1

Hungria vai enviar astronauta para a Estação Espacial Internacional até 2025

A Hungria enviará um astronauta à Estação Espacial Internacional (ISS) até 2025, disse na sexta-feira o Ministro dos Negócios Estrangeiros Péter Szijjártó.

Numa mensagem vídeo no Facebook, Szijjártó disse que a Hungria enviará o astronauta para a ISS em cooperação com os Estados Unidos.

O astronauta viajará para a ISS para realizar experiências científicas utilizando equipamento de fabrico húngaro, acrescentou ele.

O equipamento a ser utilizado para telecomunicações, observação da Terra e medição de radiação será desenvolvido pelas empresas e universidades nacionais que participam no programa, disse o ministro.

Embora as empresas e universidades que participam no programa tenham acumulado uma quantidade significativa de conhecimentos ao longo dos anos, a indústria espacial não recebeu até agora quase a atenção que merece, acrescentou ele.

Uma razão para mudar isto, disse Szijjártó, era reforçar os sectores de alto valor acrescentado da Hungria, particularmente os que já estão bem estabelecidos.

Fonte: MTI/Hungarytoday

Foto: Pixabay




Budapeste vai acolher a final europeia de Bocuse d’Or em março de 2022!

A Academia Húngara Bocuse d ‘ Or tem notícias fantásticas: Budapeste vai acolher a final europeia de Bocuse d ‘ Or em março de 2022!

A Hungria irá mais uma vez acolher um evento internacional, que é uma grande conquista não apenas para a gastronomia doméstica, mas também para todo o país, que está a atrair um enorme interesse em todo o mundo.

Ao longo da última década, a vida gastronómica húngara sofreu uma enorme melhoria, que foi demonstrada em muitas conquistas internacionais. É uma enorme honra e mérito que depois de 2016 os chefes mais famosos da Europa se reunam novamente na nossa capital e possamos acolher a final europeia de Bocuse d ‘ Or, onde vão chegar equipas de 20 países. Os membros do júri vão selecionar os países europeus que podem participar na Final Mundial de Bocuse d ‘ Or 2023 em Lyon.

′′ Vencer esta corrida foi uma experiência incrível e inesquecível. Espero que, na competição nacional, outro chef húngaro tenha a oportunidade de se apresentar no domínio europeu. Além disso, centenas de jovens chefes húngaros poderão assistir aos melhores e o público europeu poderá conhecer novamente os ingredientes domésticos disse Tamás Széll, o mais bem sucedido concorrente húngaro Bocuse d ‘ Or de todos os tempos.

Não é negligenciável que a seleção europeia do concurso de culinária mais famoso do mundo seja uma das maiores propagandas turísticas possíveis para a Hungria. Esta honra é também uma grande oportunidade para o nosso país mostrar-se mais no cenário internacional e enfatizar o seu lugar nos últimos anos no mapa gastro do mundo.

Fonte: Página FB –

Magyar Bocuse d’Or Akadémia




Budapeste entre as melhores cidades do mundo para estudar

Budapeste é um dos melhores destinos que pode escolher para as suas férias. É barato (especialmente quando se trata de cervejas), cheio mas não sufocante, tem uma vibrante vida noturna durante toda a semana, e, mais importante ainda, é absolutamente deslumbrante.

Quacquarelli Symond (QS), uma empresa britânica especializada na análise de instituições de ensino superior em todo o mundo, deu-nos apenas mais uma razão para vir visitar a capital húngara. Budapeste foi escolhida como uma das Melhores Cidades Estudantis 2022 do mundo.

A cidade ocupa a honrosa 58ª posição entre as 200 cidades classificadas com base em vários fatores. Da região, apenas Viena e Praga conseguiram melhor classificação. A lista tornada pública nesta quarta-feira é novamente liderada por Londres, Munique, Seul, e Tóquio.

Da região da Europa Central, Viena teve as melhores pontuações, onde as universidades atraem, ano após ano, cada vez mais estudantes húngaros.

