Arany János poeta húngaro, que no segundo período da sua poesia escrevia muitas baladas. A mais famosa é a ‘A walesi bárdok (Os bardos do País de Gales), que Arany escreveu quando o imperador Francisco José I da Áustria visitou a Hungria pela primeira vez, depois de derrotar a Revolução húngara de 1848. Originalmente Arany foi solicitado a escrever um poema para louvar o imperador, mas ele escreveu uma peça sobre as campanhas de Eduardo I de Inglaterra para subjugar os galeses e passar por cima de sua cultura. Arany quis traçar com isto um paralelo com o tratamento dado pela Áustria à Hungria e aos húngaros.
Os bardos galeses
Eduardo de Inglaterra
Monta no seu alazão.
“Olha! As terras de Gales
Agora que valerão?
Terão rios, solo fértil
E prados florescentes?
Terá sido bem regada
Pelo sangue dos resistentes?
E o povo, o bom povo,
Será ele feliz contudo?
– Como o desejo – como os bois
Que ele atrela a seu jugo?”
“Certo, senhor, tua coroa
Não tem jóias mais brilhantes
Que seus vales, montes, terras
E os prados verdejantes.
E quanto ao povo, o bom povo,
É feliz meu bom senhor.
O silêncio em suas choças
É disso certo penhor”.
Eduardo de Inglaterra
Faz parar seu alazão.
Silencia toda a gente,
As terras se calarão.
Montgomery tem por nome
O forte onde ele parou.
Castelão Montgomery
Festa p’ra ele preparou.
“Vão ver quem aqui faz lei”
Rei Eduardo ameaça:
“Ao fogo quem me resista.
Dos bardos que acabe a raça!”
Para correr o país,
Sem pressa saem arautos,
E em forte Montgomery
Fundaram os festins lautos.
Eduardo de Inglaterra
Esporeia seu alazão,
E por toda Gales agora
Só fogueiras se verão.
Cantando vão p’rà fogueira
Quinhentos bardos galeses,
mas nenhum para gritar:
“Viva Eduardo mil vezes!”
Em Londres lá pelas ruas
Que gritos e arruaça!
“Que se enforque o seu alcaide
Se lá mexe a populaça!”
Tudo no maior sossego,
Nem uma mosca zuniu;
Quem falar; cabeça fora;
E o sono do Rei fugiu.
“Soem pífaros, clarins,
E mil tambores a rufar.
Para do festim de Gales
Seus malefícios calar.”
Mas por cima de clarins
E tambores, trombetas a rugir,
A voz plena cantam os quinhentos
E a gesta dos mártires faz-se ouvir!
Caça, carnes, vinhos, peixes,
E mil outros bons bocados
Levam cem criados mudos
Esmagados sob os seus fardos.
O que as belas terras dão
Da carne mais delicada,
Do melhor vinho estrangeiro
A pipa descarregada…
Senhores, senhores p’ra me honrar
Já não há cantos de bardo,
Ai senhores, ai cães galeses
Não há um viva Eduardo?
Caça e peixe são à farta
De tudo os melhores primores
Me dão todos os senhores
Que não passam de traidores.
Senhores, estafermos malditos,
Ninguém que cante Eduardo?
Ninguém grita “viva o Rei”?
Depressa já galês bardo!”
Em espanto se entreolham
Os paladinos presentes,
Não de medo mas de fúria,
Rostos brancos, transparentes.
Sem palavra, a voz estrangulada,
Suspenso o próprio respirar,
Porta aberta; branca ave,
Velho bardo – vem a entrar.
“Tua gesta e altos feitos
Ó rei hei-de eu cantar!”
Choros, gritos, armas rugem
E ele começa a cantar:
“Choros, gritos, armas rugem,
Sangue feras bebem na represa,
Lago de sangue onde o sol se apaga,
Isto é, ó Rei, tua proeza!
Ceifados, aos molhos atados,
Milhares de galeses fazem história.
Chorando, os que ficaram ceifam.
Eis teus feitos, Rei, tua glória!”
“À fogueira por teu rude canto!”
Diz Eduardo, “Bem!
Preciso um canto mais doce”,
E um jovem bardo vem.
“Oh como é doce ao entardecer
No golfo de Milford o vento a soprar!
Mas de virgens e viúvas bem mais forte,
Ouvimos seu carpir clamar.
Virgens, não gereis mais servos!
Não mais alimenteis filhos, mães fagueiras…
Um sinal, e ao velho encanecido
O jovem bardo segue p’rà fogueira.
Logo, um não convidado
Chegou cheio de ousadia,
E suas cordas afinando,
Balada sua dizia:
“Caiu na batalha o Maior…
Ó Rei, meu canto escutai,
P’rá celebrar os teus feitos,
Bardo galês não há mais!
Chora a toda hora seu lembrar –
Ouvi bem. Ó Rei, ouvi! –
O canto dos bardos lançará apenas
Vergonha, horror sobre ti”.
Tradução de Zoltán Rózsa