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Atentado Patrimonial: declaração de Impacte ambiental favorável à mina de lítio em Boticas

Autarca de Boticas reage com tristeza e preocupação a DIA favorável à mina

O presidente da Câmara de Boticas reagiu com tristeza e preocupação à Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável condicionada à mina de lítio do Barroso e afirmou que o concelho não “está à venda”.

“A reação é de tristeza e de preocupação”, afirmou Fernando Queiroga à agência Lusa.

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) disse hoje, em comunicado, que decidiu viabilizar ambientalmente a exploração de lítio na mina do Barroso, no concelho de Boticas, distrito de Vila Real, emitindo uma DIA favorável, mas que integra um “conjunto alargado de condicionantes”.

O autarca reagiu com preocupação porque, segundo acrescentou, a mina “vai pôr em causa o investimento que Boticas tem seguido e que é baseado na agricultura, na pecuário e no turismo”.

“Não pensaram nas pessoas, no concelho, no território e acima de tudo no selo que temos e que é único do Barroso Património Agrícola Mundial”, salientou.

Acrescentou ainda não entender “como é que possível fazer um investimento desta envergadura contra as pessoas”.

“Sempre nos foi dito que só iria haver exploração mineira se houvesse o compromisso social da gente que habita neste território e ninguém está a favor. Como é que isto é possível, daí também a minha estranheza”, frisou Fernando Queiroga.

A mina de lítio do Barroso, proposta para Boticas, distrito de Vila Real, obteve uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável condicionada por parte da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), informou a empresa Savannah.

Em comunicado, a empresa congratulou-se com esta decisão, considerando-a “muito positiva para o desenvolvimento do seu projeto”.

A Savannah salientou que “esta é a primeira vez que um projeto de lítio em Portugal tem uma DIA favorável” e referiu que, após esta decisão pela APA, pode “iniciar a próxima fase de desenvolvimento do projeto ao nível do licenciamento ambiental.

“Como é natural neste tipo de aprovações, a DIA prevê o cumprimento de um conjunto de condições, medidas e compensações e que merecem o acordo da Savannah”, sublinhou, acrescentando que “estas condições garantem que o projeto será desenvolvido de forma responsável e que os benefícios socioeconómicos serão partilhados com todas as partes interessadas”.

O diretor executivo (CEO) da Savannah, Dale Ferguson, considerou que a decisão positiva da APA “é um passo extremamente importante, não só para o desenvolvimento do projeto lítio do Barroso, mas também para a indústria de matérias-primas do lítio em Portugal”.

“Dado o compromisso da Savannah com práticas responsáveis, que minimizem o impacte e partilhem os benefícios socioeconómicos, a empresa também concordou com as condições associadas à decisão”, afirmou, citado no comunicado.

Condições que incluem, por exemplo, “a obtenção de aprovação condicional para construir a estrada proposta para a ligação à Autoestrada 24 (A24) e a limitação da remoção da vegetação da área do projeto em determinados meses do ano”.

A Savannah disse ainda que, outras condições, como a não captação de água do rio Covas e o enchimento e a recuperação paisagística das áreas de extração de minério “refletem os planos e compromissos que a empresa já assumiu nas suas apresentações à APA, bem como o programa de envolvimento da comunidade e os objetivos de descarbonização”.

“A decisão favorável da APA marca o início de uma nova fase para o projeto de Lítio do Barroso, para a Savannah e para Portugal, que dá o primeiro passo para assumir um papel significativo na cadeia de valor europeia das baterias de lítio e na transição energética”, salientou Dale Ferguson.

Uma DIA favorável permite à Savannah avançar “com os principais estudos económicos do projeto, incluindo a publicação de um estudo atualizado de definição do âmbito, no início do segundo semestre de 2023 e recomeçar o Estudo de Viabilidade Definitivo”.

