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Cláudia Varejão filma “Lobo e Cão” nos Açores, obra sobre a juventude insular

“Lobo e Cão” é a nova longa-metragem da realizadora Cláudia Varejão, que será rodada em São Miguel, com um elenco local, e explora “o espaço do sonho, na vida da juventude insular”.

“Como é que os jovens habitam o lugar, qual o espaço do sonho na vida da juventude insular?” Foram estas as questões que levaram Cláudia Varejão a regressar a São Miguel, depois de, em 2016, ter estado na ilha em residência artística, no Pico do Refúgio.

Aquele espaço, situado em Rabo de Peixe, proporcionou à realizadora “uma primeira entrada na ilha por uma vila muito particular, com características muito singulares, muito difíceis, socialmente, economicamente, a vários níveis”.

“É um filme que já tinha na gaveta há alguns anos, eventualmente desde que fui jovem”, mas que, “por outro lado, começou a ser escrito aqui [em São Miguel], nesse período de residência e nesse primeiro contacto com os jovens da ilha”, conta a cineasta à agência Lusa.

O projeto “convoca muito o real e a ficção”, afirma.

“Foi escrito a partir da experiência de uma série de jovens que conheci aqui na ilha, da minha própria experiência de quando fui jovem, e que ainda tenho em mim – trazemos todas a idades dentro de nós”, sublinha.

“Lobo e Cão” é um filme universal, que aborda “todas as questões humanas, com a sua maior amplitude, e que têm um pulsar muito visível e muito forte na juventude”, diz à Lusa.

“Desde logo”, prossegue, “a sexualidade, o desejo de transgredir – e transgredir, seja socialmente, como o próprio território, portanto, atravessar a linha do horizonte –, as questões emocionais e afetivas, as questões profissionais, as questões familiares, as questões morais. Todas as questões que são integrantes do ser humano, mas que, na juventude, são questionadas, permanentemente, e a vários níveis”.

Mas ganha também uma outra dimensão, por mostrar “como é que é ser jovem num território cercado pelo mar e, nestes contextos em particular, contextos com bastantes dificuldades económicas e sociais, a ideia de atingir outros lugares, outros conhecimentos, para concretizar o sonho, está mais comprometida”.

“O filme só deixa de ser escrito quando vai para a rodagem”, explica Cláudia Varejão, acrescentando que, “à medida que os ‘castings’ vão sendo fechados, as pessoas também trazem mais histórias. A própria estrutura do filme tem de se adaptar à vida das pessoas”.

Como já tem vindo a fazer ao longo da sua carreira, para este projeto, Cláudia Varejão parte, também, da premissa de “trabalhar com não-atores, portanto, com pessoas da ilha”.

“O que é fabuloso de trabalhar com não-atores é que, como não há uma ideia pré-definida do que é que é fazer um filme, seja um filme escrito de uma forma mais estanque, seja um filme mais aberto, é sempre uma experiência espontânea”, explica.

Para escolher os intérpretes, foram feitas “duas fases de ‘casting’, com uma participação massiva”, sendo que, “na primeira leva, foram quase 800 candidaturas”, para um filme que tem cerca de 20 papéis, adianta a realizadora à Lusa.

Até lá, “o processo está aberto”, e o guião vai sendo trabalhado com uma “parceira de reflexão”, a escritora Leda Cartum, que vive em São Paulo, no Brasil.

A rodagem, “se a pandemia assim o permitir”, deve acontecer no verão.

No processo de filmagens estarão envolvidas cerca de 50 pessoas.

“É uma produção grande, mas que tenta respeitar a intimidade da ilha, a realidade da ilha, o contexto insular de ter uma dimensão mais humana, também, na própria estrutura da ilha. Sobretudo porque também estamos a trabalhar com pessoas que não são profissionais do cinema e há uma intimidade com a qual eu costumo trabalhar, que só é possível se formos menos”, acrescenta.

Mesmo em cenário de pandemia de COVID-19, “a estrutura vai-se manter a mesma, com cuidados acrescidos. O filme propõe-se filmar numa festa do Espírito Santo. Provavelmente, não será uma festa do Espírito Santo que acontece, será feito por nós, com uma série de pessoas testadas… Estas cenas que envolveriam mais pessoas, possivelmente, vão ter de ser repensadas em termos formais”, adianta a realizadora à Lusa, tendo em conta o cenário da pandemia.

Varejão concede que “nada precisa de ser feito já”, mas insiste em avançar com este projeto o quanto antes, porque “o setor cultural não pode parar”.

LUSA

 




HUNGARIKUM – As fascinantes colmeias de pedra de Bükkalja

Segundo a vjm.hu, as regiões da Hungria abrigam maravilhas naturais e imateriais que têm sido listadas no relicário Hungarikum, como Património Imaterial da Hungria.

A região de Bükkalja é fascinante devido à sua evolução geográfica e estrutura geomorfológica. A cultura da pedra de Bükkalja desempenha um papel importante, como um dos ambientes naturais entre os Hungarikums.

No entanto, a cultura da pedra não inclui apenas a paisagem de Bükkalja, mas também a peculiar rede de relações dos habitantes locais, a importância da pedra como material de construção, a arte de trabalhar a pedra, as casas tradicionais e as caves de vinho.

Foto: www.facebook.com/Kaptárkő Természetvédelmi és Kulturális Egyesület

A cultura da pedra de Bükkalja – cuja camada mais arcaica é formada pelas colmeias de pedra – é um sistema cultural de gestão paisagística natural, complexo e bem definido, com raízes e tradições históricas.

Poderá encontrar mais detalhes sobre as pedras da colmeia e a sua evolução histórica, no website da Associação de Colmeias de Pedra. Graças ao trabalho incansável da associação, as colmeias de pedra foram pronunciadas como monumento natural protegido em 2014, e foram listadas como Hungarikum em 2016.

