A semana (A Hét) – O Partido Comunista da China e a Hungria de Orbán

por András Gellei
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Assinado. Irreversível. Não há melhor – Universidade chinesa Fudan sim! CEU não! Quero, posso e mando! Estamos ou não estamos legitimados pelo apoio da esmagadora maioria dos eleitores?

Somos ou não somos uma democracia iliberal?! Então qual é o problema? Qualquer comunismo é melhor que o liberalismo! Comunismo chinês, pujante e triunfante, sim! Ocidente, fraco e decadente, não!

Da teoria e da prática: Dos ensinamentos de Mao, Xi e Orbán

“Comunismo não é amor, comunismo é um martelo com o qual se golpeia o inimigo.” ou “Devemos apoiar tudo o que o inimigo combate, e combater tudo o que o inimigo apoia”. Mao Tse Tung

“A linha da vida de uma teoria reside na inovação, e é um dever sagrado dos comunistas chineses de desenvolver o marxismo.” ou “O PCC liderará o povo chinês na busca inabalável do caminho da reforma e da abertura.” Xi Jinping

“Devemos antes de mais defender a independência e a soberania da Hungria, e se necessário, devemos recuperá-la.” ou “A Europa tem de ser salva. Devemos levar muito a sério as tradições, as raízes cristãs, e todos os valores que são a base da civilização europeia.” Viktor Orbán

O martelo de ferro, a inovação e a unidade da nação chinesa para salvar a pobre e indefesa Europa cristã. Claro! Claro como o vinho amarelo Huangjiu… eu por mim, prefiro o vinho de arroz chinês. Claro com o “livrinho vermelho” de Mao na mão!…

Assinado Acordo Hungria – Universidade Fudan (China)

Na passada terça-feira (27 de abril) foi assinado o acordo entre a Hungria (governo Orbán) e a Universidade Fudan (China).

O Ministro da Inovação e Tecnologia László Palkovics e o Presidente da Universidade Fudan Xu Ningsheng, assinaram um acordo estratégico para que se torne irreversível a criação da Universidade Fudan Hungria.

Entre outros entendimentos, os signatários confirmaram que a Fudan poderá “contribuir para melhorar o ensino superior húngaro através de uma concorrência saudável entre universidades, com professores estrangeiros de renome”.

A Fudan Hungria terá faculdades de economia, artes e estudos sociais, ciência, engenharia e medicina, prevendo-se que venha a empregar 500 professores e oferecer cursos a cerca de 6-8 mil estudantes, diz a declaração.

A Fudan é a 34ª melhor universidade do mundo, segundo o ranking QS World University. O seu campus central em Xangai tem 4.500 professores e mais de 30 mil estudantes. (Recordar: a Hungria tem uma população de 9,7 milhões de habitantes e a China de 1,4 mil milhões. Nós húngaros todos juntos cabemos em uma cidade chinesa média!)

A Fudan Hungria será o primeiro campus estrangeiro da universidade chinesa. László Palkovics, afirmou que o projecto da Universidade de Fudan, é um dos melhores do mundo, e será construído até 2024.

Polémica instalada já antes da instalação da Fudan

Atenção: apesar da sua importância, a polémica tem ajudado Orbán, tem desviado as atenções do morticínio provocado pela pandemia que já vai em mais de 28 mil mortes, devido aos erros sucessivos do governo.

Com a discussão pública e o impacto que o assunto assumiu, não apenas político e ideológico, mas também económico e social, o ministro Palkovics fez questão de sublinhar que o campus de Fudan não iria roubar „nem um m2 de espaço à Cidade Estudantil projetada para Budapeste e para a qual, o governo, já em 2017 tinha definido um valor de 220 mil milhões de forints”.

As contas: Quanto vai custar Fudan ao bolso dos húngaros?

Em primeiro lugar sublinhar que de acordo com os próprios números do governo, a instalação do campus de Fudan vai custar mais dinheiro do que todo o dinheiro gasto em 2019 pelo Estado Húngaro com o funcionamento do sistema de ensino superior.

O campus da Fudan em Budapeste é um investimento de 550 mil milhões de forints. O Estado húngaro avançará com 100 mil milhões de forints e a China emprestará 450 mil milhões. Um investimento total de quase 1,5 mil milhões de euros!

Mais uns “trocos” de dívida, para juntar ao empréstimo chinês de 700 mil milhões de forints (cerca de 2 mil milhões de euros) para a construção da linha ferroviária Budapeste-Belgrado, integrada no grande projeto chinês Rota da Seda.

A China na Hungria – Uma questão de segurança nacional?

Muitos consideram, aqui e além fronteiras, que o campus da Fudan deve ser considerado um risco de segurança. A oposição húngara considera que a universidade de Fudan pode representar um risco grave para a Hungria, UE e NATO.

Na passada quarta-feira o Secretário de Estado norte-americano fez questão de sublinhar que a presença russa e chinesa na região é uma preocupação crescente para a administração Biden (Trump teria muito provavelmente dito o mesmo ou pior).