De acordo com a empresa, o “processo de licenciamento ambiental do projeto vai continuar” e a Savannah espera “apresentar à APA, dentro de nove a 12 meses, o Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução (RECAPE), que incluirá os planos finais para o projeto com todas as condições da DIA, juntamente com as medidas e planos de monitorização ambiental a implementar durante as fases de construção e operação, de forma a cumprir todos os critérios estabelecidos pela DIA.

A consulta pública do reformulado Estudo de Impacte Ambiental (EIA) da mina do Barroso, terminou em abril com 912 participações submetidas através do portal Participa.

A empresa submeteu o EIA da mina do Barroso em junho de 2020 e, dois anos depois, o projeto recebeu um parecer “não favorável” por parte da comissão de avaliação da APA, mas, ao abrigo do artigo 16.º do regime jurídico de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA), o projeto foi reformulado e ressubmetido a apreciação.

A mina do Barroso tem uma duração estimada de 17 anos, a área de concessão prevista é de 593 hectares e é contestada por associações locais e ambientalistas e a Câmara de Boticas, no distrito de Vila Real.

 

PLI // SB




A paz e a calma nos Balcãs são do interesse da Hungria – Szijjártó

A Hungria apoia a paz e a calma nos Balcãs Ocidentais, disse o Ministro dos Negócios Estrangeiros e do Comércio, Péter Szijjártó, depois de soldados húngaros da missão de manutenção da paz KFOR, liderada pela NATO, no Kosovo, terem sido feridos durante distúrbios na segunda-feira, de acordo com um relatório da agência noticiosa estatal MTI.

“A paz e a calma nos Balcãs Ocidentais, na nossa vizinhança, são do interesse da Hungria”, disse Szijjártó num post no Facebook.

Mais de 20 soldados húngaros ficaram feridos durante os distúrbios em Zvecan, sete dos quais com gravidade.

Szijjártó disse noutra publicação nas redes sociais que nenhum dos soldados tinha ferimentos que pusessem em risco a sua vida.




Budapeste: José Mourinho tenta nova glória europeia na Roma frente ao recordista Sevilha

Redação, 31 mai 2023 (Lusa) – A Roma defronta hoje o Sevilha na final da Liga Europa de futebol, com o treinador português José Mourinho a tentar conquistar o segundo troféu europeu consecutivo para os italianos, frente ao recordista de títulos na prova.

José Mourinho, que na época passada levou os romanos à conquista da Liga Conferência Europa, procura nova glória europeia, na Puskás Arena, em Budapeste, a partir das 20:00 (hora de Lisboa), perante um adversário que venceu todas as seis finais disputadas (2006, 2007, ainda sob a designação de Taça UEFA, 2014, 2015, 2016 e 2020).

A conquista da Liga Europa de 2022/23, cuja final será arbitrada pelo Anthony Taylor, é também a última oportunidade de os dois clubes obterem uma vaga para a Liga dos Campeões da próxima época, uma vez que já falharam ambos esse objetivo pela via dos campeonatos nacionais.

O guarda-redes internacional português Rui Patrício é o titular da baliza da Roma e um dos responsáveis pela presença na final, para a qual subsiste a dúvida a dúvida sobre a presença do avançado argentino Paulo Dybala, melhor marcador da formação transalpina nesta temporada, com 16 golos, devido a lesão.

Aos 60 anos, José Mourinho pode conquistar o sexto troféu europeu, depois de ter vencido todas as finais que disputou (excetuando a Supertaça continental): Liga dos Campeões em 2004, no FC Porto, e 2010, no Inter Milão, Liga Europa em 2003, no clube portuense, e 2017, no Manchester United, e Liga Conferência Europa, no ano passado.

Esta edição da Liga Europa contou a participação de duas equipas portuguesas: o Sporting de Braga foi eliminado na fase de grupos e o Sporting, relegado da ‘Champions’, foi afastado pela Juventus nos quartos de final, depois de se ter imposto ao Arsenal nos ‘oitavos’.