Foto: www.facebook.com/Kaptárkő Természetvédelmi és Kulturális Egyesület

Diz-se que as colmeias de pedra têm valores naturais e são, ao mesmo tempo, monumentos históricos culturais. A formação destes tufos rochosos deriva das intensas erupções na era Miocénica.  Erosão, fragmentação, vento e precipitação formaram e moldaram em cones as pedras da região.

Mas depois veio a humanidade, cuja ação transformou ligeiramente a superfície. 41 localidades são conhecidas em Bükkalja, com 82 colmeias de pedra e 479 câmaras nas formações rochosas. Ao todo, 564 câmaras foram contadas na Hungria até 2013.

O grupo mais espetacular e característico encontra-se perto de Szomolya e Cserépváralja, mas também se podem encontrar colmeias de pedra nas proximidades de Sirok, Egerbakta, Egerszalók, Noszvaj, Bogács, Cserépfalu, Tibolddaróc e Kács.

Foto: www.facebook.com/Kaptárkő Természetvédelmi és Kulturális Egyesület

É ainda um mistério a razão pela qual estas câmaras em forma de colmeia foram criadas e para que foram utilizadas.

De acordo com a teoria mais provável e que ainda prevalece, as câmaras das colmeias de pedra foram criadas na Idade Média, e são provavelmente a reminiscência do apiário das rochas da floresta.

A Associação de Cultura da Pedra organiza regularmente visitas culturais a esta região. Desta forma, poderá admirar as caves de vinho, celeiros de pedra, casas acolhedoras em cavernas, pontes de pedra arqueadas sobre riachos, cercas de pedra, bancos de pedra, lápides lindamente esculpidas, cruzeiros e estátuas ao longo das estradas e, claro, as misteriosas colmeias de pedra.

Foto: www.facebook.com/Kaptárkő Természetvédelmi és Kulturális Egyesület

Os passeios pedestres são organizados pela Associação, para dar a conhecer os valores culturais e naturais de Bükkalja, e cobrem uma distância de 15 quilómetros em 6-7 horas, enquanto se pode desfrutar das magníficas paisagens.

Fonte: http://vjm.hu/ e https://dailynewshungary.com




Cogumelos panados (Rántott Gomba)

Os cogumelos panados são um verdadeira guloseima. Podem ser servidos de forma simples, ou acompanhados com maionese caseira ou molho de iogurte com alho.

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Vinho da Ilha do Fogo – Amor à primeira vista em Cabo Verde

Em plena cratera do vulcão da ilha do Fogo, a quase 2.000 metros de altitude, 138 pequenos produtores resistem à seca e às erupções para garantir as uvas necessárias para um dos mais conhecidos vinhos de Cabo Verde.

Em Chã das Caldeiras, aldeia na cratera do vulcão levada na erupção de 2014, não há família que não tenha uma pequena vinha, plantada em campos que já há sete anos eram de lava incandescente. Organizados numa cooperativa, deram origem ao conhecido vinho “Chã”.

“Toda a gente, todos os anos, faz plantação de vinha, porque é uma cultura que dá rendimento”, explica o presidente da Cooperativa de Transformação dos Produtos Agropecuários de Chã das Caldeiras, David Monteiro.

São já mais de 1.500 hectares de vinhas, em plantações rasteiras que chegam até à quota dos 2.200 metros, em plena encosta do pico principal do vulcão, numa grande cratera de nove quilómetros de diâmetro, onde está inserida a aldeia.

Sete anos depois da última erupção, as plantações estão recuperadas, o problema é a seca, com os últimos três anos praticamente sem chuva em Cabo Verde. “Este ano as plantas estão em boas condições, com melhores lançamentos, para uma boa produção. Mas infelizmente temos tido a infelicidade de não ter a chuva”, lamenta David Monteiro.

A cooperativa, que recebe praticamente toda a produção de uva na cratera, é ela própria um exemplo da resiliência de quem em Chã das Caldeiras já perdeu tudo nas erupções (1951, 1995 e 2014) mas prefere sempre voltar, para reerguer tudo, por entre um mar de lava que de cada vez cobre tudo à sua volta.

Na história registada da ilha do Fogo, desde 1500, a erupção de 2014 foi a 27.ª, sendo que a instalação do que é hoje a aldeia de Chã das Caldeiras remonta apenas ao início do século XX.

A adega da cooperativa, em pleno centro da aldeia, não escapou às duas últimas erupções.

Escapou, isso sim, recorda o presidente da cooperativa, à pressão das autoridades para, após nova destruição completa em 2014, a deslocalizar para São Filipe, a capital da ilha, a uma hora de viagem de carro, descendo o vulcão para transportar as uvas.

“Não havia condições para fazer vinho lá. Era preciso fazer toda essa coisa de transporte, levar as uvas. Quando chegassem a São Filipe, as uvas estavam completamente esmagadas, oxidadas, etc”, explica David Monteiro, recordando a oposição que os produtores fizeram à deslocalização.

“O Governo deu luz verde para trabalhar no interior da cratera. Aqui temos melhores condições, climáticas, é mais perto, as uvas chegavam à nossa adega em boas condições para fazer um bom vinho”, explica, sobre a nova adega, que a cooperativa inaugurou em 2015, ano em que apenas produziram 20.000 litros de vinho.

Na última produção já chegaram aos 50 mil litros, ainda assim cerca de metade do que necessitam para corresponder às encomendas, do mercado interno e da exportação.

Atualmente, a produção do vinho “Chã” é essencialmente branco (75% do total). Com vinhas espalhadas por toda a cratera, entre a cerca de uma centena de casas que vão sendo reconstruídas entre o que sobrou da lava, há ainda produção de vinho tinto (20%) e rosé (5%), além de alguns licores de frutas.

A exportação, devido à baixa da produção com a seca, é que tem estado condicionada, já que não há quantidade suficiente para justificar a venda para fora, que no passado já chegou a ter um peso de 20 a 30% do total, sobretudo para Portugal e para os Estados Unidos, desde logo devido à forte presença de emigrantes cabo-verdianos nesses países.