Existem 35 instituições de ensino superior a operar em Budapeste, entre as quais três estão incluídas na lista das Melhores Universidades do Mundo 2022 (ELTE, BME, e Corvinus). Além disso, muitas universidades oferecem a possibilidade de estudar numa língua estrangeira, geralmente em inglês, francês, ou alemão.

Embora a 58ª posição seja bastante positiva,  tanto para a cidade como para as universidades, deve-se sublinhar que nos últimos anos, a capital húngara costumava situar-se algures entre a 43ª e a 56ª posições. Esta queda pode ser o resultado do aumento súbito dos preços ao longo do ano passado.

No entanto, Budapeste é ainda a 8ª cidade estudantil mais barata do mundo, que foi um dos fatores decisivos na elaboração da lista, destaca eduline.hu. A propina média anual numa universidade de Budapeste é de cerca de 3.600 dólares (3.000 euros). De acordo com os cálculos da QS, um estudante médio pode viver com 600 dólares por mês, sem incluir o aluguer.

Os que criaram este ranking fizeram uma pesquisa exaustiva, uma vez que o Festival de Sziget, “os bares em ruínas”, museus e banhos termais foram todos utilizados como fatores de atração.

Porque é Budapeste a única cidade húngara classificada pela empresa, quando o país tem várias universidades famosas em muitas cidades que educam as gerações futuras? Em primeiro lugar, a QS considera apenas as cidades onde a população ultrapassa os 250 mil habitantes. Em segundo lugar, a cidade precisa de ter pelo menos duas universidades que tenham chegado ao último ranking mundial da QS. A cidade de Debrecen está próxima com os seus 200 mil habitantes, no entanto, nenhuma outra cidade além da capital podia cumprir o segundo critério.

Muitos fatores foram tidos em consideração na elaboração da lista final: a classificação mundial das instituições que operam na cidade em questão, a “mistura de estudantes” (a proporção de estudantes estrangeiros, por exemplo), a actividade laboral, a acessibilidade económica, ou mesmo circunstâncias gerais, como a segurança pública ou o nível de poluição atmosférica. A empresa considerou mesmo o índice de corrupção da Transparency International.

Fonte: DailyNewsHungary




Entre Lisboa e Budapeste – Fotografia de Imre Krénn e Poesia de Pedro Assis Coimbra

O Rio das Palavras

Para se aproximar melhor da Lua deixou
os olhos fechados à chave no fundo da gaveta
para percorrer sem pressas o rio das palavras
descobrir no silêncio os caminhos da dúvida.
A água pura no alvor colorido da contemplação.

Gostava da uva trincadeira das mais escuras
da vinha demarcada por filas de castanheiros
por muros cansados de lábios caiados de branco
nos pátios interiores dos segredos por licitar.

Das notas soltas figos de prata e alguma saudade
sentindo as mãos suaves juntar como um puzzle
a opinião de outras ideias que se cruzam contigo
na contemporização das cinzas mornas da noite.
Última musa na aproximação à nossa diversidade.

Aí com o Vento dizia podem contar comigo
inesperado estarei sempre que seja possível
mesmo sem o convite pessoal do teu sorriso
se nos corpos em repouso for nossa a manhã.

In “Histórias da Lua e Outras Palavras” do livro ”As Palavras que Ficaram”

https://pedroassiscoimbra.blogspot.com/

Egy szép nyári reggel Budapesten / Once upon a summer morning in Budapest
(Budapest, Hungary, the hungarian Parliament building)
Copyright © Krénn Imre

https://www.facebook.com/KrennImrePhotography




Maior venda de canábis medicinal a granel da UE vai sair de Aljustrel

Aljustrel, Beja (Lusa) – A RPK Biopharma anunciou hoje a primeira venda de canábis medicinal a granel produzido na sua exploração no concelho de Aljustrel (Beja), naquela que será “a maior transação” do género “conhecida na União Europeia até à data”.

Em comunicado enviado à agência Lusa, a empresa canadiana Flowr Corporation, proprietária da RPK Biopharma, revelou que o acordo de fornecimento “de biomassa de canábis medicinal com alto teor de THC” [tetra-hidrocanabinol, composto derivado destas plantas] foi celebrado com a Galaxiavertical (Galaxia), pelo montante “de aproximadamente 500.000 euros”.

