Dizem que o futebol são 11 contra 11 e no final ganham os alemães. Futebol (e ganhar) é o desporto favorito (é a vida) de Viktor Orbán – com, sem ou contra os alemães.
A evidente ”miséria franciscana” da centralização-coordenação-programação-distribuição”, da negociação amadora e lentidão da Comissão Europeia, abriu, escancarou a janela de oportunidade que Viktor Orbán há muito esperava para passar ao contra ataque total (totális elentamadás!), como gosta – tanto na política como no futebol. Mais na política!
Ter um novo slogan para juntar e unir ”as tropas fiéis” na defesa do povo húngaro da “infecção” que vem de fora, do ocidente! Para unidos e militantes, marcharem alinhados até a última aldeia da Hungria! Até abril de 22, com a máquina oleada da propaganda do partido-estado a indicar o caminho.
Orbán já não precisa da bandeira meio-gasta dos migrantes ou de Soros. A nova bandeira do combate tem a vacina contra o covid-19 como símbolo maior. E o mais importante, salvar o magyar nép (povo húngaro) sem ajuda dos esquerdistas-liberais de Bruxelas.
Vamos lá aos factos-vacina covid antes que esqueça o mais importante…
Através da União Europeia, a Hungria encomendou mais de 19 milhões de doses de vacinas: 6,6 milhões da Pfizer/BioNTech, 6,5 milhões da AstraZeneca, 4,4 milhões da Janssen (Johnson & Johnson) e 1,7 milhões da Moderna.
Tal como disse Orbán: ”quem ganha tempo ganha vidas e cada vida húngara conta para nós” e que perante a insuportável lentidão de Bruxelas, não podia ficar de braços cruzados, tinha que procurar, de forma autónoma e urgente, outras alternativas.
Em tempo recorde e devido ao trabalho do seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, logo em janeiro, a Hungria fechou negócio em Moscovo, com pompa e circunstância, com Szijjártó ao lado do seu colega russo Lavrov, sobre 2 milhões de doses da vacina russa Sputnik V – assim distribuídas,
primeiro fornecimento em fevereiro, com doses suficientes para 300 mil húngaros (ou seja 600 mil doses), segundo fornecimento em março para 500 mil (1 milhão de doses) e em abril para 200 mil pessoas (400 mil doses).
Pouco tempo depois do acordo Hungria-Rússia sobre a vacina, seguiu-se o acordo Hungria-China de 5 milhões de unidades da vacina chinesa Sinopharm – 500 mil doses por mês, suficiente para 250 mil pessoas/mês.
Os números são números. Independentemente do que acontecer com as vacinas que venham através de Bruxelas, nos próximos meses, o governo húngaro negociou e está a contar com o fornecimento de 7 milhões de doses da vacina, por parte da Rússia e da China.
Situação actual
Neste momento a vacina russa já está a ser administrada, e ao contrário do que muitos diziam, também cientificamente, parece ser segura e eficaz.
As primeiras doses da vacina chinesa Sinopharm já estão em Budapeste e a sua utilização prática é uma questão de dias, de horas, e até o próprio Orbán disse recentemente que quando chegar a sua vez de ser vacinado, se ele puder escolher, escolhe a vacina chinesa.
Como na Hungria de Orbán não se dá ponto sem nó e como a estratégia da diversificação do abastecimento de vacinas contra covid-19 parece estar a resultar, para não haver obstáculos técnicos ”desnecessários”, espera-se para breve que a legislação nacional de saúde pública seja atualizada de modo que se aprove automaticamente qualquer vacina que no mundo tenha já sido inoculada a mais de 1 milhão de pessoas.