“Tivemos azar com a erupção de 2014 e parámos a exportação. Nunca mais conseguimos recuperar (…) Há interesse, não temos é produção”, explica o presidente da cooperativa.

De olhos no céu, à espera das chuvas que ainda podem cair até fevereiro, David Monteiro diz que basta haver água para facilmente a adega produzir 100 mil litros de vinho e equilibrar as contas.

“Se vier a chuva”, desabafa.

Fonte: Lusa




Budapeste: O lendário restaurante Gundel reabre ao público no início de maio com novo conceito

Um dos espaços mais prestigiados de Budapeste – O Gundel – vai reabrir ao público em maio.

O icónico restaurante húngaro, de grande passado e prestígio, comemorou 125 anos em 2019.

Durante as restrições da última primavera, foi um dos primeiros a ser forçado a fechar portas. A longa espera, por outro lado, pode ser uma boa notícia para todos nós, pois por trás do silêncio aparentemente interminável estava o redesenho e remodelação do espaço.

Com um novo chef executivo e um contrato de longo prazo, uma nova gerência assumirá a gestão do restaurante, com o objetivo comum de preservar o património do restaurante para levar alegria a ainda mais pessoas.

A inauguração com o novo conceito está prevista para o início de maio, mas, entretanto, espera-se que o rebranding do restaurante também seja um símbolo do fortalecimento da hospitalidade húngara.

Fonte: Funzine.hu




Notícias da nossa casa!

É com muito gosto que informamos os nossos amigos, seguidores e leitores que o LusoMagyar News, foi aceite, quer pela Lusa (Agência de Notícias de Portugal) quer pela MTI (Magyar Távirati Iroda), como órgão de comunicação social que, através da sua atividade, presta serviço às comunidades e diásporas portuguesas e húngaras, com a disponibilização dos acessos às plataformas respetivas, podendo por isso usar os recursos de audio, vídeo, fotos e notícias, difundidas pelas mesmas.

Esperamos em breve trazer-vos outras novidades relacionadas com o LusoMagyar News




Uma pitada de português – para aprendentes da língua (Egy csipetnyi portugál – nyelvtanulóknak) – 10

Em tempos de pandemia até os festivais se realizam duma forma virtual. Vamos ver um artigo de ontem sobre o Festival Internacional de Chocolate de Óbidos virtual com vocabulário. Além disso, alguns nomes engraçados de doces típicos de Portugal

A járvány idején még a fesztiválokat is virtuálisan rendezik. Nézzünk egy tegnapi cikket a Nemzetközi – virtuális -Csokoládé Fesztiválról Óbidosban Ráadásul néhány vicces tipikus portugál édességnév

Portugal: Festival Internacional de Chocolate de Óbidos com edição digital em 2021

Digitális Nemzetközi Csokoládéfesztivál Óbidosban 2021-ben

A edição 2021 do Festival Internacional de Chocolate de Óbidos vai ser integralmente digital, anunciou hoje a Câmara, considerando que durante o primeiro semestre do ano não haverá condições sanitárias para grandes eventos presenciais devido à pandemia de covid-19.

O festival, que em 2020 não se realizou devido à pandemia, vai decorrer, este ano, “essencialmente, nos meios online” e num formato que “assinalará, durante os próximos meses, algumas datas significativas, associando-as ao chocolate”, divulgou hoje a Câmara de Óbidos, no distrito de Leiria, em comunicado.

Sem “condições de segurança sanitária e o necessário sentimento de segurança coletiva” para retomar “os grandes eventos presenciais”, a autarquia pretende “afirmar” o evento através de “conteúdos digitais, da aposta no simbólico, no conhecimento e na transferência de saber através de uma nova plataforma”.

Essa plataforma irá contar com “conteúdos informativos e formativos, de caráter técnico, pedagógico e didático” para dar a conhecer o que se faz em Portugal e no mundo, em torno do mais popular de todos os doces.

A edição deste ano será ainda marcada pela criação de uma plataforma comercial online “onde se podem adquirir os produtos do Festival Internacional de Chocolate de Óbidos”, alguns dos quais “tão exclusivos que, tirando o evento, quase não se conseguem adquirir em qualquer circuito comercial”, adiantou a Câmara, estimando que até ao Dia dos Namorados, 14 de fevereiro, seja já disponibilizados alguns produtos.

Simultaneamente, está a ser reformulado o website do festival, que será relançado com mais conteúdo de arquivo, “para que possa ser recordado o que foi cada uma das edições anteriores” e com mais conteúdos alusivos ao património e identidade da vila medieval.

O Festival Internacional de Chocolate de Óbidos é o mais antigo do país, realizando-se desde 2002, numa iniciativa da Câmara de Óbidos em parceria com a empresa municipal Óbidos Criativa.

O evento realiza-se tradicionalmente entre abril e maio, na cerca do Castelo de Óbidos, tendo entre os seus principais atrativos a exposição de esculturas de grande dimensão, elaboradas por chocolatiers que nelas aplicam toneladas de chocolate.

Marcado também por concursos, demonstrações, exposições e venda de produtos relacionados com o chocolate, o festival atrai à vila muitos milhares de visitantes, tendo, em algumas edições, provocado o congestionamento e corte da Autoestrada 8, devido ao elevado afluxo de viaturas com destino à vila.

DA // MCL

Lusa/Fim

Vocabulário– szószedet

 

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segurança sanitária egészségbiztonság a exposição a kiállítás
presencial személyes escultura de grande dimensão nagyméretű szobor
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marcar megjelöl atrair vonz
adquirir beszerez congestionamento forgalmi dugó
estimar becsül afluxo de beáramlás, forgalom
disponibilizar rendelkezésre bocsát a viatura a gépjármű

 

A-propósito de chocolates e doces: os típicos doces conventuais de Portugal naturalmente não são feitos com chocolate, mas sim com gemas de ovos e muito açúcar. A maior parte são criações de frades e de freiras nos conventos e foram guardados em segredo.