RPC // JP




Grande procura de plantas medicinais húngaras

Há uma grande procura de plantas medicinais húngaras, o sector tem um potencial de desenvolvimento significativo e a Hungria poderia ser basicamente auto-suficiente em plantas medicinais, segundo a Câmara Nacional de Agricultura (NAK) e a Associação Húngara de Plantas Medicinais e o Conselho de Produtos (GYSZT).

A Hungria tem cerca de 30.000 hectares de plantas medicinais e aromáticas.  O valor da produção da recolha de ervas, do cultivo e da transformação primária é de cerca de 15-17 mil milhões de HUF por ano, enquanto as vendas líquidas da transformação primária são de cerca de 20-29 mil milhões de HUF. O volume de negócios total do mercado de produtos que contêm plantas medicinais, aromáticas e condimentares é de 60-70 mil milhões de HUF e a produção líquida estimada de todo o sector é de 100-120 mil milhões de HUF, afirmaram o NAK e a associação numa declaração conjunta.

Tanto a indústria como o público em geral têm uma procura contínua de plantas medicinais e de matérias-primas, pelo que a procura interna e externa contínua constitui um bom pano de fundo para a expansão do cultivo e o desenvolvimento de produtos. Apesar disso, o sector enfrenta uma grave escassez de matérias-primas e as instalações de transformação e destilação não conseguem utilizar a sua capacidade, sublinha a análise.

Na Hungria, podem ser colhidas 120-130 espécies de plantas, das quais cerca de 70-80 espécies são colhidas regularmente. Embora a recolha tenha diminuído nas últimas décadas, está a tornar-se novamente importante para certas espécies, como a urtiga e a camomila, à medida que os custos de produção aumentam.

A análise salienta igualmente que apenas 30 a 40% da transformação provém atualmente da recolha de plantas selvagens.

A recolha de ervas dá emprego a cerca de cinco a oito mil pessoas, principalmente em regiões com baixo nível de instrução e desfavorecidas. As espécies e partes de plantas recolhidas em maior número são: tília, roseira brava, mil-folhas, goldenseal, folha de urtiga, heléboro, camomila, absinto branco, erva de S. João, malva branca, sabugueiro preto, visco e castanha da Índia.

As principais ervas cultivadas são a mostarda, a papoila, o funcho, os coentros, a erva-doce, a roseira brava, o estragão, a manjerona, o anis, o endro, a camomila, a erva-cidreira, a hortelã, o tomilho, a alfazema e a erva-pimenta, segundo o NAC e o GYSZT.




Parque Tecnológico de Cabo Verde vai gerar cerca de 1.500 empregos

O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, disse hoje que o Parque Tecnológico, na cidade da Praia, cuja construção está na reta final, vai criar cerca de 1.500 postos de trabalho, entre diretos e indiretos.

“Estamos a preparar o terreno para a criação de cerca de 1.500 postos de trabalho, entre diretos e indiretos, e a criar oportunidades que irão impulsionar a nossa economia e permitir que os cabo-verdianos estejam na vanguarda da inovação”, considerou o chefe do Governo, após visitar as obras, na zona de Achada Grande Frente.

Ulisses Correia e Silva disse que as obras estão já na reta final e que, quando estiverem prontas, vão gerar uma “transformação impressionante” na economia digital.

“O Parque Tecnológico será o suporte físico e ecossistema para o nosso ‘HuB Digital’, as ‘Cyber Islands’, e a venda de serviços digitais, constituindo uma infraestrutura de alto nível” que inclui instalações como centro de dados, centro de negócios, centro de formação e centro de incubação, entre outros, frisou o primeiro-ministro.

Além da Praia, há também um polo do Parque Tecnológico de Cabo Verde em construção na cidade do Mindelo, na ilha de São Vicente, um projeto de 40 milhões de euros que pretende transformar o arquipélago num ‘hub’ tecnológico em África.

O Parque Tecnológico é financiado pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e pelo Estado de Cabo Verde, tendo as obras arrancado em 2015.

O empreendimento chegou a ter conclusão prevista para 2021, mas foi condicionada pela pandemia de covid-19.

