Recordo-me como se fosse hoje. Quando me apresentaram o bairro XI, Budapeste recomeçou-me.
Primeiro, o parque Feneketlen. Em seguida, a praça Moricz. Parecia que me encontrava na Alemanha; não que eu seja daqueles que ache a Alemanha o suprassumo da civilização, apenas o país que melhor harmoniza a elegante arquitetura continental com uma certa infraestrutura.
Existe, no entanto, outra maneira de se embasbacar à chegada a Ujbuda. Passada a ponte da Liberdade, a pé ou a bordo dos elétricos 47 ou 49, o cartão-de-visita é o magnífico hotel-spa Gellert. O percurso continua com o boulevard Bartók Béla, repleto de cafetarias, restaurantes, wine bars que cheiram a novo sem tresandar a pós-moderno. Por fim, vemo-nos na tal da praça Moricz, rodeados de azáfama nativa, donde sobressaem as estudantes universitárias.
Haverá outro ambiente tão atrativo, pleno de cor e vida, despido da estupidez dos turistas e dos expats? Duvido, e por aqui me fico, felicíssimo de sair do circuito; seja qual for o establishment, tenho tendência para procurar o oposto, render-me ao chamado contra.
À descoberta, recordo novamente como se fosse hoje, deparei com um boteco chamado Oporto. Com azulejos e uma mesa de matraquilhos; desporto em que os húngaros são os melhores do mundo.
Voltando ao parque que é mais que um parque. O lago, a igreja, as estátuas transformam a paisagem num quadro vivo.
Através do centro comercial Allee, no momento às moscas, a Hungria mostra aos céticos como acolher o capitalismo. Ainda assim, para gáudio de saudosistas como moi, mantém-se ativo o mercado e respetiva área de refeições, com seus letreiros dos anos oitenta, a vender vinho ao copo e palacsinta austera, de canela.
Convém lembrar que o bairro XI, Újbuda (literalmente, Nova Buda) não é somente Lagymanos. Contém Kelenföld e arrabaldes afins.
Lagymanos, no entanto, é uma autêntica cidade dentro da cidade, vulgo tem de tudo. Aqui morei, alguns meses após o supracitado fascínio inicial, durante um ano. Pouco experienciei de idêntico à felicidade.