A csokoládé és az édesség apropójára: a tipikus portugál kolostorokban készült édességek alapanyaga természetesen nem a csokoládé volt, hanem tojássárgája és sok-sok cukor. Legtöbbjüket szerzetesek és apácák alkották és a receptet titkosan őrizték.

 

 

Nomes engraçados de doces conventuais em Portugal

Néhány vicces nevű portugál édesség a kolostorokból

 

papos de anjo angyalpocak

toucinho do céu- égi szalonna

orelhas de abade – apát füle

barriga de freira – apáca hasa

baba de camelo – tevenyál

queijinhos do céu – égi sajtocskák




Hungria – a classe média no século XX A história contada de três famílias

Venho partilhar aqui no LMN o artigo “Hungria – a classe média no século XX. A história contada de três famílias”, escrito e enviado para Lisboa por fax (!) em 27 de janeiro de 1990. Como na ocasião não foi publicado, esteve na gaveta e serviu como contribuição singela no livro de homenagem ao Prof. Pál Ferenc, esse Grande Amigo de Portugal e dos portugueses, livro editado por ocasião do seu 60. aniversário

Da classe média húngara, tal como a generalidade das classes médias da Europa Central não reza a história. No entanto tem sido este grupo social, a maior vítima do desassossego e convulsões históricas durante este século que caminha para o seu fim.

Como pertencentes á classe média considerei o professor primário da aldeia, o agricultor proprietário de algumas terras, o advogado, o bancário, o dono da pastelaria, o pequeno industrial húngaro, etc, que passou pelas tragédias de duas guerras mundiais, as ditaduras e os totalitarismos de esquerda e de direita, sofreu as perseguições pelo seu credo político ou religioso e ás vezes, precisamente por não os ter, viu a sua privacidade familiar invadida pelas kgbs e gestapos, sofreu perdas económicas e patrimoniais, em muitos casos, irremediáveis e resistiu, agarrou-se à terra, à profissão, à cultura, à pátria e conseguiu sobreviver.

No processo de abertura política e de democratização recentemente iniciado, uma vez mais se espera que importante papel, simultaneamente, de suporte da nação e de liderança, esteja reservado à chamada classe média, ainda que na Hungria pouco se fala dela.

Para os leitores portugueses deste novo jornal diário, procurei um pouco por acaso, exemplos e histórias de três famílias húngaras, que me ajudassem nesta tarefa.

Preparei o gravador, o bloco de notas e fui ouvindo e de quando em quando, perguntando.

 1. A senhora Klára Kovács nasceu em 1915, numa aldeia da grande planície húngara, na província de Békés, já próximo da actual fronteira com a Roménia, em plena 1.Guerra Mundial, conflito que, entre outras consequencias, provocou o desmembramento do Império Austro-Húngaro, liderado pela dinastia Habsburg e a uma nova redefiniçao de fronteiras e paises nesta vasta região europeia.

Enérgica, apesar dos seus 75 anos, disse-me sem hesitar “tenho pouco tempo, mas venha daí, que agora felizmente falar já podemos, sem estarmos sempre a olhar para o lado.” E lá me deu boleia no seu Trabant até ao mercado do bairro, falando, falando sempre. Para o leitor que não conheça, o Trabant é um carro a dois tempos da RDA-Alemanha Oriental, talvez o exemplo mais acabado da evidente superioridade do paradísiaco socialismo sobre o malfadado regime capitalista.

Klára nasceu numa família de camponeses remediados, com mais sete irmãos, ainda todos vivos. “Tenho um irmão que, ora está na Hungria, ora está na Suécia. É que um dos filhos abandonou o país em 1970 e agora é cidadão sueco como a mulher que lá conheceu e os filhos que lá nasceram. Falam um húngaro muito razoável, diz com orgulho.” Estudou quatro anos na escola primária e outros tantos na secundária. Depois continuou em casa a ajudar a mãe nas lides caseiras e a criar os irmãos, “eram cinco rapazes, resguardada, que o meu pai era um homem tradicional e muito severo.”

Casou em 1935 com um professor primário, filho de uma das melhores famílias da aldeia, um casamento escolhido pelos pais de ambos. O marido, o senhor Ervin, já casado tirou, por correspondencia, o curso de direito, na universidade de Kolozsvár, curso concluído em 1941, ainda antes da Hungria entrar na II Guerra Mundial, ao lado da Alemanha de Hitler, após ter denunciado o Tratado de Amizade Eterna em vigor e declarado guerra à Jugoslávia.

De referir que Kolozsvár, importante cidade universitária na história da Hungria, se encontra em Erdély (Transilvânia), que foi, primeiro integrada na Roménia com o Tratado de Paz de Trianon depois da I Guerra Mundial, mais tarde, por decisão da Concessão de Viena, no decorrer dos anos 30, reintegrada na Hungria e depois da II Guerra Mundial como parte da Roménia. 

“Tinhamos grande respeito pelo Regente, o Almirante Horthy, muito medo do comunismo e dos russos, mas não nos ocupávamos com politica. Naquela altura, após o meu casamento, eramos proprietários de 12 hectares de terra, do melhor que havia, era eu que geria a herdade, que contratava e pagava as jornas.”

Apesar do racionamento de alguns bens como o sal e o açucar e da mobilização de alguns jovens da aldeia, até à entrada das tropas do exército vermelho na Hungria nos finais de 1944, não sentiram a guerra, não se aperceberam que após a batalha de Stálingrad no início de 1942, batalha que terminou com a vitória esmagadora dos soviéticos sobre os invasores alemães, que após o desastre do exército húngaro na região do Don, no qual morreram mais de 100 mil soldados húngaros, o curso da guerra tinha mudado definitivamente.

