“Békés Forradalom” – “A Revolução Pacífica” de Salazar

por LMn
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Livro de Salazar editado em 1937, em Budapeste

A Revolução Pacífica

Muitos poucos o saberão, mas na Hungria dos anos 30 do século XX, no período antecedente ao início da Segunda Guerra Mundial, António de Oliveira Salazar (Vimieiro, Santa Comba Dão, 28 de abril de 1889 – Lisboa, 27 de julho de 1970) era uma das principais referências  – políticas e ideológicas (com exceção da “questão judaica” vs anti-semitismo*) – para a liderança política da Hungria, pós-Primeira Guerra Mundial, pós-tentativa de implantação da República dos Conselhos (soviets) de Béla Kun e pós-Tratado (traumático) de Trianon.

O livro ora, em apresentação – dele diz-se que haverá apenas alguns exemplares tão raros que nem chegam ao número de dedos das nossas duas mãos – foi editado e publicado em Budapeste, pela primeira vez em 1937, tendo-se seguido pelo menos uma segunda edição em 1939 (não conseguimos confirmar se teria havido uma terceira edição em 1941, mas parece-nos pouco provável).

O Livro com o título: Salazar – Békés Forradalom (A Revolução Pacífica) é prefaciado pelo Conde Pál Teleki (Budapeste, 11 de novembro de 1879 – Budapeste, 3 de abril de 1941), personagem incontornável da Hungria entre as duas guerras mundiais, na Hungria do Regente, Almirante Miklós Horthy (Kenderes, 18 de junho de 1868 – Estoril, 9 de fevereiro de 1957), que aliás após o fim da Guerra, acabou os seus dias no exílio, em Portugal.

O Conde Pál Teleki foi Primeiro Ministro por 2 vezes, primeiro durante alguns meses em 1920-1921 e posteriormente entre 16 de fevereiro de 1939 – 3 de abril de 1941, mandato que acabou de forma trágica com o seu suicídio no Palácio Sándor no Castelo de Buda, Budapeste, por não querer pessoalmente, pactuar com a colaboração com a Alemanha de Hitler na invasão (a 2 de abril de 1941) da Jugoslávia, país com quem a Hungria e ele Primeiro Ministro, tinha justamente acabado de assinar um Tratado de Amizade Eterna, em Belgrado no dia 12 de dezembro de 1940.

“Hálás köszönet mondok Oliveira Salazar-nak, amiért engedélyével lehetővé tette, hogy nagy tanitásat a magyaroknak áthadatom”… “Para mim é gratificante e gostaria de agradecer a Oliveira Salazar, com a sua anuência, de me permitir transmitir aos húngaros este seu grande ensinamento”… escreveu o Conde Teleki, como conclusão da sua nota introdutória ao livro.

O Livro “Békés Forradalom” de 315 páginas, recolhe alguns dos escritos e discursos mais importantes de Salazar na época. A tradução foi da autoria de Gyula Lovass.

O Livro viaja pelo Estado Novo (Corporativo), fala sobre a Ditadura e a Revolução Nacional. P.ex. o capítulo XVI (pág 271) termina com o discurso de Salazar proferido a 17 de fevereiro de 1935, “Erzem, hogy győztünk: a forradalom folytatódik.” Sinto que triunfámos: a revolução continua”. Palavras do “revolucionário” Salazar!

Finalmente uma curiosidade, que não deixa de ser interessante. Como chegou esta relíquia às nossas mãos? Durante décadas, o livro de Salazar, era naturalmente um livro proibido, com alguns exemplares por aqui e por ali, de acesso reservado e normalmente exclusivo a historiadores… este livro, por esquecimento…não foi devolvido ao Arquivo da Escola do MSZMP (Partido Socialista Operário Húngaro). No início dos anos 80, um exilado uruguaio, historiador, que até tinha algumas dificuldades com a leitura em húngaro, decidiu num dia de aniversário, oferecer esta relíquia a um estudante português, seu amigo, que como ele, também vivia em Budapeste.

* Há mesmo quem conjeture que Salazar não apagava a ascendência materna de cristão-novo ou, de judeus sefarditas conversos ou convertidos, tanto mais que a família Oliveira era classificada no estudo genealógico-judaico, como de comprovada origem judaica. Quanto ao Conde Pál Teleki, está ligado intrínsecamente à introdução em 1920 do Numerus Clausus, que muitos consideram na Hungria, como sendo a “primeira lei sobre os judeus”, a que se seguiram a Primeira (1938), Segunda (1939) e Terceira (1941) “Zsidótörvény (Lei dos Judeus)”.

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