Entrevista exclusiva com Manuel Campilho, Chairman da Quinta da Lagoalva de Cima (Alpiarça – Portugal)
O vinho projeta o nome e a Lagoalva também faz azeite e vinagre e cria cavalos lusitanos. Mas as grandes produções são floresta, cereais, hortícolas, carne de ovinos e bovinos em regime extensivo, sem rações. Pela genealogia, será um latifúndio (no sentido de grande propriedade rural da aristocracia). Pelo aproveitamento da terra, será o contrário de um latifúndio (no sentido de terras ao abandono). Aqui, os senhores da terra aproveitam pragmaticamente a terra – quase sem braços. Algumas máquinas substituíram muitos homens. Até a vindima é mecânica. – Vinho, azeite, cortiça e cavalo lusitano são os produtos de excelência que o mundo rural português deve produzir – diz e repete Manuel Campilho. Fala também dos magníficos solos da Hungria e da sua ligação à Hungria…
Antes de mais, Manuel Campilho, obrigado por conceder esta entrevista ao Lusomagyar News e por esse tempo concedido a nós, na qualidade de simples leitores, como tantos outros.
Por favor em primeiro lugar faça-nos uma breve apresentação sua e do Grupo Quinta da Lagoalva
A Quinta da Lagoalva de Cima estende-se pela margem sul do Tejo, a cerca de 2 km da Vila de Alpiarça e a 11 Km de Santarém. Em 1834, a Quinta da Lagoalva é comprada por Henrique Teixeira de Sampayo, 1º conde da Póvoa. Em 1841-42 todos os bens passam para D. Maria Luísa Noronha de Sampaio, que casa em 1846 com D. Domingos António Maria Pedro de Souza e Holstein, 2º Duque de Palmela, revertendo a partir dessa época os bens para a Casa Palmela. sucessivamente sempre em poder dos seus descendentes, as terras são hoje pertença da Sociedade Agrícola Quinta da Lagoalva de Cima SA, que tem como principal atividade a produção de: vinho, azeite, batata, ervilha, cereais, carne (ovina e bovina), floresta (cortiça, pinho para produção de pinhão e madeira).
Soubemos que já na universidade estudou e sabia sobre a qualidade dos solos agrícolas húngaros. Conte-nos do seu primeiro ”contacto” com a Hungria
Sim! Sou agrónomo formado no Instituto Superior de Agronomia e na cadeira de Agricultura Geral, o professor Ario de Azevedo referia-nos a boa qualidade dos solos húngaros, nomeadamente os Chernozem, solos que viemos a constatar mais tarde como sendo fantásticos, mas atenção, é preciso saber trabalhá-los! São conhecidos como solos de um minuto. Têm um enorme potencial produtivo, mas com uma sazão muito curta. Quanto menos lhe mexermos, melhor! Quanto melhor e mais moderna for a tecnologia usada para os trabalharmos, melhor serão os resultados obtidos. A agricultura de conservação é sem dúvida alguma a tecnologia a usar. Concordo com Márta Birkás, grande Professora de Agronomia húngara e grande amiga. É sempre um prazer encontrar esta Senhora! Gostaria de sublinhar, mudar o sistema tradicional de trabalho do solo é uma obrigação de todos nós agrónomos e de todos os que se preocupam com questões ambientais!
Com que objetivos visitou pela primeira vez a Hungria e quais foram as suas primeiras impressöes?
Em primeiro lugar gostaria de dizer que da primeira vez que o meu irmão Miguel e eu visitámos a Hungria, já passaram uns bons anos, foi em visita de prospeção de novas oportunidades de negócio. Na altura, fomos acompanhados pelo representante português da AICEP, junto da Embaixada de Portugal na Hungria, Joaquim Pimpão, que nos organizou uma visita com panorâmica geral da Hungria. Talvez por ele ser, além de diplomata económico, também um grande amigo da Hungria, onde vive há muitos anos com família luso-húngara, a verdade é que me pegou o gosto. Foi aí que começou a minha paixão pela Hungria!
Grande país e tão maltratado pelos aliados e soviéticos, tanto depois da primeira como da segunda guerra mundial. Não esquecer Trianon, onde a Hungria perdeu parte muito significativa do seu território, com ocupação soviética que durou de 1945 até 1989.
Anos mais tarde, passou a deslocar-se regularmente à Hungria, durante vários anos seguidos como consultor da Bonafarm, maior Grupo agro-alimentar húngaro. Fale-nos do porquê, o que fez, qual é a sua opinião do campo, da agricultura húngara?
Tive o grande prazer de como consultor, durante 9 anos visitar com muita assiduidade a Hungria e o grupo Bonafarm*. As alterações climáticas, tema muito atual, também afetam a Europa Central e a quantidade de neve e chuva que tradicionalmente se abatem sobre a Hungria diminuíram acentuadamente ou, pelo menos, têm uma maior irregularidade. Regar passou a ser importante num país onde também chovia no Verão! As plantas alimentam-se bebendo. Sem chuva há que regar para alcançarmos elevadas produções, como acontece já em algumas zonas da bonita Hungria. Ora, regando tudo muda e naturalmente o trabalho do solo também! Quanto menos mexermos menos estragamos. Menor compactação, melhor capacidade de infiltração da água, maior oxigenação das raízes, maior desenvolvimento vegetativo, melhor resultado cultural e maior sucesso agrícola. Era disso que falávamos e é isso que o mundo moderno tem que fazer! Maior preocupação ambiental numa produção agrícola mais amiga do ambiente, mais inteligente e que a todos interessa proteger.
Parece-nos que gosta da Hungria. Quando pensa lá voltar?
Gosto muito da Hungria! É um país maravilhoso que muito aprecio. Em breve voltarei!
*O Grupo Bonafarm, maior grupo agro-alimentar da Hungria e um dos maiores conglomerados da região, com um volume de negócios (2018) de 266 mil milhöes de forints (cc 840 milhões de euros), pertence a Sándor Csányi, Presidente-CEO do banco OTP e um dos dois multimilionários mais ricos da Hungria. O Grupo Bonafarm é constituído pelas seguintes empresas: Pick Szeged Zrt, Bóly Zrt, Dalmand Zrt, Agroprodukt Zrt, Fiorács Kft, Bonafarm-Bábolna Takarmány Kft, Csányi Pincészet Zrt e Sole-Mizo Zrt.
Foto de Manuel Campilho em Dalmand