Segundo a empresa, o negócio está ainda sujeito “a determinadas condições precedentes, incluindo as aprovações necessárias do Infarmed e a receção de um certificado final de análise pela Galaxia”.

Caso o acordo avance, será “um enorme passo no desenvolvimento da estratégia europeia da empresa” e representará “a maior transação de venda a granel de canábis medicinal conhecida na União Europeia até à data”, destacou a Flowr.

Citado no comunicado, Darryl Brooker, administrador executivo (CEO) da empresa canadiana, adiantou que, em 2020, a RPK Biopharma conseguiu “cultivar canábis medicinal ao ar livre com sucesso em mais de 30 hectares” na sua exploração no concelho alentejano de Aljustrel, localizada perto de Montes Velhos.

“Os resultados mostraram que Aljustrel é o local ideal para cultivar canábis medicinal ao ar livre e com uma estrutura de custos que tornará o nosso produto muito competitivo como contributo para produtos médicos derivados da canábis”, disse o gestor.

Darryl Brooker acrescentou que a Galaxia deve receber “o produto até ao final do ano”, esperando que a cooperação entre ambas as empresas continue “no futuro”.

A Flowr Corporation é uma empresa produtora de canábis sediada em Toronto (Canadá), que tem no concelho de Aljustrel a maior plantação de canábis para fins medicinais da Europa.

A plantação vai chegar aos 40 hectares este ano, após um investimento total de cerca de 45 milhões de euros, e poderá criar até 200 postos de trabalho.

A primeira colheita “rendeu aproximadamente 3.000 quilos de flor de canábis com alto teor de THC”, anunciou a empresa no início deste ano.




Douro beneficia 104.000 pipas de Vinho do Porto, mais duas mil que no ano passado

Peso da Régua, Vila Real (Lusa) – O Douro vai transformar um total de 104.000 pipas de mosto em Vinho do Porto nesta vindima, um aumento de duas mil pipas face a 2020 e sem ser criada uma reserva qualitativa, decidiu hoje o conselho interprofissional.

“O quantitativo hoje determinado, a par da continuidade de algumas medidas excecionais para mitigar a crise provocada pela pandemia de covid-19, visam trazer tranquilidade ao setor, contribuindo para contrariar os efeitos desta crise e prevendo-se que estejam assegurados os rendimentos dos viticultores”, destacou o presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), Gilberto Igrejas.

O conselho interprofissional do IVDP aprovou hoje o comunicado de vindima 2020 com um benefício de 104.000 pipas (550 litros cada).

Em 2020, tinha sido decidido um benefício de 102.000 pipas (550 litros cada) de mosto para produção de vinho do Porto, sendo 10 mil destas pipas destinadas para a reserva qualitativa.

Gilberto Igrejas salientou à agência Lusa que olhando para o benefício do ano passado, este ano são mais 12 mil pipas, pois em 2020 foi aprovado que 10 mil pipas eram destinadas para reserva qualitativa.

“Este acréscimo espelha de alguma maneira as vendas ocorridas neste primeiro semestre”, referiu.




As Gailárdias de Eleutério (Parte 1.)

O Cocheiro da Rainha

Gosto de me levantar cedo pois nesta altura do ano, o calor é muitas vezes insuportável. Do meio-dia às três da tarde, ficamos incapazes de fazer seja o que for. Até os cães apertam doentiamente os olhos, pondo descomedidamente a língua de fora e quando os amoestam, olham confusos, nem sequer se mexem ou pestanejam.

As manhãs de julho são maravilhosas, quando o bom tempo é para durar, o sol ainda não é de fogo, mas claro e amistosamente radioso e derrama uma luz fresca que se eleva majestosamente, como se levantasse voo.

É de manhã que a magia acontece. As cores mostram-se suavizadas, mas nada deslumbrantes. É de manhã que o tempo outorga profundidade e perspetividade e nos dá pertença ao lugar. É também de manhã que o amor à primeira vista acontece. Talvez seja esta a relação dos portugueses com o bacalhau. Um amor à primeira vista que também aconteceu numa manhã.

