A Semana (A Hét) – Eleições. Tu votas por correio. Eles votam presencial

por András Gellei
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Eleições gerais de 2022

Estamos a pouco mais de 1 ano das eleições gerais, que deverão ocorrer na segunda quinzena de abril de 2022. Apesar da gravíssima situação da pandemia, o Fidesz e os 6 partidos da oposição unida – até agora unida, e mais rigorosamente, quase toda a oposição – estão já a preparar-se para o duro combate que se avizinha.

A lei eleitoral de Orbán, os votos por correio e Gábor Vona

Nos últimos dias a questão da lei eleitora, e em particular, a regulamentação relacionada com a participação dos húngaros que vivem no estrangeiro, ou que “lá estejam, no dia das eleições”, voltou a ser um dos temas principais da discussão política, abrilhantado com uma surpresa, o “regresso” do ex-presidente do partido populista Jobbik, o nacionalista de direita Gábor Vona.

Na semana passada, no dia 14 de março, Gábor Vona lançou o “primeiro referendo online” da Hungria com o objetivo de que os cidadãos húngaros que trabalham no exterior possam, tal como os húngaros com dupla nacionalidade que vivem nos países vizinhos (Roménia, Sérvia, Ucrânia, etc) possam votar por correio.

“Concorda que os eleitores com residência permanente na Hungria que estiveram no estrangeiro no dia do escrutínio possam votar por correio nas eleições gerais?”

O “digitalizado” Gábor Vona destacou a necessidade de aproveitar as oportunidades que o mundo online oferece, que o seu objetivo é devolver às pessoas o direito de participar e tomar parte das decisões. “Não estamos tão longe disso, apenas a um clique de distância”, razão pela qual sua iniciativa foi nomeada “Clickocracy”.

Tão amigos que eles são!

No dia seguinte Gergely Karácsony, presidente da CM de Budapeste, co-líder do partido Párbeszéd e um dos potenciais candidatos a candidato a primeiro-ministro da oposição unida escreveu no Facebook que apoia a iniciativa de Gábor Vona, para que os húngaros que vivem fora também possam votar por carta. “Cada nação é uma comunidade política e ninguém nesta comunidade se deve sentir um cidadão de segunda”, acrescentando que os laços entre os húngaros que se mudaram para o estrangeiro e a pátria precisam de ser reforçados.

Votar por correio ou votar presencialmente

Mas afinal de contas qual é a importância e qual a diferença do votar por carta ou votar presencialmente, nas embaixadas e secções consulares da Hungria no estrangeiro?

Vamos por partes, com números, resultados

Nas últimas eleições gerais de 2018, o Fidesz obteve a terceira vitória consecutiva, com a maioria de 2/3 de lugares no parlamento, 133 dos 199 lugares e com 2,824 milhões de votos na “lista nacional”. A oposição somada teve 2,691 milhões de votantes.

Por correio e pela primeira vez, votaram os húngaros que vivem para lá das fronteiras, em territórios outrora húngaros, e que têm a dupla nacionalidade, razão pela qual podem votar, enviar por carta o seu voto para “anyaország, mãe-pátria”.

São os números Uraim! Meus Senhores! Dos 224 mil votos recebidos por correio, 216 mil foram no Fidesz, mais de 96% dos votos! A oposição dizia “amargurada”, é uma votação a la Hungria do Norte de Kim Orbán!

”Curiosamente”, para votar, os mais de 600 mil cidadãos húngaros (cálculos recentes do site portfólio.hu), sobretudo jovens que desde a adesão da Hungria à União Europeia – em 1 de maio de 2004 – saíram à procura de trabalho (ou estudar) na Europa, têm de se deslocar às embaixadas ou consulados da Hungria nos diversos países.

É “consensual”, que esta “discriminação positiva” dos húngaros das minorias étnicas perante os seus irmãos emigrantes da diáspora, não tem nada de inocente, bem pelo contrário. Atualmente ainda é mais evidente – as sondagens valem o que valem, mas não há dúvidas, a grande maioria dos húngaros que vivem no Reino Unido, Alemanha, Áustria, Holanda, etc, não vão à bola, não votariam em Viktor Orbán.

O sistema eleitoral húngaro é “híbrido”.

Uma nota muito breve: o sistema eleitoral húngaro é “híbrido”, com 2 boletins de voto para – os 106 círculos uninominais, em que em cada um, é eleito o candidato que tiver mais votos (maioria relativa) e os 93 lugares da “lista nacional”, resultado dos votos na lista, mais os votos “desperdiçados”, os votos que não elegeram nos círculos uninominais, para os partidos, que a nível nacional tenham tido pelo menos 5%.

Em 2018 contra a oposição “cada um por si”, com uma participação eleitoral de 70,2%, o Fidesz ganhou 91 dos 106 e 42 dos 99 lugares, respetivamente. Conseguiu os 2/3 dos deputados com 49,3% dos votos. Os 216 mil votos por correspondência no Fidesz foram decisivos para a maioria de dois terços!

E agora? Qual é a situação (as sondagens)?

As diversas sondagens até agora realizadas, mostram que nas eleições de 2022, pode haver, sem precedentes, uma situação de taco a taco até ao fim. Quando se considera a oposição unida contra o Fidesz, as sondagens indicam, na maioria dos casos, que a coligação anti-Orbán leva a melhor por 2-4% entre os que vão e já decidiram em quem votar. Segundo as sondagens realizadas, a oposição unida vale, em média, pelo menos, mais 4% do que a soma dos 6 partidos que a constituem.

É uma situação completamente nova, sendo que por um lado, a “unidade do mínimo divisor comum da oposição” no terreno, está ainda por se consolidar, e por outro, ao fim de 12 anos, Viktor Orbán terá um adversário capaz de o vencer, a coligação anti-Orbán da oposição. Se oposição ainda estiver unida na primavera de 2022…

Os resultados ”anunciados”

Também na Hungria, em política, 1 ano é uma eternidade! Com Orbán é uma eternidade vezes 3! Orbán tem as ferramentas principais – a máquina oleada da “propaganda leninista”, o partido-estado mobilizado e a caixa-forte da massa toda…

Mas sabe melhor que ninguém que desta vez a batalha da sua vida… é pela maioria absoluta (50% + 1), não a maioria qualificada de dois terços como tem sido.

É aqui que entram em cena os votos por correio!

O voto por carta dos húngaros que vivem nos países vizinhos, vai ser mais importante e mais decisivo do que nunca, e sejamos claros, nestes últimos 4 anos, pensando no futuro, o governo Fidesz investiu como jamais, nas zonas habitadas pelas minorías étnicas húngaras. Há quem diga que os votantes Fidesz poderão mesmo duplicar…

Anda muita gente distraída…destes votantes “esquecidos” não rezam as sondagens…

 

András Gellei, Budapeste, 21 de março de 2021

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