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António Felizardo CEO da HDT – HungaroDigiTel

Reportagem exclusiva do LMn com o Diretor-Geral da HDT

António Felizardo

A Hungaro DigiTel (HDT) é uma das primeiras empresas com registo nas relações bilaterais entre a Hungria e Portugal, onde a participação portuguesa está presente há cerca de 25 anos. A HDT é o resultado da procura pela CPRM Marconi de novos mercados e da abertura da economia dos países da Europa Central, cuja estrutura social foi estabelecida no princípio da década dos anos 90. O sócio húngaro com quota maioritária de 55% é a Antenna Hungária,  responsável pela distribuição do sinal de televisão e rádio, enquanto que o sócio português como sucessor da Marconi é o grupo Portugal Telecom/Altice.

Participada portuguesa Hungaro DigiTel fornece comunicações via satélite com cobertura global

Em termos de postos de trabalho, cerca de 45, a Hungaro DigiTel pode parecer uma empresa de pequena dimensão, mas a sua receita anual ronda os 20 milhões de euros nos últimos anos, atendendo a cerca de 50 grandes parceiros em cerca de 3.000 locais, a maioria deles na Hungria, alguns na região e outros na Europa e outros continentes, onde milhões de usuários (desde apostadores de lotaria a telespetadores de canais televisivos), nem sequer imaginam que estão a usar os serviços da HDT.

Know-how português transferido

Como explica o diretor-geral António Felizardo, que está envolvido na gestão da empresa desde o arranque, o elemento mais importante que o parceiro português trouxe para a Hungria no início dessa parceria, foi precisamente a sua experiência técnica. “O setor bancário em Portugal experimentou uma expansão substancial – em resultado do seu desenvolvimento económico – após a entrada do país na União Europeia, em 1986. A infraestrutura tradicional do sistema bancário não conseguiu lidar com essa célere expansão. Para fornecer conexões para a crescente rede de agências, os bancos adotaram uma tecnologia americana (bastante inovadora na época): comunicação via satélite. Os frutos dessa experiência foram colhidos na Hungria, que necessitava muito de tecnologia moderna no início dos anos 90, apenas alguns anos após a mudança do sistema político. Entre outras coisas, um novo sistema bancário teve que ser desenvolvido aqui, sendo que a experiência portuguesa veio colmatar essa necessidade.”

Portanto, os bancos estavam entre os primeiros clientes da Hungaro DigiTel e ainda se mantém a relação com o mais representativo na Hungria, o OTP Bank, cuja parceria com o HDT começou em 1994. “Nessa altura, o banco precisava de conexões rápidas e fiáveis para expandir a sua rede de agências e de caixas ATM em toda a Hungria” – referiu António Felizardo.

Clientes conectados

Outro grupo importante de clientes são os postos de gasolina. Os membros dessas redes de abastecimento estão espalhados por todo o país (normalmente ao longo das vias de circulação), onde dificilmente se encontra disponível a rede de comunicação integrada – além da via satélite – para conectar todas elas. A maioria dessas lojas encontra-se na Hungria, mas a Shell também usa os serviços da HDT na Bulgária.

O cliente da HDT com mais pontos de comunicação em todo o país é a empresa nacional de Lotaria (Szerencsejáték Zrt.), o maior fornecedor de serviços de apostas na Hungria. Hoje em dia mesmo no jogo tradicional de lotaria, é necessário um feedback instantâneo para certificar a validade do bilhete no sistema nacional de lotaria. No entanto, nesta era moderna, novos e mais novos jogos (às vezes ao vivo) são introduzidos. O fornecimento de serviços de dados digitais torna-se assim cada vez mais imprescindível, criando novos desafios para a Hungaro DigiTel. Um bom exemplo disso, são os monitores das lojas de jogos da Szerencsejáték, que são “abastecidos” com resultados ao vivo e até transmissões em tempo real de eventos desportivos, pela HDT.