Os ecos internacionais da estratégia de Orbán da ”terceira via pela vacina”…
De Bruxelas e de outras capitais europeia, a estratégia de Orbán é obviamente olhada de lado, e até provavelmente considerada “imprudente e divisionista”, mas diga-se que as limitações e proibições da CE – p.ex. declarar que os Estados-membros individuais só podem encetar negociações com fornecedores de vacinas que não estejam em conversações com a UE, não deixa de ser cómico para nao dizer ridículo. É jogar sem defesas e permitir que Orbán marque os golos que quiser na baliza do adversário. É isso que Orbán precisa da parte de Bruxelas, porque para as vacinas está cá ele e em particular o seu MNE P. Szijjártó.
Pelos últimos desenvolvimentos talvez se possa afirmar que não faltará muito tempo para que outros países da União Europeia – mesmo entre os mais importantes – sigam os passos do governo húngaro e comprem grandes quantidades de vacinas, primeiro da russa Sputnik V e depois da chinesa Sinopharm. Muito em breve estaremos mais informados.
Orbán dá mais uma ”canelada” aos burocratas de Bruxelas
Para demonstrar quanto humano (e húngaro) é, em contraposição aos burocratas de Bruxelas, Orbán numa das suas últimas entrevistas das sextas-feiras à Kossuth Rádio, não se coibiu de sublinhar que entendia que fosse importante para os burocratas de Bruxelas que obtivessem vacinas tão baratas quanto possível, o que é compreensível, porque poderão ser atacados sobre se foram suficientemente cuidadosos nas suas negociações financeiras na compra de vacinas.
”Mas para nós, que não somos burocratas de Bruxelas mas sim húngaros, o dinheiro não é irrelevante, mas secundário em relação à vida dos nossos compatriotas e isto talvez não seja tão óbvio em Bruxelas como aqui, em Budapeste”. O Salvador de vidas húngaras!
Mas nem tudo o que parece é
Na semana passada houve 2 momentos importantes no ”combate húngaro” pela vacina contra o covid-19. Um teve grande destaque, foi nesta sexta-feira, com Orbán a dizer na Kossuth Rádio que com a chegada da vacina chinesa, todos os húngaros que estão registados para a vacina, quase 2 milhões, até a Páscoa serão inoculados. Curiosamente desta vez, da vacina russa não “rezou a entrevista”…
No dia anterior, na quinta-feira, G. Gulyás, Ministro-Chefe do Gabinete o PM na conferência de imprensa semanal, afirmou que durante o mês de fevereiro, no total a Hungria receberá 200 mil doses da vacina russa Sputnik V, quantidade suficiente para 100 mil pessoas, mas que é apenas 1/3 do anunciado por Szijjártó em Moscovo… Fiquem atentos que a procissão ainda nem saiu da igreja…
Ganhar as eleições à custa da vacina contra o covid-19?
Gosta-se ou não do PM húngaro e da sua estratégia, ninguém tem dúvidas – É um grande jogador! Um perigoso e combativo avançado. Não sei se teria lugar na Die Mannschaft – e como sabemos nem a grande seleção alemã ganha sempre – mas, pautado pelas cornetas da imprensa oficial, há em Budapeste um sentimento de que o ”sol do sucesso de fevereiro está intenso a brilhar para Viktor Orbán”… Se fosse por ele certamente que nem esperaria por abril de 2022, por ele as eleições poderiam ser já em abril de 2021…
Quanto a pergunta acima e parafraseando uma frase-provérbio muito usada na Hungria de que “é nos detalhes que se esconde o diabo”… 4 perguntas:
- Que seria, que será da população húngara sem as vacinas obtidas ou a obter através de Bruxelas?
- Que sucederá se os atrasos da vacina Sputnik imitarem os atrasos dos fornecimentos de Bruxelas?
- Será que a maioria dos húngaros vai aceitar não poder escolher o tipo de vacina e quem disser não ”vai para o fim da fila” (sic, Orbán)?
- Está a maioria dos húngaros disposta a ser inoculada pelas vacinas russa ou chinesa?…
András Gellei, Budapeste, 14 de fevereiro de 2021