Ninguém os avisou que a guerra se aproximava rapidamente das terras húngaras, que Stalingrád tinha sido o momento da grande viragem, o princípio do fim do pesadelo nazi e, ao mesmo tempo, o início da longa noite comunista, para vários povos e paises da Europa Central, entre os quais, os húngaros e a Hungria.

Os governtes de então não se preocuparam em preparar a população para o que vinha.

“Foi uma época de inferno, a região onde viviamos estava na linha da frente dos combates entre os exércitos alemão e húngaro e os russos.” Iam sendo evacuados de aldeia em aldeia, “vinha o soldado com o tambor e lia em voz alta, o governo legítimo da Hungria para defesa dos bens e das vidas dos seus cidadões, ordena a evacuação imediata da aldeia.” E assim viveram durante longos meses, regressavam se o exército vermelho retrocedia à contra-ofensiva alemã, fugiam de novo se era o contrário, “passámos a viver com a tralha às costas, com as carroças sem parar, mal comidos e mal dormidos, sempre com medo do pior. Mesmo asssim a nossa família não se pode queixar.” Para evitar ser violada pela soldadesca soviética, empapou o cabelo e o rosto de cinzas e de lama, vestiu as roupas mais velhas e mais escuras que tinha, mas “mesmo assim tenho na família quem não conseguiu escapar.”

Entre tantas pequenas histórias por contar, por se saber do que na verdade então se passou, recorda aquela que aconteceu em Endröd, a sua aldeia,  em 1945. “Na aldeia havia uma mulher da vida, por acaso muito bonita, morena e aciganada que se fez amante do oficial russo ali estacionado. Um dia matou-o à facada e fugiu.” Como represália o exército soviético anunciou que mataria metade dos adultos da aldeia, se não entregassem a assassina no prazo de 48 horas. “Findo o prazo não cumpriram a ameaça, mataram apenas 13 homens.” A dita já estaria certamente nos braços de outro oficial, talvez russo, talvez romeno.

Klára ficou em silêncio durante algum tempo e depois disse “sabe ainda hoje no nosso cemitério há uma grande estátua em memória do oficial russo assassinado e uma rua com o seu nome, herói e mártir da luta solidária para com o povo irmão húngaro, caído na luta pela libertação contra o fascismo, mas as famílias daqueles 13 infelizes nunca mais tiveram paz, perseguidas e vigiadas, nunca os puderam enterrar, cuidar das suas campas, como faz um qualquer cristão. Até agora! Que regime foi este que tratou assim o seu próprio povo?”

O fim da guerra permitiu o regresso a Endröd e algum sossego até 1947, “mas apesar da paz, o melhor bem do mundo, das promessas dos políticos, sentíamos que tinhamos a corda no pescoço, só não sabíamos quando a iriam apertar.” Em 1949 com a sovietização do país e a colectivização forçada das terras, a família Kovács foi colocada na lista dos kuláks, camponeses ricos que teriam de ser despojados das suas terras e proibidos de votar nas farsas eleitorais da época. “Sabe eram tais as perseguições, o número de porcos, de ovos e galinhas, as quantidades de trigo e de milho que eramos obrigados a entregar ao estado a troco de maus tratos e mais perseguições, que foi um alívio quando finalmente nos roubaram as terras, as terras herdadas dos nossos pais.”

Foram então viver para a pequena cidade onde Ervin pôde exercer a profissão de notário e de advogado, já que como professor não dava garantias ideológicas. Foi ali que assistiram e se encontraram, surpreendidos, com a Revolução de 1956. Apesar de ser considerado pelo partido comunista um inimigo politico, Ervin pela sua posição era uma das pessoas mais conhecidas, juntamente com o secretário do partido e os presidentes da câmara e da cooperativa estatal, “conhecido e com prestígio, não odiado como os outros”. Durante os dias da insurreição de Outubro, com o Ervin na cama doente, o ambiente tornava-se cada vez mais tenso, crescia a sede de vingança, a população queria fazer justiça por suas mãos. Vieram então pedir ajuda ao doutor Ervin, com a esperança de que a sua presença  poderia acalmar a multidão concentrada no largo principal. Este dirigiu-se aos manifestantes, afirmando que a legalidade tinha de ser respeitada, que os dirigentes comunistas locais estavam fechados na sala de reuniões da câmara, mas só o tribunal os poderia julgar e quando a calma fosse restabelecida. “E eu que supliquei tanto para que ficasse deitado na cama, que não fosse, mas foi em vão. Como nunca tivemos filhos a lei foi sempre a sua menina.”

Após o esmagamento da revolução, na Primavera de 1957, já depois da manifestação do 1 de Maio, na qual os novos senhores nomeados pelo Kremlin, conseguiram reunir em Budapeste uma multidão de quase 1 milhão de húngaros, Ervin foi preso, tendo ficado em prisão preventiva durante mais de 1 ano. Em 1958 foi julgado e absolvido por falta de provas. “Nunca mais pôde exercer a sua profissão, os únicos empregos que conseguiu foi de carregador-arrumador de armazém ou ajudante de camionista. E mesmo assim, sempre que chegava aos ouvidos do secretário da célula do partido quem era ele, era logo corrido. Fui eu que nos mantive. Quando Ervin ainda estava na prisao, vendi o pouco que tinhámos e mudei-me para Budapeste. Arranjei emprego num restaurante de prestígio, o chefe engraçou comigo.”  Klára trabalhou na cadeia estatal de restaurantes até à idade da reforma, tendo nos últimos 10 anos dirigido um dos restaurantes da empresa.