Quem visse o cocheiro de D. Maria I, quem pudesse ser o testemunho daquela exacerbação, com que emborcava um copo atrás do outro sentiria medo, com certeza. Nasceu a manhã; uma candeia de azeite bruxuleava ainda na mesa. O cocheiro deixou de vaguear de um canto para o outro; estava ali sentado todo rubro, com os olhos turvados que ora fixavam no chão, ora levantava a janela escura; erguia-se, enchia o copo, voltava a sentar-se, de novo fixava os olhos num ponto e não se mexia. – apenas a sua respiração se acelerava e a cara se avermelhava ainda mais. Vivia apavorado. Parecia amadurecer nele um tremor pela doença de caráter religioso da rainha, com insultos curtos e explosivos aos seus confessores e manifesto pavor a crucifixos e lugares sagrados. A monarca tinha visões do diabo e achava-se condenada à perdição eterna. Passou a seguir uma dieta estranha (bacalhau com ostras e cevada) e falava palavrões de modo incoerente. O desespero do cocheiro com o estado da rainha era enorme e de grande apavoramento.

– Bem, está na hora! – pronunciou num som prático, quase impassível – Chega de perder tempo! Já nasceu o Sol!

Emborcou o último copo de vinho «para o que desse e viesse» e foi à cavalariça. O guarda acorreu quando o cocheiro começou a abrir a porta, mas o cocheiro gritou-lhe: «Sou eu não vês? Vai-te embora!».

É claro que o cocheiro desapareceu na curva do caminho que ia na direção de Mafra, para apanhar D. Maria I, a “Louca”, filha de D. José.

A importância do bacalhau era tanta que diz-se, que a primeira vez que a rainha D. Maria I andou a pé por Lisboa foi depois de ter isentado o bacalhau de imposto – vinha ela de um passeio no Tejo e a população quis-lhe agradecer, pelo que a rainha terá atravessado o Terreiro do Paço a pé.

*

Anos antes, empenhados em navegar e descobrir novos mundos, já portugueses e espanhóis enchiam os barcos de bacalhau para as tripulações aguentarem as longas viagens. E os que ficavam em terra, iam também comendo cada vez mais este peixe. É ainda Kurlansky quem o diz: “À volta de 1508, 10 por cento do peixe vendido nos portos portugueses do Douro e Minho era bacalhau salgado da Terra Nova. Em meados do século XVI, 60 por cento de todos os peixes comidos na Europa eram bacalhaus, e esta percentagem manteve-se estável nos dois séculos seguintes.”

E foi assim que o bacalhau foi chegando a Portugal, onde entrou primeiro pelo Norte. “Qual era o primeiro porto com capacidade para barcos de grande porte nos séculos XVII e XVIII? Era Viana do Castelo. Talvez por isso o Minho seja a região de Portugal que tem maior variedade de receitas de bacalhau.” Virgílio Nogueiro Gomes, gastrónomo transmontano, lembra-se bem de como na sua infância havia as carnes, o polvo e o bacalhau, e só depois o peixe. “Comi os primeiros peixes frescos em Zamora (Espanha), porque chegar peixe fresco a Bragança… chegava a sardinha na época das vindimas porque os galegos faziam questão de comer peixe.”

Poucos são os alimentos que possuem uma identificação tão forte com o lugar como o bacalhau. Não importa o preparo: à Zé do Pipo, à Gomes de Sá, à Brás, à Lagareiro… esses pratos outorgam a profundidade e perspetividade do povo ao longo do processo de criação da sua identidade e transmitem também a forma de civilização e características dos portugueses.

Nobre (2013), define que o bacalhau não é apenas um peixe para os portugueses, mas sim uma história de amor única no mundo, entre um país e um alimento que nem sequer legitimamente é seu. Uma autêntica história, esta relação dos portugueses com o bacalhau.

Amor quase incompreensível por um peixe que mora a milhares de milhas, sendo a nossa costa tão rica em espécies. Mas só aqui alcança a plenitude, seco, protegido e embelezado pelo sol, pelo sal e pelo azeite de Portugal (Zé Quitério, 1997).