Em setembro, um estudo de impacto ambiental promovido pela Unidade de Gestão de Projetos Especiais (UGPE) do Ministério das Finanças e do Fomento Empresarial concluiu que o parque cumpre o objetivo ambiental, mas é “moderadamente vulnerável” às alterações climáticas.

RIPE // JH




Portugal: Brasileiros vão ter “estatuto de igualdade” digital e poder tratar do documento ‘online’

Os brasileiros residentes em Portugal vão ter um documento digital que lhes confere o estatuto de igualdade em relação aos portugueses em várias matérias e poderão tratar da documentação ‘online’, garantiu hoje fonte oficial.

O processo de digitalização “já está muito adiantado”, afirmou o secretário de Comunidades Brasileiras e Assuntos Consulares e Jurídicos do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, embaixador Leonardo Gorgulho, que se encontra em Lisboa para uma série de reuniões de trabalho.

“Tivemos hoje uma conversa com o SEF [Serviço de Estrangeiros e Fronteiras], apresentamos a eles o documento que estamos desenvolvendo em seu formato que pretendemos seja o final (…), digital, e a recetividade foi muito boa”, referiu o diplomata.

O embaixador falava ao final da manhã no consulado-geral do Brasil na capital portuguesa, admitindo que o documento poderá estar apto naquele formato já no decurso de junho.

“Eles estão muito satisfeitos e ficaram muito agradecidos de que a gente propicie esse tipo de alternativa”, acrescentou Leonardo Gorgulho, no encontro em que também participou o cônsul-geral do Brasil em Lisboa, Wladimir Valler Filho.

“Uma solução que é boa para todo o mundo. É boa para o cidadão, que vai receber em menos tempo [o cartão], é boa para o consulado, que consegue fazer o serviço e dispensa a vinda da pessoa aqui [ao consulado-geral em Lisboa] e é boa para o SEF, porque é um documento que vai ter as medidas de segurança que eles precisam que tenha”, explicou.

Segundo o responsável do Itamaraty (Ministério dos Negócios Estrangeiros), a ideia do Governo brasileiro é fazer um processo totalmente virtual dentro do e-consular (programa do consulado) com o qual as pessoas já estão familiarizadas.

“Assim como elas entram hoje no consulado para pedir passaporte e certidões entrarão no e-consular para pedir esse certificado, farão todas as etapas lá dentro, enviarão para validação e receberão um ‘e-mail’. Por esse ‘e-mail’ poderão acessar a esse documento”, especificou Leonardo Gorgulho.

O “documento vai ter um formato digital, um ‘key code’ [código de acesso] e um ‘link’ para verificação da autenticidade. E as autoridades portuguesas através do código e do ‘link’ darão a validade necessária”, continuou.

De acordo com o responsável do Itamaraty, o Governo brasileiro espera que vá agilizar muito o processo, evitar filas e facilitar a vida das pessoas, pois não precisam de esperar agendamento no consulado para tirar o documento “e vão receber sem sair de sua casa o documento”.

No entanto, Leonardo Gorgulho alertou que se trata de “um documento só para Portugal”, acrescentando que isso demonstra a importância que o Governo brasileiro “dá à comunidade brasileira em Portugal”.

Segundo o diplomata do Itamaraty, o documento reflete também o diálogo e a utilidade das reuniões de coordenação consular e das bilaterais regulares com Portugal ao longo dos últimos meses.

Por fim, mostra que “as soluções para os problemas podem vir de muitas formas”.

Quanto ao tempo para a entrada em vigor do processo, respondeu:”Não sei em que prazo nós vamos começar a emitir [o documento digital], mas vai ser muito em breve, não vai ser coisa de meses”.

“Estamos fazendo testes, porque isso não pode ser uma coisa leviana. Vamos fazer uma base de piloto, num ambiente controlado, mas isso tudo em etapas muito breves e próximas. A nossa ideia é que ao longo de junho isso esteja” apto, concluiu.

