Recentemente voltei a Portugal, à minha outra casa, para passar uma semana de férias e no meio de todos os reencontros e da histeria pandêmica em que vivemos, houve algo que me ficou bem marcado e do qual tenho pensado bastante. Os abraços.
Já com oito anos de idas e vindas ao meu país, aqueles primeiros abraços são sempre algo que com alegria anseio. Esse puro demonstrar desse sentimento tão nosso como é a saudade. Mas desta vez, havia algo mais, a força dos abraços era maior, mais quente, mais genuína, mesmo que segundos antes ainda haja aquela hesitação de se devemos abraçar ou não… E abracei a minha mãe, irmãos, família e amigos, muitos destes, que não via há muito tempo, tempo demais até, tudo pessoas que num momento ou outro partilharam comigo parte do caminho. Consegui abraçar o meu primo/irmão no dia do seu casamento e à sua agora mulher, também minha “irmã” de longa data. Até tive um completamente inesperado, no meio do dito casamento, onde uma grande amiga de longa data, que não estava convidada para o casamento (limitações impostas pela agora sempre presente pandemia), mas estando a passar por alí perto, decidiu fazer um pequeno desvio, arriscar, e vir dar um abraço aos noivos. Surpreendida de me ver alí, e eu a ela, demos um daqueles abraços cheios de felicidade, demorado e apertado, digno da amizade que por ali vive.
E notei ainda, algo mais nesses dias, o brilho nos olhos ao falar com cada um deles. O interesse com que me escutavam, o tentar meter ali, naqueles pequenos momentos que tínhamos, todas as conversas que guardámos todo este tempo, tudo com uma intensidade e sentimento máximo.
Acredito, que estes tempos de pandemia, nos mudaram a todos um pouco, não sei se para melhor ou pior, mas a verdade é que já não somos totalmente os mesmos que éramos antes. Felizmente, a amizade, essa não mudou, talvez até se tenha tornado mais forte, mais imune a tudo o que nos rodeia, e assim, ainda mais genuína. E o bom que é, voltar a pensar em todos os abraços que já demos, esse abrir os braços de forma vulnerável, e assim deixar que o nosso peito seja apenas protegido pelo também vulnerável peito que nos abraça.
Houve porém um abraço que me faltou, um abraço à minha avó, mãe do meu pai, que entretanto nos deixou, depois de ter vivido uma longa vida. Ficam todos os abraços que demos, e as peculiares histórias das suas conversas muitas vezes inconvenientes com qualquer pessoa que lhe levássemos a conhecer. Histórias que sempre faço questão de contar e romantizar com um grande sorriso e bastante carinho.
E termino com um singular abraço que recebi, um abraço diferente, calmo, quente e inesperado tal como o Alentejo onde o recebi. Ao sair do carro, numa paisagem amarelada seca, junto a uma cerca com cavalos, dei de caras com uma graciosa árvore em flor, e enquanto todos davam atenção a duas belíssimas éguas, razão pela qual alí estávamos, eu, com um momento de espanto a viver em mim perguntei, interrompendo a continuidade do tempo dos outros, que fantástica árvore era aquela… fiquei a saber logo em seguida, que esse maravilhoso abraço que recebi, era o de uma jovem romanzeira. Ficou-me na memória, como um novo amor, e penso que um dia destes, quando a clarividência me permitir, que será provavelmente no momento em que largamos este abraço e de novo a possa olhar nos olhos, lhe dedique as palavras que seguramente merece. Para já, fica o abraço.