Sozinha comprou o terreno onde construiram a casa na qual ainda hoje mora, próximo do Városliget (jardim da cidade), um dos bons locais da capital. Trabalhou por dia 11-12 horas e não nega que foi assim o seu ganha-pão, recuperando parte da posição que tinha perdido. “Quando fechava o restaurante e com a escassez de taxis que existia, tinha sempre, entre os fregueses, quem me pedisse para os levar a casa com o meu Trabant. Era proibido mas eu não tinha medo e assim em vez de um, tinha dois salários. Nunca pedi nada aos clientes, cada um pagava o que bem entendia”

Em 1968, ano na Hungria, do ínicio das tímidas reformas do sistema económico centralizado, do insucesso da Primavera de Praga e da tentativa do socialismo de rosto humano, abortada com a intervenção militar dos exércitos da URSS e do Pacto de Varsóvia, os Kovács compraram uma parcela junto ao rio Tisza, onde eles mesmo construiram, com a ajuda de amigos e familiares, uma pequena casa de férias. Em 1970 já lá passarm o verão.

“Ervin nunca aceitou a injustiça que lhe fizeram, nunca reencontrou a sua paz interior.”

E a senhora como viveu, como se conseguiu integrar na Hungria kadarista? Como recorda esses tempos? “Não se pode viver nem de recordações, nem de ilusões. O passado nunca volta, nunca se recebe o que se perdeu, o que nos roubaram. Apenas nos resta continuar, fazer outras coisas, enfim viver. Que culpa temos nós de termos nascido aqui, naquela época, naquele tempo?” Klára foi várias vezes agraciada com a condecoração do trabalhador socialista exemplar, foi anos a fio delegada sindical da empresa e sempre que pôde gozou as férias pagas nas casas de repouso dos sindicatos.

“Sabe, a verdade é que na Hungria, quem quis trabalhar, trabalhou e pode amealhar algum e ir melhorando a sua vida, seguir em frente, mas também lhe digo que parece mentira, parece um sonho, ver a Revolução de 1956 reabilitada, poder de novo desatar o nó da garganta. só é pena que o Ervin não esteja vivo para assistir, saber que o seu sacríficio não foi em vão.”

 

2. Anna Szegő, nasceu em 1950 é secretária na embaixada de um país ocidental, de origem judia, assumida. O filho mais velho de onze anos é um ferveroso adepto do MTK, o clube de futebol dos judeus húngaros. Mas Anna falou sobretudo do pai já falecido e da mãe.

O senhor Gábor Szegő nasceu em 1913 na cidade de Miskolc, actualmente a segunda maior cidade deste país. Com 18 anos partiu à aventura, foi para a Nantes, Franca, de onde voltou dois anos depois, menos aventureiro, mais magro e sabendo falar francês. Voltou à oficina do pai, judeu ortodoxo, que naquela altura já dava trabalho a 7 mecânicos. Em 1939 foi mobilizado, mas no exército do Almirante Horthy não havia lugar para os húngaros de origem judia, estes estavam proibidos de terem acesso às armas nacionais húngaras. Foi por isso enviado para um campo de trabalhos forçados de onde podia sair, aos fins-de-semana, 2-3 vezes por mês. Numa dessas visitas a Miskolc, casou-se com a moça com quem namorou 8 anos, e que pouco tempo depois engravidou.

Gábor entre 1939 e 1947 nunca mais teve uma casa a sério. A 19 de Março de 1944 a Hungria foi ocupada pelas tropas alemães, Horthy já não era de confiança e o exército húngaro, mal armado e mal abastecido, já tinha sido dizimado pelo exército soviético nas terras, outrora férteis, da Ucrânia. “O meu pai, com muitos outros jovens judeus húngaros, foi enviado para as zonas de combate, para irem à frente do exército alemão, eram eles os primeiros a pisarem as minas dissimuladas, os primeiros a serem atingidos pelo fogo das armas russas.”

Gábor Szegő conseguiu fugir com mais 3 companheiros e foram parar a uma região controlada pelo exército vermelho. Depois de várias peripécias e aventuras, conseguiram comprovar a sua identidade e por isso não foram executados como invasores e fascistas húngaros, foram enviados para a Sibéria onde passaram longos meses. Foram depois recambiados para a Ucrania, onde ficaram internados, uma vez mais, num campo de trabalhos forçados para  prisioneiros de guerra.

“Em 1947 o meu pai foi finalmente libertado e autorizado a voltar a casa para o reencontro tão ansiado com a sua jovem mulher e a filha que ainda não conhecia, que nunca iria conhecer, pois ambas morreram em Auschwitz. De toda a família do meu pai, só sobreviveu uma irmã, a minha tia, que tinha sido acolhida e escondida em Budapeste, mesmo apesar dos perigos, por uma familia húngara cristã. Nenhum dos irmãos voltou a Miskolc.”

O campo de concentração de Auschwitz-Birkenau é justamente considerado por muitos, como o maior cemitério húngaro. Mesmo sendo dificil de saber o número exacto das vitimas, ali foram exterminados entre 360-390 mil judeus húngaros. A máquina de deportar tantos inocentes para a morte certa, era tão perfeita e oleada que após a ocupação alemã da Hungria em Março de 1944, em 2 meses foram deportados quase 440 mil judeus húngaros.

Em 1948 Gábor voltou a casar com Marta, mãe da Anna e de dois rapazes mais novos. Conheceram-se num baile de beneficiência da comunidade judaica de Budapeste, para a recolha de fundos para a reconstrução da Sinagoga.

Marta e Gábor inscreveram-se ambos no Partido Comunista. Porque é que os seus pais se increveram no PC? “Entraram no partido, como fizeram muitos sobreviventes judeus do Holocausto. Acreditavam no comunismo, na promessa de um futuro radioso, que com os comunistas havia a garantia de que os horrores das câmaras de gás nunca mais se repetiriam. Eram militantes de base e aos fins-de-semana participavam activamente nas campanhas de agitação pela colectivização das terras ou para denunciar o clericalismo da Igreja Católica, mas nenhum deles se tornou agente da polícia politica comunista, como infelizmente aconteceu, com muitos membros da comunidade judaica que sobreviveram.”

Ainda em 1949 Gábor começou a estudar na universidade de engenharia de Budapeste e a partir do 2. ano, já trabalhava numa cooperativa industrial. Marta estava empregada numa fábrica de peles e cortumes, era a responsável pelas vendas para o mercado interno.