ATR // LFS




Enquanto os eleitores religiosos no Ocidente são dissuadidos por políticas de exclusão, os crentes húngaros estão felizes por votar no Fidesz

De acordo com estudos internacionais, não é de todo verdade que os crentes cristãos sejam mais recetivos às mensagens dos partidos populistas e de extrema-direita. Mas qual é a situação na Hungria?

“Um país monolingue e monousuário é fraco e falível” – o Papa Francisco citou as palavras de Santo Estêvão no seu discurso aos líderes húngaros no Castelo de Buda, no final de Abril. Durante a sua visita, o chefe da Igreja sublinhou várias vezes a importância de ajudar os refugiados e de proteger as minorias. Se o Vaticano critica a política populista e de exclusão do Fidesz, resta saber se os fiéis cristãos da Hungria pensam o mesmo.

Kamil Marcinkiewicz, cientista social da Universidade de Hamburgo, e Ruth Dassonneville, cientista social da Universidade de Montreal, analisaram a medida em que os eleitores religiosos apoiam os partidos populistas de direita num estudo publicado na Party Politics 2021. Os resultados mostram que, na maioria dos países da Europa de Leste, os crentes cristãos apoiam a direita populista, Fidesz, enquanto na Europa Ocidental se verifica o contrário: a religiosidade tende a desencorajar os eleitores de apoiarem partidos xenófobos e excludentes.

Enquanto a investigação que procura explicações para o voto na extrema-direita se tem centrado, até agora, no género, na educação e no rendimento, o estudo de Marcinkiewiczék analisou uma área menos investigada: os crentes cristãos são mais recetivos às mensagens dos partidos de extrema-direita e/ou populistas do que os outros? Este é um ponto interessante, apesar de a percentagem de pessoas que praticam ativamente a religião nas sociedades europeias ser apenas de cerca de 20% e, como mostra o relatório de 2018 do Pew Research Center, isto não é diferente na Hungria. É claro que isto não põe em causa as teorias de que o domínio dos media, um sistema eleitoral injusto e o estatuto social dos eleitores do Fidesz são cruciais para o sucesso eleitoral do Fidesz, mas a investigação mostra que a religiosidade dos eleitores também desempenha um papel nas eleições partidárias na Hungria.

A democracia cristã nas sociedades da Europa Ocidental imuniza contra as políticas de exclusão

Nos países onde os democratas-cristãos representam há muito tempo e de forma credível as comunidades cristãs, “inocularam” eficazmente os seus eleitores contra o extremismo, segundo Kai Arzheimer, um proeminente investigador da extrema-direita europeia e professor na Universidade de Mainz. Arzheimer chama a isto um “efeito de vacina”, porque um partido capaz de chegar a um compromisso, que se preocupa com a família e os valores cristãos, que segue uma política económica intermédia e defende a coexistência pacífica entre as nações, “imuniza” os seus apoiantes contra o extremismo de uma forma semelhante a uma vacina.

Na Alemanha, a Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita, não conseguiu vencer as eleições federais de 2017 entre os crentes cristãos, escrevem os Marcinkiewiczes no seu estudo, apesar da sua principal promessa eleitoral salvar a cultura cristã alemã suprimindo o Islão, enquanto a União Democrata-Cristã (CDU) está a seguir cada vez mais políticas progressistas que destroem tabus, como a legalização do casamento homossexual, que podem até afastar os crentes. A investigação de Marcinkiewicz parece demonstrar que, nos países da Europa Ocidental, as forças conservadoras, representadas pelos partidos democratas-cristãos, conseguiram travar eficazmente a maré populista, apesar de as suas políticas mais progressistas poderem até ser dissuasoras para os eleitores religiosos.

