As mulheres do sal da Guiné-Bissau

por LMn | Lusa
image_pdfimage_print

As mulheres da comunidade de Ponta Zé Henrique, a 30 quilómetros da capital da Guiné-Bissau, sabem que se não produzirem sal não vão ter o que comer.

A agência Lusa visitou um acampamento improvisado à beira rio, onde cerca de três dezenas de mulheres da comunidade de Ponta Zé Henrique, trabalham, desde sempre, dizem, de sol a sol, no processo de produção do sal de cozinha que vendem em Bissau ou em Quinhamel.

Cada quilograma de sal equivale a cerca 50 cêntimos de euros, dinheiro com que compram a comida para a família ou pagam a escola das crianças, disse à Lusa Maria Monteiro, a porta-voz da associação das mulheres produtoras de sal da comunidade de Ponta Zé Henrique.

Existem duas técnicas de produção do sal, a tradicional e uma nova que as mulheres daquela comunidade estão a aprender a partir da iniciativa de Salomé dos Santos, a deputada e advogada luso-guineense, conhecida pelos apoios que dá às comunidades rurais da região de Biombo, a noroeste da Guiné-Bissau.

Maria Monteiro explicou à Lusa que fazer sal de forma tradicional obriga as mulheres a apanhar salinas, a água salgada do rio e a cortar lenha para cozinhar tudo.

“É um processo árduo que pode obrigar a 72 horas de trabalho ininterrupto” para que a mulher consiga produzir um alguidar de sal para, referiu Maria Monteiro, ganhar cinco mil francos CFA (cerca de 7,5 euros), o que “já é muito dinheiro”.

Para aligeirar a vida das mulheres da comunidade de Ponta Zé Henrique, Salomé dos Santos contratou a associação de Beatriz da Gama, uma animadora comunitária, para ensiná-las como produzir sal sem terem que ficar muitos dias no acampamento e ainda a ganhar mais dinheiro.

A nova técnica, contou Beatriz da Gama, consiste em produzir o sal solar, que passa por colocar a água que sai da lavagem da salina num saco de plástico de três metros de comprimento por dois de largura, num canteiro no chão.

Após uma exposição ao sol de cerca de cinco horas a produtora já pode regressar ao acampamento e apanhar o sal, referiu Beatriz da Gama, salientando que a técnica reduz o tempo de produção, implica menor esforço e maiores resultados, disse.

Enquanto na forma tradicional a produtora apenas consegue 20 a 30 quilogramas por cada 72 horas de trabalho e ainda corta a floresta para ter lenha para cozinhar, a nova técnica permite produzir até 100 quilogramas e as mulheres ainda ficam com tempo para se ocuparem de outras tarefas em casa, frisou Beatriz da Gama.

Salomé dos Santos tem como aposta pessoal contribuir para a mudança da condição de trabalho das mulheres da Ponta Zé Henrique por não concordar com o que ganham na produção do sal, tendo em conta as dificuldades que enfrentam.

Salomé dos Santos afirma que as mulheres estão a vender sal “a um preço muito barato pelo trabalho que fazem”, mas mesmo assim, disse, continuam a produzir porque precisam de dinheiro.

“Aqui nas ‘tabancas’ as mulheres é que sustentam os filhos. Elas é que pagam a escola dos filhos, elas é que fazem, praticamente, tudo. E nesta altura que estamos a começar a campanha de caju, primeiro vão para a apanha do caju, depois é que vão para (produção) o sal”, explicou Salomé dos Santos.

Salomé dos Santos está satisfeita por saber que com a nova forma de produzir sal, já vão conseguir apanhar o caju – principal produto agrícola e de exportação da Guiné-Bissau – enquanto aguardam que o sol faça o seu trabalho.

MB // SB

Lusa/Fim

Também poderá gostar de

O nosso website utiliza cookies para melhorar a sua experiência de navegação. Aceitar Ler Mais

Privacidade