Por mais diversificadas que sejam as regiões, as receitas de bacalhau remetem-nos à pátria e conferem-nos um orgulho de pertença ao lugar, uma vez que se fizeram presentes no passado e continuarão a fazer parte da memória gustativa de quem as provou.

A importância do bacalhau foi oficialmente reconhecida, quando a gastronomia portuguesa foi elevada primeiramente a bem imaterial do património cultural de Portugal no ano de 2000, e posteriormente a Património Cultural Imaterial da Humanidade, em 2013.

O cocheiro de D. Maria I, continua sem perceber o porquê do bacalhau ser tão nosso…

Com o bacalhau, só mais um copo de vinho… E assim recolheu às cavalariças e voltou a acender a candeia…

Ainda o sol não tinha rompido o horizonte quando o cocheiro de D. Maria I, tirava a traquitana real de baixo do alpendre e começava a tratar dela e dos cavalos. Ora desprendia os tirantes, ora os amarrava com força.

Insistia em atrelar o branco e o ruço ao meio, porque eram «bons nas descidas» e os outros iam no varal. Conferiu todas as fivelas das correias, o encordoamento das rédeas e a colocação dos cabrestos nos animais.

Todo o cuidado era pouco pois desceria os empedrados íngremes das colinas da Ajuda, em direção ao Tejo.

Pouco passava das seis de uma manhã fresca de julho. No palácio real, o sono ainda emudecia a maioria dos rostos dos serviçais coordenados com o clarear do novo dia.

A monarca já tivera tempo de desjejuar algo leve e de voltar de lá dos aposentos do Paço Real, vestida com uma linda echarpe de seda pintada à mão, com flores vermelhas por toda a seda, que lhe acariciavam os ombros, subindo solenemente a boleia.

Queria ver Belém e passear a pé pelo Tejo. Dispensou as aias e os serviçais e acomodou-se entre os acolchoados da carruagem. Não tardou em adormecer.

A traquitana arrancou, virando o portão do palácio para a rua; o ruço quis correr na direção da colina, mas o cocheiro chamou-o à razão com várias chicotadas.

A manhã era calma e bonita, ótima para passear. A aragem sussurrava nos arbustos, baloiçando-lhe os ramos. No céu, aqui e acolá viam-se algumas nuvens que se dissipavam com o espalhar do sol.

Fagundes, ainda falta muito?

– Até Belém, minha Alteza? Algumas duas léguas.

«Duas léguas – pensou D. Maria I – Não menos de uma hora até lá. Posso dormir ainda.»

– Fagundes, conheces bem o caminho? – perguntou a rainha.

– Conheço-o bem, minha Rainha! Não é a primeira vez que o faço.

O cocheiro acrescentou mais qualquer coisa, mas a monarca nem sequer o ouviu… adormecera novamente. Não acordou porque fosse sua intenção acordar, como acontece muitas vezes, mas por ovação e alarido do povo que a esperava em triunfo no Terreiro do Paço.

Vivia-se o apogeu do bacalhau e o país prosperava. A importância do bacalhau era tanta que diz-se que a primeira vez que a rainha D. Maria I andou a pé por Lisboa foi depois de o ter isentado de imposto – vinha ela de um passeio no Tejo, com o seu amigo e cocheiro Fagundes, e a população quis-lhe agradecer, pelo que a rainha terá atravessado o Terreiro do Paço a pé.

– Está tudo estragado! – barafustava Fagundes para os seus botões. Tudo corria tão bem.

Maria I ainda hoje é lembrada de diferentes maneiras. Uns apelidavam-na de a Louca, outros de a Piedosa. Ambas as designações fazem sentido. Inteligente e culta, D. Maria tinha paixão pelas artes, e era dotada de grande sensibilidade para a música, literatura e pintura. Era educada no trato, e requintada no gosto. Tinha uma predileção por uma estranha receita que só Fagundes preparava a preceito. Cevada com ostras e bacalhau…

Gostava de comer bem e denotava grande interesse pelas artes culinárias. Consta que ela e o marido D. Pedro I, contrataram na altura um grande chef francês, Lucas Rigaud, profissional de grande tarimba que já tinha atuado em algumas importantes cortes da Europa, como Paris, Londres, Turim e Madrid, tal como é descrito por João Pedro Ferro, no livro Arqueologia dos Hábitos Alimentares das Publicações D. Quixote (lisboa, 1996).