Quanto mais religioso for um indivíduo, maior é a probabilidade de votar no Fidesz

Embora a aliança partidária Fidesz-KDNP se apresente como democrata-cristã, o instituto de investigação sueco Variedades da Democracia considerou esse facto altamente discutível. A aliança partidária é intransigente, diaboliza os seus adversários políticos e pratica uma política de exclusão, utilizando uma retórica anti-Bruxelas para irritar os eleitores e fazer deles bodes expiatórios em vez de uma coexistência europeia pacífica, o que, em princípio, viola os valores cristãos, afirma o instituto. No entanto, o Chapel Hill Survey, que classifica os partidos europeus, mostra que a coligação Fidesz-KDNP não preenche os critérios dos democratas-cristãos e é mais um partido populista de (extrema) direita, apesar das suas políticas económicas intermédias e da sua atenção às famílias.

Na ausência de um verdadeiro partido democrata-cristão, os crentes parecem ter-se virado para o Fidesz ao longo da última década, com 130% mais probabilidades de votarem no Fidesz do que os não crentes, de acordo com a investigação de Bermond Scoggins, um cientista político da Universidade Nacional Australiana. Para além disso, quanto mais religiosa é uma pessoa, maior é a probabilidade de votar no Fidesz.

Tendências semelhantes podem ser observadas noutro país da Europa de Leste, a Polónia, onde não existem partidos democratas-cristãos tradicionais e onde Marcinkiewiczes diz que os frequentadores regulares da igreja têm três vezes mais probabilidades de votar no “Fidesz polaco”, o partido Lei e Justiça (PiS), em comparação com os que nunca vão à igreja. No entanto, a República Checa, uma das sociedades mais “ateias” do mundo, destaca-se por não haver correlação entre a frequência da igreja e o apoio à direita populista, de acordo com o estudo de Marcinkiewiczek.

Os valores dos crentes cristãos húngaros incluem a intolerância em relação aos estrangeiros e a exclusão dos mais desfavorecidos

Embora, à primeira vista, se possa pensar que a política de exclusão do governo de Orbán está em contradição com os valores dos crentes – uma vez que a xenofobia, a intolerância e a exclusão dos desfavorecidos não são exatamente valores cristãos – na prática, vemos o contrário, uma vez que os crentes cristãos na Hungria tendem a votar no Fidesz. Apesar do facto de se esperar que as pessoas religiosas sejam tolerantes, os crentes húngaros não gostam de refugiados, de acordo com um inquérito do Pew Research Center de 2018 sobre a relação entre o cristianismo e os refugiados. Isto significa que o Fidesz pode construir com sucesso a sua política de agitação anti-refugiados entre as pessoas religiosas, se também enfatizar os valores cristãos e a identidade nacional na sua comunicação.

Os valores dos crentes são também influenciados pela direção da igreja. Enquanto na Alemanha a própria Igreja Cristã segue uma política religiosa progressista, que influencia as mensagens dos partidos políticos, na Hungria os líderes cristãos seguem uma política conservadora para manter o apoio dos crentes. Na Alemanha, por exemplo, a partir de 2026, os gays poderão casar-se na igreja, o que aqui é completamente impensável. O clero húngaro também tem relutância em sublinhar a necessidade de proteger os refugiados e de tolerar as minorias sexuais, o que explica o facto de os crentes apoiarem tanto as políticas de exclusão do Governo populista na Hungria”, diz o estudo de Marcinkiewiczék.

Nas últimas décadas, os partidos conservadores e democratas-cristãos têm-se orientado geralmente para políticas mais progressistas, mas esta situação pode mudar no futuro. No Reino Unido, por exemplo, o Partido Conservador Cristão está a evoluir para uma política de identidade mais excludente e nacionalista, que faz lembrar a política orbanista. É difícil dizer, nesta fase, qual será a reação dos eleitores cristãos a estas mudanças.

Fonte: 444.hu




Mais de 200 interações entre orcas e barcos em 2022 na costa atlântica ibérica

Mais de 200 interações entre orcas e barcos foram registadas em 2022 na costa atlântica de Portugal e Espanha, um comportamento que um grupo de especialistas que se dedica à conservação da espécie considera intrigante.