“A minha mãe, quando falamos dessa época, ainda hoje fala em voz baixa, diz que se punha sempre a rezar cada vez que o meu pai se atrasava 15 minutos, com medo que tinha sido preso pela AVH, a variante húngara da kgb soviética.”

A Revolução de 1956 apanhou de surpresa a família Szegő. Nos dias intensos de Outubro, explica Anna, da fábrica telefonaram à mãe, ter telefone era um privilégio de muitos poucos, avisando “não venhas à fábrica, nem hoje nem nos próximos dias. O ambiente é de linchamento, queram caçar todos os comunistas da empresa, há uma lista afixada à  entrada e o teu nome está lá.” Durante 3 semanas Marta ficou em casa, findas as quais voltou ao trabalho onde ficou até se reformar. Gábor todos os dias foi trabalhar mesmo quando os transportes públicos deixaram de funcionar.

Nenhum dos dois se voltou a inscrever no POSH, o partido do camarada János Kádár.

“Viram tantos oportunistas e carreiristas, a maior parte dos funcionários e agentes da antiga policia politica estalinista que acharam que aquele partido já não era o deles.”

Fizeram aquilo que a grande maioria dos cidadões deste país fizeram, adaptaram-se, acomodaram-se, colaboraram com os novos senhores no poder até onde lhes foi possível, contentes por viverem melhor que antes, por poderem planear o seu futuro, por terem um nível de vida bem melhor que nos outros paises do COMECOM. Os filhos puderam estudar, acabar a universidade, a Anna tirou o curso de professora e os irmãos são ambos engenheiros.

Em 1967, com a guerra dos Seis Dias e o corte das relações diplomáticas da Hungria com Israel, aconteceu a ruptura espiritual e humana entre a família Szegő e o regime. “Nós olhávamos a política através dos olhos de húngaros judeus e ao tomar partido pelos árabes contra o estado de Israel, o governo deixava uma mensagem clara e o que era mau para Israel, era mau para nós. Penso que a esmagadora maioria da comunidade judaica húngara, pensava e pensa assim. O meu pai odiava particularmente Brejnev.”

Desde dessa data, todos os dias ás sete da manhã, Gábor Szegő escutava atentamente a rádio Jerusalém, até à sua morte em 1987.

E você Anna como cresceu, que pensa dos anos dourados do kadarismo, do socialismo do gulásh, ainda hoje, com tanto prestígio no mundo ocidental? “O facto de não ser filha de um operário mas sim de um engenheiro, marcou-me desde o jardim escola até à universidade.” Nas cadernetas das escolas primárias e dos liceus, os filhos dos trabalhadores físicos a seguir ao seu nome tinham um F a vermelho e por isso, independentemente dos resultados obtidos, tinham sempre primazia nas excursões e viagens de estudo ou nos acampamentos de verão e só depois os outros eram escolhidos. “Sabe para mim era muito difícil aceitar, se eu era pioneira, se era membro do KISZ-Juventude Comunista, como todos os outros, se era das melhores alunas, porque razão não era escolhida, não podia ir a festa de Natal no Parlamento, onde todos os anos distribuiam doces e prendas bonitas.”

No último ano do liceu um incidente impediu Anna de exercer a sua profissão de professora. Como queria ser directora de teatro, com uma colega decidiu encenar uma peça  sobre o movimento hippy e que acabaria com o hino norte-americano. Como não o tinham, decidiram ir à embaixada pedir. É escusado entrar em pormenores. Quando Anna e a colega chegaram ao liceu, já tinham a directora, o secretário do partido e um desconhecido à espera. Foram acusadas de tudo, traidoras, agentes da CIA, chamaram os pais à escola, levantaram um processo disciplinar e só não as expulsaram porque estavam no último ano.

Quando acabou a escola superior, curso de inglês-húngaro, na ficha-caderneta que lhe entregaram e que ela tinha de mostrar, no departamento de pessoal, onde fosse procurar  trabalho, estava escrito a encarnado “não se recomenda que ensine aos nossos miúdos, têm posições politicas que podem ser perigosas e perturbar a sua formação.”

Ainda hoje guarda esse documento. Estávamos nos meados da década de 70, da Conferência de Helsínquia, da distensão e do diálogo entre os 2 blocos, dos  direitos humanos e da luta  da ideologia e da propaganda, da ingenuidade de sempre dos intelectuais do mundo ocidental.

“Nunca pude dar aulas, razão porque me tornei secretária. Nunca fiz parte da oposição, na verdade só soube da sua existencia nos últimos anos, com a revolta em Gdansk na Polónia, com Walesa e o Solidariedade. O mais curioso é que materialmente, para mim, assim foi muito melhor, o meu salário actual é 4 vezes mais alto daquele que teria se fosse professora de liceu e devido ao meu trabalho, ainda aprendi francês.”

E hoje, politicamente como encara a actual situação? “Olhe apoio totalmente os liberais do  SZDZS-Democratas Livres, apoio o desmantelamento completo do regime anterior, acredito na democracia parlamentar, sem adjectivos e não se esqueça de escrever que me considero de esquerda, que a esquerda europeia não tem nada a ver com o comunismo.”

 3. Estou sentado á mesa da Cukrászda (café-pastelaria), com o senhor István Mészáros, acompanhado pela filha, minha conhecida. Reservado e de poucas falas, tento meter conversa e explicar o motivo do encontro. Biólogo, nasceu em 1931, é pai de 2 filhas, uma já médica e outra estudante de agronomia, como o avô.

O pai do senhor Mészáros, István como ele, foi o primeiro intelectual da família. Os seus avós eram padeiros e viviam na cidade de Keszthely, junto ao lago Balaton, na parte ocidental da Hungria. Após ter terminado o curso de agronomia, István pai, já casado e com o István filho a caminho empregou-se como especialista agrícola na câmara municipal da cidade.