“Na verdade, esse não é o único serviço de distribuição de conteúdos que fornecemos. Desde há cerca de cinco anos, os canais de rádio e televisão estatais húngaros são distribuídos por nós via satélite, para pequenos operadores e também para telespetadores na Hungria e em outros lugares da Europa. Fornecemos igualmente serviços de distribuição de programas para alguns outros canais de televisão húngaras”, salienta António Felizardo.

Embora, em menor proporção, a comunicação via satélite da HDT também é usada por serviços, como autocarros de biblioteca digital, que percorrem áreas remotas nas zonas rurais da Hungria e oferecem a oportunidade aos residentes locais de usar a Internet. Outro exemplo também interessante para a empresa, consiste numa espécie de pequena “loja do cidadão” móvel, que permite acesso a serviços da administração pública eletrónica em zonas distantes do país, ou quando ocorrem determinados eventos culturais ou desportivos.

Para além dos serviços de comunicação via satélite, uma das áreas de atividade de grande importância para a empresa, reside na gestão de zonas de serviços WiFI. „Começámos esta atividade por ocasião do campeonato mundial de desportos aquáticos de Budapeste em 2017, mas desde lá instalámos e operamos um dos maiores centros de gestão deste tipo de serviço existente na Europa. Através dele é feita toda a gestão e proteção do tráfego das redes WiFI, permitindo o acesso à Internet em todas as escolas na Hungria. A rede de acesso WiFi nestes locais distribuídos por todo o país foi construída e é operada pela Antena Hungária, nosso sócio local”, acrescenta Felizardo.

Fornecedor Global de Serviços

Outro parceiro importante da Hungaro DigiTel é o Ministério de Relações Exteriores e Comércio da Hungria. O diretor-geral destaca que “temos projetos muito interessantes em andamento. Os esforços do governo húngaro de expandir para regiões que antes não eram parceiros comerciais tradicionais da Hungria (‘Abertura para o leste’, ‘Abertura para o sul’) também exigem comunicação com essas regiões (Ásia, África, América Latina), que posiciona a HDT basicamente como fornecedor global de serviços para o Ministério, criando links de Budapeste para lugares remotos como Chile, Indonésia ou África do Sul. O mundo não se tornou um lugar mais seguro na última década e esse facto torna necessário uma comunicação mais segura com embaixadas, consulados e outros escritórios de representação em todo o mundo. Portanto, se alguém parar na Embaixada da Hungria na China,  no Brasil ou em Angola, e quiser requisitar um documento, é provável que a Embaixada use os nossos serviços para verificar as informações através de uma ligação segura fornecida pela HDT.”

Melhores práticas e progresso

Portugal também alcançou um estágio bastante avançado na Europa na implementação do conceito de “governança eletrónica” (GE), oferecendo aos seus cidadãos a possibilidade de administração pública baseada na Internet. “Lá, temos muita dessas práticas recomendadas que não precisamos inventar; nós apenas tentamos importar essas ideias e sugerir que os nossos parceiros de cá as implementem. Os dois países são fáceis de comparar, pois são semelhantes em tamanho e número de habitantes; além disso, até o nível de desenvolvimento económico não é tão diferente”, explica António Felizardo. Como exemplo menciona que o cartão de identificação eletrónica introduzido na Hungria em janeiro de 2016, foi baseado em grande parte no modelo português.

“Somos obrigados – em resultado da competição, por um lado e da crescente procura dos nossos clientes, por outro – a usar tecnologias cada vez mais recentes, a nos tornarmos mais eficientes, a fornecer largura de banda cada vez maior. Obviamente, há progresso contínuo: a abertura para novos serviços (como o fornecimento de serviço de uplink ou a gestão da rede Wi-Fi) requer o investimento em novas tecnologias. Assim, a empresa sempre olha para frente, dá passos em frente, expande a sua rede internacional e hoje já estamos presentes em cerca de 70 países”, conclui o diretor geral da HDT.