No dia anterior, os norte-americanos criticaram a possível abertura do primeiro campus europeu da universidade chinesa na Hungria, afirmando que Pequim tem “um comprovado histórico de utilização das suas instituições de ensino superior para ganhar influência e sufocar a liberdade intelectual”.

Uma investigação recente do portal Direkt36 mostrou os laços estreitos da universidade com os serviços de inteligência chineses – a Universidade Fudan lançou a sua própria escola de espionagem em 2011.

A Fudan é também considerada a escola de elite do Partido Comunista, em que, pelo menos, um quarto dos seus estudantes têm de ser membros do partido.

As fases da “Abertura ao Oriente”. China

A política de Abertura a Oriente, de Orbán, na esperança de conseguir “navios” de dinheiro chinês, na prática nunca resultou em apoios significativos ou importantes investimentos chineses.

Por outro lado, o ambiente favorável à China na Hungria de Orbán, veio mesmo a calhar para os serviços chineses “especializados”, que puseram aqui os pés, como nunca antes o tinham feito, utilizando para isso, empresas, instituições, estudantes universitários, ou chineses detentores de títulos de residência obtidas através de Visa Golden.

Péter Szijjártó – o Grande Amigo da China

Szijjártó, o Ministro Húngaro dos Negócios Estrangeiros, a propósito da acesa discussão, disse que Fudan é uma das melhores universidades do mundo, que seria uma “tolice perder esta oportunidade”.

Mas é nos detalhes que o diabo dorme. Se é bom agora que é a Fudan, porque não foi para a CEU Universidade Central Europeia?

Recorde-se, o governo húngaro aprovou legislação específica para obrigar a CEU, a deixar o nosso país e transferir o seu campus para Viena, apesar das semelhanças, de ser ela também considerada uma instituição com prestígio.

O “camarada” Szijjártó esqueceu-se de explicar a razão pela qual pensa que a universidade controlada pelo Partido Comunista Chinês é melhor do que a “CEU de Soros”…

Magyar Nemzet: Se Fudan é boa para Soros, Lagarde, Obama, porque não pode ser para Orbán!?

O Magyar Nemzet, o Diário do Povo, o L’Humanité de Orbán, mais uma vez, descobriu e desmascarou a jogada suja da esquerda!

Magyar Nemzet: “Soros não teve medo de Fudan”!

“Na Hungria, a esquerda ataca a Universidade Fudan, mas proeminentes líderes políticos e financeiros, académicos e homens de negócios, levam a instituição muito a sério.

George Soros (em 2008) e a ex-directora-geral do FMI Lagarde (em 2015) deram ali palestras, e (em 2009) o Presidente Obama respondeu a perguntas de alunos da Fudan, num fórum de estudantes em Xangai” (Magyar Nemzet, 27 abril).

Ao que chegou o “órgão do comité central” do Fidesz! Usar na narrativa Soros (e Obama) como exemplo para justificar Orbán!? Os propagandistas laranja devem beber aguardente chinesa Moutale a mais e não estão habituados…

Houve coisas que o artigo “esqueceu” de escrever – as alterações (umas mais recentes que outras) sobre a Carta de Constituição da Universidade.

A Universidade Fudan submetida ao Partido Comunista Chinês

Pode ler-se no preâmbulo do documento sobre o Partido-Estado, sobre a inquestionabilidade da sua própria ideologia e estrutura de poder. A universidade é leal à liderança do Partido Comunista, implementa a política educacional do Partido, aceita o papel de liderança do marxismo, a gestão educacional socialista, que Fudan está para servir o PCC.

A Carta declara que o principal órgão de decisão da universidade é o Comité do Partido, que rege:

– A seleção, formação, avaliação e supervisão dos quadros do partido.

– O trabalho ideológico e político levado a cabo na universidade.

– Formar professores e estudantes com o novo caráter chinês do socialismo sob a liderança do Presidente chinês Xi Jinping.

– A aplicação estrita da disciplina partidária.

Em frente! Avançando sob a “bandeira vermelha” de Mao e Xi – aplicada às particularidades na Hungria de Orbán – seremos invencíveis!

Os dados económicos da “Abertura ao Oriente”

Apesar do incontido e mil vezes repetido, verbalismo de Szijjártó, são escassos os resultados económicos efetivamente conseguidos pelo governo Orbán com a “Abertura ao Oriente”.

O investimento acumulado da China na Hungria, em fins de 2019 era pouco mais de 2,3 mil milhões de euros. Quem ouvir Szijjártó pensa que será pelo menos 10 vezes mais…

Em 2020 a China exportou para a Hungria 7,7 mil milhões de euros e a Hungria exportou 1,8 mil milhões. Um défice de quase 6 mil milhões que tem vindo a aumentar ano após ano. Do montante exportado para a China, quase 80%  (60% são motores Audi) teve origem em empresas de capital alemão, instaladas na Hungria.