Rigaud terá chegado à corte em 1744, tendo-se naturalizado português em 1762. Chegado a Portugal, encontrou uma cozinha arcaica, pesada e exagerada em condimentos.

Consta que Rigaud tenha operado uma verdadeira revolução nos hábitos alimentares da corte e do País. Reduziu o uso das gorduras de porco e privilegiou carnes mais magras e brancas, além de ensinar o preparo dos pescados, ostras e mariscos, bem como de legumes, caldos, molhos e ragus. Minimizou e aboliu o uso excessivo de especiarias medievais que tornavam os pratos muitas vezes intragáveis. Introduziu temperos menos agressivos, como o alecrim, cerefólio, estragão, tomilho, funcho, entre outros mais. Ficou também conhecido pela publicação das receitas que exercitava no Palácio Real, para a refinada D. Maria e seu marido D. Pedro.

Com Lucas Rigaud, aparecem duas receitas muito levezinhas, e só no século XIX é que começam a aparecer receitas, refere Virgílo Gomes. O bacalhau era comida do povo e os registos que temos até essa altura são sempre da cozinha palaciana.”

Na rua, o burburinho crescia à medida que a carruagem real avançava entre a multidão.

– Que dia! – exaltou-se Fagundes

O cocheiro da monarca fez vibrar as rédeas e a carruagem seguiu lesta de volta à Ajuda. A noite já ia dentro, quando chegaram ao Palácio Real.

Hoje eram dois a sós, almas pares loucas e piedosas a saborear a cevada tostada, ostras ao natural e finas lascas de bacalhau cru, marinadas em limão e tomilho fresco. Fagundes e a Alteza eram como se fossem um só, a dialogar ferverosamente numa alma só.

Fonte: Excerto da Aventura do Bacalhau

Arnaldo Rivotti




Campanha de caju deste ano é das piores que ocorreram na Guiné-Bissau – agricultores

Bissau, 30 jul 2021 (Lusa) – O presidente da Associação Nacional de Agricultores (ANAG), Jaime Boles Gomes, afirmou hoje que a campanha de comercialização da castanha de caju deste ano é “a pior” que ocorreu na Guiné-Bissau.

“Afirmamos que a campanha de caju deste ano é a pior que aconteceu nesta terra, porque não trouxe ganhos ou rendimentos que os produtores aguardavam com toda a expectativa”, disse Jaime Boles Gomes.

Outra razão para a má campanha, apontada por Jaime Boles Gomes, é a pandemia de coronavírus.

“Mas é bom lembrar também que a campanha do ano passado correu em plena pandemia, por isso correu mal”, disse hoje à Lusa, o presidente da associação de agricultores guineenses.

Jaime Boles Gomes explicou que a campanha da castanha de caju está dividida em três fases.

A primeira tem início com a limpeza dos pomares e é realizada entre os meses de novembro, dezembro por grupos de jovens recrutados pelos proprietários nas tabancas e que são pagos apenas no período da colheita da castanha.

“Por causa da restrição, que impediu a aglomeração das pessoas, isso acabou por influenciar negativamente uma boa prestação do serviço em termos de limpeza”, disse.

A segunda fase é a fase da colheita que é conhecida como a campanha de caju (colheita da castanha), onde se regista a deslocação das populações, em particular das mulheres, de uma região para a outra e se realizam contratos de prestação de serviços da colheita de castanha com os donos dos pomares.

“Infelizmente, a pandemia de coronavírus não permitiu igualmente a deslocação das pessoas por causa das medidas de restrição impostas pelas autoridades sanitárias”, referiu.