Segundo os dados publicados no `site´ do Grupo de Trabalho Orca Atlântica (GTOA), uma população única que vive no nordeste atlântico, foram registadas 52 interações entre julho e novembro de 2020 entre o Estreito de Gibraltar e a Galiza, incluindo a costa ao longo de Portugal continental.

“Dois novos casos foram registados em janeiro de 2021 na costa atlântica de Marrocos e no Estreito de Gibraltar, evidenciando a persistência deste novo comportamento ao longo do tempo, atingindo 197 interações. Em 2022 foram registadas 207 interações”, indicam os mesmos dados.

De acordo com o GTOA, estes contactos são considerados uma interação quando os animais fixam a atenção no barco, mantendo um contacto direto, ou seja, quando se aproximam, observam ou tocam na embarcação.

Em 2020, este novo comportamento foi observado quando alguns elementos juvenis interagiram principalmente com veleiros, mas registaram-se também casos de interação com embarcações de pesca e pneumáticas.

“Foi relatado que orcas tocaram, empurraram e até viraram as embarcações, o que em alguns casos resultou em danos nos lemes”, indica o `site´ do GTOA.

Na semana passada, um grupo de orcas abalroou repetidamente um iate no Estreito de Gibraltar, danificando-o o suficiente para exigir que as equipas de resgate espanholas fossem em auxílio dos seus quatro tripulantes.

O serviço de resgate marítimo da Espanha adiantou que orcas chocaram repetidamente com o Mustique, de 20 metros e que navegava sob bandeira do Reino Unido, na noite de quarta-feira, tornando seu leme inoperante e causando danos no casco.

A equipa de investigadores espanhóis e portugueses da vida marinha que estuda orcas perto da Península Ibérica diz que estes incidentes foram relatados pela primeira vez há três anos.

Segundo os investigadores do GTOA, estas orcas são um pequeno grupo de cerca de 35 baleias que passam a maior parte do ano perto da costa ibérica em busca de atum.

Não houve relatos de ataques contra nadadores e as interações nos barcos parecem parar assim que a embarcação fica imobilizada.

O biólogo Alfredo López, da Universidade de Aveiro e membro do grupo de investigação, considerou que os incidentes são raros, mas estranhos.

“Em nenhum dos casos que pudemos ver em vídeo testemunhamos qualquer comportamento que pudesse ser considerado agressivo”, adiantou López à agência Associated Press.

Segundo o investigador, embora a causa da mudança comportamental seja desconhecida, o seu grupo identificou 15 baleias envolvidas nos incidentes, 13 jovens, o que poderia apoiar a hipótese de que estavam a brincar, enquanto duas são adultas, o que poderia suportar uma teoria concorrente de que o comportamento é o resultado de algum evento traumático com um barco.

A divulgação de todas as interações e principalmente o avistamento de orcas na costa portuguesa foi recentemente salientada por especialistas como fundamental para prevenir os recentes incidentes envolvendo veleiros.

De acordo com as conclusões de uma conferência realizada em março, que juntou especialistas, mas também velejadores, é “muito importante” que sejam reportados, independentemente da autoridade, esses avistamentos, com toda a informação a ser sistematizada pelos Centros de Coordenação de Busca e Salvamento Marítimo.

Os participantes na conferência consideraram também útil a criação de um “alerta orcas”, que consistiria no envio, pela Marinha, de alertas à navegação em tempo real sobre o avistamento de orcas na costa portuguesa.

A conferência “Interação com orcas” foi organizada pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, pela Autoridade Marítima Nacional e pela Marinha Portuguesa e surgiu na sequência das recorrentes interações de orcas com veleiros na zona costeira da Península Ibérica que já provocaram danos e mesmo afundamento de algumas embarcações.

Em novembro de 2022, um veleiro de bandeira francesa, com quatro tripulantes a bordo, afundou-se, após uma alegada interação com orcas, a cerca de 14 milhas náuticas (aproximadamente 25 quilómetros) a oeste de Viana do Castelo, anunciou na altura a Autoridade Marítima Nacional.

PC (FP) // TDI