Alda Lara (Angola) – À prostituta mais nova

por Fernando Lopes
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À prostituta mais nova

Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro…

E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda…

Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus…

E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada…
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor…

Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora…

Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua…”

Alda Ferreira Pires Barreto da Lara Albuquerque, conhecida por Alda Lara, nasceu em Benguela, a 9 de junho de 1930 e faleceu em Cambambe, a 30 de janeiro de 1962. Ainda nova mudou-se para Lisboa onde concluiu o 7º ano do Liceu. Posteriormente, frequentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e de Coimbra, onde se licenciou. Esteve ligada às actividades da Casa dos Estudantes do Império (CEI), sendo uma excelente declamadora, chamando a atenção dos poetas africanos que viviam em Portugal. Alda Lara criou uma grande produção poética, publicada apenas após a sua morte, através da recolha dos seus poemas feita pelo seu marido, o escritor Orlando Albuquerque. Após a sua morte, a Câmara Municipal de Sá da Bandeira, atual Lubango, instituiu o Prémio Alda Lara de poesia, em sua homenagem. (Fonte: Wikipédia)

Mais poesia de Alda Lara https://www.escritas.org/pt/alda-lara

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