A terceira e a última fase é a fixação do preço de referência pelo Governo, o anúncio de abertura da campanha e o controlo da operação da própria campanha de cajú.

Jaime Boles Gomes afirmou que o governo anunciou este ano o preço de base da castanha quase no fim da colheita da castanha e que aquele preço “não foi implementado na prática”.

O representante dos agricultores guineenses criticou o Governo por pouco ou nada ter feito para controlar ou fiscalizar a comercialização da castanha de caju, sobretudo a implementação do preço base de 360 francos CFA por quilograma (cerca de 0,54 euros).

Jaime Boles Gomes afirmou que os preços praticados rondaram os 250 (cerca de 0,38 euros) e os 300 francos cfa (0,45 euros).

“Nenhum produtor conseguiu vender a sua castanha por mais de 360 francos CFA por quilograma. A gestão da campanha não nos favoreceu como produtores, porque as medidas que permitiriam que os agricultores beneficiassem de alguma coisa não foram cumpridas, sobretudo no que tem a ver com a compra da castanha pelo preço base anunciado”, contou.

Questionado se ainda existe castanha nas matas, respondeu que neste momento não há castanha nas mãos dos produtores, acrescentando que apenas os intermediários é que têm castanha nos armazéns.

A Guiné-Bissau exportou em 2020 um total de 156 mil toneladas de castanha de caju. Este ano prevê-se a exportação de 175 mil toneladas, mas de acordo com informações do Ministério do Comércio já se conseguiu exportar até quinta-feira 76 mil toneladas.




PIB cresce 4,9% em cadeia e 15,5% em termos homólogos no segundo trimestre

 O Produto Interno Bruto (PIB) português registou um crescimento de 4,9% no segundo trimestre face ao primeiro, e de 15,5% face ao mesmo período do ano passado, divulgou hoje o Instituto Nacional de Estatística (INE).

“O Produto Interno Bruto (PIB), em termos reais, registou uma variação homóloga de 15,5% no 2.º trimestre de 2021 (-5,3% no trimestre anterior)”, pode ler-se num destaque hoje divulgado pelo instituto de estatística.

PIB sobe na zona euro e na UE no 2.º trimestre e Portugal lidera subidas

O Produto Interno Bruto (PIB) da zona euro subiu, no segundo trimestre deste ano, 13,7% face ao mesmo período de 2020, marcado pela pandemia, e 2% face aos primeiros três meses de 2021, liderando Portugal as subidas trimestrais.

Uma estimativa rápida hoje publicada pelo gabinete estatístico da União Europeia (UE), o Eurostat, revela que o PIB ajustado sazonalmente aumentou 13,7% na zona euro e 13,2% na UE no segundo trimestre de 2021 em comparação com o período homólogo do ano passado.

Já na variação em cadeia, o PIB ajustado sazonalmente aumentou, no segundo trimestre de 2021, 2% na zona euro e 1,9% na UE, em comparação com o trimestre anterior.

Ainda na comparação com os primeiros três meses de 2021, Portugal registou a maior subida neste segundo trimestre entre os 11 países com dados disponíveis para o Eurostat, com o PIB português a crescer 4,9% na variação em cadeia, seguido da Áustria (+4,3%) e da Letónia (+3,7%).

A Lituânia (+0,4%) e a República Checa (+0,6%) registaram o menor aumento do PIB no segundo trimestre deste ano.

Por seu lado, na comparação homóloga, o PIB português subiu 15,5%, o quarto maior aumento, a seguir a Espanha (19,8%), França (18,7%) e Itália (17,3%), adianta o Eurostat.

Fonte: LUSA

 

 




Um “país” só para os ciganos húngaros? A proposta do partido Opre Roma

“Apenas 11% dos ciganos se manifestam dispostos a ser vacinados, na Hungria”.” A maior pobreza extrema na Hungria afeta quase exclusivamente a comunidade cigana”. “O grupo mais segregado socialmente são os ciganos e a maior taxa de insucesso escolar húngara encontra-se também na comunidade cigana”.  É desolador, mas quase todos os dias ouvimos notícias com estes factos, sobre uma comunidade que está no país dos magiares há 600 anos. 600 anos que não os fizeram suficientemente “húngaros” e anónimos, apesar de falarem a mesma língua que os outros concidadãos. Numa entrevista a um jornal dinamarquês, János Szusz, membro da comunidade cigana e do partido Opre Roma, afirmou que a solução para o povo roma está em criar uma região autónoma no nordeste da Hungria, com um governo local exclusivamente cigano, com políticas feitas por ciganos para ciganos.

