Atividade de pesca na Guiné-Bissau só beneficia o Senegal

por LMn | Lusa
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O presidente da Associação Nacional dos Armadores e Industriais de Pesca da Guiné-Bissau (ANAPI), Alberto Pinto Pereira, defendeu que o país precisa de coragem para criar a sua indústria de pesca, salientando que atualmente este só beneficia o Senegal.

“99% da pesca industrial vai descarregar o pescado no Senegal, os índices económicos de tudo isso refletem-se diretamente nas contas do Senegal, vão para o PIB do Senegal. Para a Guiné-Bissau, enquanto exportação, o índice é zero. Ora quem está a beneficiar com isso, somos nós ou o Senegal”, questionou Pinto Pereira.

Em entrevista à Lusa, o dirigente da ANAPI respondeu que não restam dúvidas de que é o Senegal que tem beneficiado com a atividade de pesca da Guiné-Bissau.

O Senegal tem um acordo com a Guiné-Bissau ao abrigo do qual pescadores artesanais e industriais exercem as suas atividades nas águas guineenses, mediante uma licença emitida pelo Ministério das Pescas.

Bissau também tem acordos de pesca industrial com alguns países da União Europeia, Rússia e empresas chinesas.

Alberto Pinto Pereira sublinhou que todos os navios de pesca industrial que operam nas águas da Guiné-Bissau descarregam o pescado no porto de Dacar, no Senegal.

Dados do Ministério das Pescas guineense apontam que o setor contribui anualmente com 4% para o Produto Interno Bruto (PIB), dá emprego direto a 6.134 pessoas e indiretamente a 26 mil pessoas.

Alberto Pinto Pereira defendeu que a Guiné-Bissau tem de parar com a política de venda de licenças de pesca.

“Nós temos de ter a coragem de criar uma frota local e uma indústria local de pesca para diminuir a venda de licenças de pesca”, disse o presidente da ANAPI, sublinhando que não se faz ideia daquilo que a Guiné-Bissau perde anualmente.

Alberto Pinto Pereira defendeu a realização de uns “estados gerais” que juntassem as autoridades, os parceiros e as empresas de pesca para “uma discussão franca” sobre qual a estratégia que o país deve adotar para criar a sua frota nacional, impulsionar o setor privado local, aumentar as receitas provenientes da pesca para o PIB e ainda “fazer com que os guineenses consumam o pescado a preços aceitáveis”.

O dirigente considerou que não faz sentido que a Guiné-Bissau, país que tem peixe em abundância no mar, venda o produto à população “a preços proibitivos”, designadamente três mil francos CFA (cerca de 4,5 euros) por quilograma.

Uma Carta de Política de Pesca, a ser definida nesse encontro, seria um instrumento que ajudaria a Guiné-Bissau a colocar o setor como “motor da economia”, vaticinou Pinto Pereira, para quem “já chega de ouvir falar do caju”, como fator de desenvolvimento do país.

MB // VM

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