Como escreve o portal Direkt36 sobre o nosso governo, “é a sua estratégia de convencer todos de que são os principais parceiros da China. Que temos estendido para nós, o tapete vermelho, temos todas as reuniões de alto nível, e isso engana-nos: acreditamos que para os chineses somos especiais”

Segundo um ex-funcionário diplomático, muitas pessoas consideram o governo húngaro pró-chinês precisamente porque, enquanto p.ex os alemães fazem negócios em silêncio, Orbán e a sua gente, passa o tempo a elogiar pública e ruidosamente a China de Xi. Como se diz “Idiota Útil” em mandarim?

Ontem, hoje e amanhã.Tibete? Uigures. O que é isso?

Muitos de nós já se esqueceram, mas na primavera de 2009, destacados políticos do Fidesz protestaram pela liberdade do Tibete em frente à embaixada chinesa em Budapeste. Nem tiveram que andar muito, a sede do partido e a embaixada eram quase vizinhas.

Vários deles são hoje membros de proa do governo Orbán: Gulyás, Rogán e imagine-se…Szijjártó…

Há cá cada processo de reeducação mais eficiente!

A viagem de Orbán a Pequim em dezembro de 2009, quando ainda estava na oposição, marcou o ponto de viragem na relação do Fidesz com o Partido Comunista da China.

Segundo o portal Direkt36, de acordo com uma fonte envolvida na preparação da viagem, os chineses, astutos e com olhos no futuro, deram uma “aula magistral de realpolitik”, e perdoaram a anterior retórica anti-chinesa e anti-comunista do Fidesz.

“Pode-se insultar a China enquanto se está na oposição, mas eles perdoá-lo-ão se fizer algo completamente diferente quando estiver no governo, provar que quer ser amigo”, disse a fonte sobre o comportamento “exemplar” da liderança chinesa.

Orbán: A conversa com XI ou a “reeducação” contínua

Foi com alegria e evidente auto-estima que na sua página oficial FB, o nosso Primeiro-Ministro anunciou nesta quinta-feira que tinha estado ao telefone com o presidente Xi.

“Egyeztetés a kínai elnökkel. Újraindítjuk a diplomáciát. Meghívás Pekingből: elfogadva // Phone call with the President of China. We are restarting diplomacy. Invitation from Beijing: accepted”

Curiosos fomos ver o que escreveu sobre a reunião o MNE da RP da China*. Eis excertos do comunicado oficial:

A 29 de Abril de 2021, o Presidente Xi Jinping teve uma conversa telefónica com o Primeiro-Ministro Húngaro Viktor Orbán.

Xi Jinping salientou que desde o surto da COVID-19, a China e a Hungria, bem como os dois povos, têm vindo a apoiar-se mutuamente e a levar a cabo uma boa cooperação em áreas como a prevenção e controlo de pandemias, bem como o reinício do trabalho e da produção, o que tem alcançado resultados importantes.

Xi Jinping salientou que a China aprecia muito a Hungria pela sua firme adesão a uma política amistosa em relação à China, bem como pelas suas contribuições significativas para o avanço da cooperação entre a China e os países da Europa Central e Oriental (PECO) e para a salvaguarda das relações globais China-Europa.

A China está disposta a conduzir uma estreita comunicação estratégica com a Hungria, consolidar a confiança mútua política, e tomar o caminho-de-ferro Hungria-Sérvia e outros grandes projetos como guia para aprofundar a cooperação prática em vários campos.

Orbán observou que a Hungria e a China levaram a cabo uma estreita cooperação no combate à pandemia, especialmente em matéria de vacinas.

A China deu um apoio oportuno e valioso à Hungria e desempenhou um papel importante na contenção da COVID-19 na Hungria. O lado húngaro está profundamente grato e espera continuar a aprofundar a cooperação em matéria de vacinas com a China.

A Hungria atribui grande importância às suas relações com a China. Orbán está satisfeito por o comércio bilateral ter registado um crescimento positivo apesar da pandemia, acolhe com agrado mais empresas chinesas para investirem e se associarem à Hungria, e proporcionar-lhes-á um ambiente de negócios sólido.

A Hungria está pronta a trabalhar com a China para avançar ativamente na construção do caminho-de-ferro Hungria-Sérvia, e continuará a desempenhar um papel positivo na promoção da cooperação entre os PECO e a China.

Curiosamente a diplomacia chinesa é omissa sobre o convite de que falou Orbán.

Com ou sem convite, não há dúvidas. A Huawei, a Fudan, os “especialistas residentes”, a Rota da Seda (Selyemút) agradecem…

Selyemút (“Rota da Seda”) ou selyemzsinór (“cordão de seda” – método de execução utilizado no Império Otomano)?…

 

*Texto completo do comunicado oficial do MNE da RPC

https://www.fmprc.gov.cn/mfa_eng/zxxx_662805/t1872804.shtml

 

András Gellei, Budapeste, 2 de maio de 2021

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