De acordo com Szusz, a comunidade cigana estava melhor integrada quando ainda reinava o regime comunista na Hungria. “Todos os ciganos tinham algum tipo de trabalho dado pelo Estado”. Com a passagem para o sistema capitalista em 1989, todos esses trabalhos assegurados pelo Estado desapareceram, o que fez com que a comunidade caísse num poço sem fundo de alienação económica e social”. Para Szusz, a solução para resolver o “problema cigano” não reside em voltar ao sistema comunista, porque mesmo esse não eliminou a discriminação contra a comunidade. “A raíz do problema é que nós, os ciganos, não temos um sítio a que possamos chamar de casa, nem uma representação política que nos dê legitimidade”. Apesar da comunidade “cigány” ser oriunda historicamente do norte da Índia, para Szusz, algures no nordeste da Hungria, onde a população cigana vive em extrema pobreza e ultrapassa quase os 30% seria o local ideal para lançar as sementes de um governo roma. Para o político, esta solução terá de ser implantada o mais rapidamente possível, dado que se prevê que a população cigana alcance os 30% da população total húngara em menos de 40 anos. “Se 30% da população total húngara estiver tão mal integrada como hoje está, tal seria uma catástrofe. É preciso uma solução radical”. Dados oficiais indicam que só entre os anos 90 e a última década, a população cigana passou dos 200 mil para os 800 mil habitantes.

Afinal, porque é que os ciganos não estão verdadeiramente integrados em nenhuma parte do mundo? Nem em Portugal, nem na Hungria. Nem em países de direita, nem de esquerda; nem em países democráticos ou pouco democráticos; nem em países progressistas ou pouco progressistas. É certo que as políticas de integração falharam um pouco por toda a parte com diferentes etnias, mas parecem falhar mais estrondosamente com a comunidade cigana, sobretudo tendo em conta que esta comunidade está na Europa há centenas de anos. Será culpa dos brancos, será culpa dos ciganos? Será dos dois? Para Szusz, no caso húngaro, a culpa será dos dois. Ambas comunidades são, por vezes, intransigentes nos seus valores e recusam qualquer negociação para conviver melhor. Mas existe um preconceito muito forte a priori, sobretudo por parte da maioria dos brancos húngaros, que são os que detêm o poder. Também recusa as velhas “políticas de condescendência” de esquerda. “Os ciganos, um povo historicamente nómada, precisam de uma pátria.”

Apesar de eu e o leitor sabermos que este “estado” seria difícil de existir no seio de um país com um trauma coletivo no que às fronteiras diz respeito (Trianon), é importante questionar o desafio de Szucs e pensar no quão importante é o conceito de “casa” para as diferentes nações. Não sem razão, os curdos lutam todos os dias por um Curdistão independente, os palestinianos por uma Palestina independente e os judeus (um povo sem “casa” durante milénios) digladiam-se todos os dias por essa causa. Não seria apenas expectável a nação cigana exigir também um lar? Mas se este estado autónomo cigano existisse, não geraria ainda mais conflitos insanáveis entre húngaros brancos e húngaros ciganos? Esta pergunta infelizmente não foi feita pelo jornal dinamarquês

Após um rol de tentativas de integração falhadas, frustradas com etapas assustadoras de chacina à comunidade, como aconteceu na 2ª Guerra Mundial ou em 2013, quando um gang ultranacionalista húngaro matou uma família de seis ciganos – das duas uma: ou não se está a ser suficientemente sério nas políticas de integração; ou então, citando Szusz, um “país cigano” talvez seja uma improvável, mas derradeira solução para a felicidade do nobre povo cigano.

Budapeste, 20 de julho, 2021