tom Farias em Carolina – Uma Biografia.