Ainda sou do tempo em que, para ir de transportes públicos ao aeroporto de Budapeste, éramos obrigados a apanhar a retro-linha 3 do metro e fazer transbordo para um autocarro na inóspita estacão rodoviária de Köbánya-Kispest; a contrário percurso eram forçados os mui nobre turistas da Europa do Oeste, após aterrarem em List Ferenz, esperava-lhes a viagem de boas-vindas a uma cidade ex-comunista, logo carente de infraestruturas aos seus opulentos franco-germanos (ou nórdicos) olhos.
Sou igualmente do tempo em que substituíram tal trajeto com uma única carreira de autocarro, tendo como saída/destino o centro de Budapeste, reduzindo a duração do dito a cerca de trinta ou quarenta minutos. Dada a popularidade da Pérola do Danúbio e o exponencial crescimento de húngaros em deslocações internacionais por razões de trabalho/lazer, o aerobus rebentou pelas costuras, obrigando o BKK a aumentar a sua frequência. (Nada de novo por estas bandas, caros snobs ocidentais. Uma linha de elétrico assegura, 24 sobre 24 horas, o fácil acesso ao coração da capital húngara; enquanto os senhores se servem de robustos salários para pagar a fatura do táxi ou chamar um Uber que os leve para a que os pariu.)
Também sou do tempo em que a pandemia impactou, em sentido inverso, a frequência da supradita carreira, e finalmente (fatalmente) a suspendeu.
Estas alterações deram-se num curto período de quatro anos, reforçando-me a ideia de que ter-se-ão produzido no mundo maior número numero de transformações nas últimas duas décadas do que em todo o século XX.
Alguns dirão ser do tempo do antigo aeroporto Ferihegy, de que restam o terminal de comboios (e o respetivo avião desenhado junto ao nome da dita) e as castiças (agora carcaças) aeronaves da MAV; empresa que – e para que conste aos povos prósperos – não entrou em bancarrota por falta de florins no país, antes para dar lugar a uma nova companhia, a Wizzair, gerida por nativos e financiada por investimento privado, preanunciando nos céus o desenvolvimento económico da Hungria que aí vinha.
Pestszentlőrinc-Pestszentimre, com ou sem transbordos aka transtornos, manteve o estatuto de bairro do aeroporto. Independentemente de terminais e transportes públicos, de épocas mais ou menos virulentas, tendemo-lo a ver como lugar de passagem; em justaposição com aquelas paisagens que deixamos para trás ou que urge desbravar para bem da nossa saúde (também ela em correlação curiosa com as chamadas crises sanitárias).