A Verdadeira Música

por Garry Craig Powell
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Qualquer pessoa com a mínima sensibilidade terá notado que a qualidade da música popular deteriorou-se nas últimas décadas. Eu sei que os velhos sempre se queixam da música das gerações mais novas. Então serei eu apenas um velhote resmungão que não sabe apreciar a música que não seja da minha juventude? Nem por isso. Gostei de muita música nos anos noventa, quer dizer, a música que o meu filho mais velho ouvia, e de vez em quando, mas raramente, ainda gosto de ouvir um artista novo com talento, como a Amy Winehouse por exemplo, há apenas dez anos (o que não é nada para um Matusalém como eu!) Então o que aconteceu?

Muitas coisas – a questão é complexa, e não existe uma resposta só. Com o internet, e Spotify e outras plataformas parecidas, a maior parte das pessoas já não compram discos, nem pagam para a música. A consequência disto é que não é rentável para os editores discográficos produzir discos com artistas novos e desconhecidos, a não ser que tenham a certeza quase absoluta que vai ser um éxito. E como nenhum artista com a execeção dos super estrelas vai render muito com as vendas dos discos ou mesmo os downloads, os espectáculos ao vivo tornaram-se a maior fonte de rendimento. Por isso, o visual é mais importante que nunca: o artista deve ser jovem, bonito – ou preferívelmente bonita – e tem que saber dançar. O talento para cantar não tem importância, com auto-tune. E enquanto os músicos tinham de saber tocar, mesmo tão recentemente como os anos 90, e de facto haviam músicos maravilhosos nas bandas do Grunge de Seattle, e do mesmo periodo em Inglaterra, hoje em dia não é preciso, porque a música faz-se com computador.

Eis o problema maior. Como os lucros na indústria são muito menores, a gerência dos artistas, e os editores, tornaram-se muito conservadores. Não querem correr riscos com o investmento. Por isso, todas as canções novas seguem uma formula – e muitas vezes, são literalmente plagiarisadas, cópias das canções da minha juventude. Mas nesse caso, pelo menos, deviam ter alguma qualidade, ou não? Infelizmente, não! A razão é que a cópia ou a nova canção feita por formula é uma coisa morta. A música geralmente é feita inteiramente por máquinas, e nota-se. As vezes a cantora até sabe cantar, (sim, sei, também já ouvi os jovens que participam nos concursos de talento) – mas como normalmente cantam coisas sentimentais, que nem escreveram, e que são obviamente vazias, limitam-se a cantarolar, com ‘soul’, como os negros dos EUA, quer dizer com a melodia a vacilar e com uma palavra voando e mergulhando inúmeras vezes, sem paixão nehhuma, mas num facsimile sentimental e falso de paixão.

É assim, infelizmente, senhoras e senhores: é por isso que estamos sujeitos a ouvir as musiquinhas nojentes que hoje em dia estão onipresentes. Ninguém gosta dessa ‘música’, mas estamos obrigados a escutar-la no supermercado, na clínica médica, no restaurante e no café, no autocarro e no aeroporto, e até nas ruas das cidades, especialmente no mês antes do Natal, porque algum imbécil determinou que as pessoas compram mais quando ouvem essa poluição sonora. (Provávelmente sem ter feito estudos nenhuns.) A música pop tornou-se uma tirania, um fardo, que no meu caso causa sofrimento. De longe preferia o silêncio. No entanto, sou músico e adoro a música!

Há qualquer solução? Talvez não, como muito obviamente estamos a perder a liberdade, e cada ano estamos mais controlados, tratados apenas como consumidores uniformes. O que eu faço? As vezes, protesto, peço que fechem a música, ou que pelo menos baixem o volume. Resulta de vez em quando. Queixo – como estou a fazer aqui! E além disso, toco a minha guitarra, para mim e com amigos, como os senhores na foto (que tirei dentro do Hotel Palácio de Buçaco). E só assisto a concertos com músicos humanos. Nada de DJs ou de lixo eletrónico. Voto com os pés e com a carteira – a única língua que entendem os empresários que controlam a cultura.

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