«Ah, mas são verdes!» – A Raposa e as Uvas nas versões de Bocage e de la Fontaine

por Arnaldo Rivotti
image_pdfimage_print

A Raposa e as Uvas é um conto perfeito para as crianças perceberem e explorarem a musicalidade e plasticidade da língua portuguesa, com muito espaço para a fantasia e a imaginação.

Embora haja várias formulações, como essa que refere ou, mais simplesmente «Ah, mas são verdes!»  – exclamação referente àquilo que uma pessoa cobiça, mas de que desdenha por estar fora do seu alcance), a expressão consagrada é «Estão verdes, não prestam». Orlando Neves, no seu Dicionário das Origens das Frases Feitas, escreve: «A frase é do domínio comum para indicar alguém que desdenha algo porque não pode obter». Também a sua origem é conhecida. Corresponde a uma das fábulas que La Fontaine reescreveu.

Eis a versão dela, feita por Bocage:

“Contam que certa raposa,
andando muito esfaimada,
viu roxos, maduros cachos
pendentes de alta latada.

De bom grado os trincaria,
mas sem lhes poder chegar,
disse: ‘Estão verdes, não prestam,
só cães os podem tragar!’

Eis cai uma parra, quando
prosseguia o seu caminho,
e, crendo que era algum bago,
volta depressa o focinho.”»

A Raposa e as Uvas – Jean de La Fontaine

Certa raposa matreira,

que andava à toa e faminta,
ao passar por uma quinta,
viu no alto da parreira
um cacho de uvas maduras,
sumarentas e vermelhas.
Ah, se as pudesse tragar!
Mas lá naquelas alturas
não as podia alcançar.
Então falou despeitada:
– Estão verdes essas uvas.
Verdes não servem pra nada!

Moral da História: Como não cabem quatro mãos em duas
luvas, há quem prefira desdenhar a lamentar.

A Róka és a SZőlő –  Jean de La Fontaine

Róka koma a szőlőhegyre tartott.

A farkas megkérdezte: „Mit akarsz ott?”
Felelt a róka: „A tyúkpecsenye
Után jólesnék egy kis csemege.”
És ment. A szőlőben a lugasok
Léceiről dúsan lógott a sok
Finom fürt. Rókánk lábujjhegyre állva
Ágaskodott utánunk, de hiába:
nem érte el, s búsan elkullogott.

Az első, akivel találkozott,
a farkas volt; így hunyorgott feléje:
„Nos, ízlett?”
– „Mi?” – „A csemege!”
– „Miféle csemege?”
– „ Hát a szőlő!”
– „Ja vagy úgy?

Nem kellett. Utálom a savanyút.”

 

Fontes consultadas:

Orlando Neves – Dicionário das Origens das Frases Feitas (Lello & Irmão Editores, Porto)

http://mucsaigubis.gportal.hu/

Também poderá gostar de

O nosso website utiliza cookies para melhorar a sua experiência de navegação. Aceitar Ler Mais

Privacidade