Em 1939 mudou-se para Budapeste para trabalhar no Ministério da Agricultura.

Na Hungria o sector agrícola teve sempre um grande importancia politica, económica  e social. Desde os tempo dos Habsburg, que a Hungria era conhecido como o celeiro do Império. Em 1941, devido ao estímulo salarial, foi destacado para Kassa, cidade de novo entregue à Hungria após as decisões da Concessão de Viena. Depois do fim da II Guerra Mundial, aquela cidade e a região, foram de novo integradas na Checoslováquia, apesar da maioria dos seus habitantes serem de nacionalidade húngara.

István pai foi mobilizado já na fase final da guerra e como falava correctamente alemão, foi enviado para a cidade austríaca de Linz, para se especializar em comunicações-rádio. Pouco tempo depois a cidade foi ocupada pelas forças aliadas e aquele foi feito prisioneiro pelo exército americano, que depois o entregou aos soviéticos.

“O meu pai teve muita sorte, pois ao fim de 6 meses foi libertado, regressou a Budapeste e foi recolocado no Ministério da Agricultura, onde ficou até à reforma já nos anos setenta.”

Como um saca-rolhas ia sacando frase a frase algumas recordações e ideias a István. “Quando a guerra mundial começou eu tinha 8 anos e só em 1944 me dei conta da gravidade. Era escuteiro e estudei numa escola dirigida por frades beneditinos. No ano em que terminei os comunistas fecharam-na. Era um dos melhores estabelecimentos de ensino da Hungria.”

O seu pai foi membro do FKGP-Partido dos Pequenos Proprietários, centrista e populista, defensor das tradições húngaras, de uma profunda reforma agrária e apologista da 3. via entre o capitalismo e o comunismo. O FKGP, antes da implantação do regime totalitário, era o partido mais forte, tendo obtido 57% dos votos nas primeiras eleições livres em 1945, mas o PC iniciou de imediato a estratégia de o aniquilar, chegando ao ponto de,  no início de 1947 em pleno dia, numa rua de Budapeste, Béla Kovács, Secretário-Geral do partido, ter sido raptado por agentes da KGB e deportado para o Gulag na Sibéria.

“O meu pai era um idealista da esquerda moderada. Eu estive sempre mais à direita, anti-comunista estrutural, apesar de nunca os ter enfrentado de forma activa. As minhas formas de protesto foram, de não assinar o diário orgão central do partido, mas sim o Magyar Nemzet, mais liberal e mais nacional, apesar da feroz censura ou o de ter sido capaz de resistir, dizer que não e não deixar que me inscrevessem no Partido Comunista.”

Não deve ter sido fácil, pois o PSOH de Kádár, para uma população de pouco mais de 10 milhões de habitantes, em 1988, tinha inscritos quase 900 mil membros.

Após a bolchevização da Hungria, István pai virou-se ainda mais para dentro, para a família, ocupou-se com as suas flores, as árvores de fruto do seu jardim, na elitista Rózsadomb (colina das rosas), com os seus livros, os seus novos diplomas e línguas estrangeiras.

De 1956, István filho referiu-se ao momento da festa no qual os revolucionários derrubaram a enorme estátua de Stálin que tinha sido edificada no mesmo local onde o regime comunista removeu as ruínas em que se encontrava o templo católico Regnum Marianum.

A nível familiar destacou, “o casamento da minha irmã estava aprazado para aqueles dias. Os meus pais cederam dois quartos da casa onde viviam ao jovem casal. Remodelaram, pintaram, mobilaram e os tanques soviéticos escavacaram tudo com os seus balázios.”

István por ser de origem intelectual não pôde cursar medicina como queria e só através de conhecidos, teve acesso ao curso de biologia. Decidiu, aprender línguas estrangeiras, fala inglês, alemão e espanhol. Tornou-se um investigador de laboratório e devido às suas qualidades profissionais e domínio de idiomas estrangeiros, esteve por duas vezes no estrangeiro, 8 anos no total, a última vez em África, cinco anos como expatriado da FAO. Tem um mercedes e a mulher um vokswagen e vivem, também eles, na Rózsadomb.

István adaptou-se ao país que era o seu e ao regime que lhes foi imposto por um exército estrangeiro, regime que no tempo da consolidação kadarista, substituiu a táctica do salame e o o conceito de que a luta de classes se agudiza com o avanço na via para a sociedade comunista, pela máxima de Kádár,”quem não está contra nós, está por nós”.

Segundo o István Mészáros, nas últimas décadas, a sociedade húngara viveu um intenso dualismo – a cultura em casa, na família e a cultura e ideologia oficial do PC nas escolas, nos locais de trabalho, na comunicação social. “ Este dualismo, resultado da resistência da maioria silenciosa, foi muito importante para a sobrevivência, mas foi também muito prejudicial e nefasto, devido sobretudo ao cinismo acumulado, com consequencias ainda por conhecer, para a nossa mentalidade, a moral que nos é tão necessária, na reconstrução dum país melhor e mais livre, para a classe média e o seu papel decisivo de integrador da sociedade húngara”.

 Budapeste, 27 de Janeiro de 1990

Tradução em húngaro por Lantos Vera




Budapeste: Um dos maiores parques da cidade cresce em Csepel

Já começaram os preparativos para criação de um parque público na parte norte da ilha de Csepel, cobrindo uma área total de 36 hectares, disse esta sexta-feira o Secretário de Estado Encarregado do Desenvolvimento de Budapeste. Balázs Fürjes disse num post publicado no Facebook que o Centro de Desenvolvimento de Budapeste publicou um concurso público no jornal oficial da União Europeia para o planeamento do parque público de Csepel, que vai ser um dos maiores parques da cidade.

Csepel, distrito (bairro) integrante da cidade de Budapeste, é tradicionalmente uma zona industrial, também denominada “zona castanha” . Para além do desenvolvimento e acesso de transportes, novas e modernas habitações, com o desenvolvimento de áreas verdes de qualidade, incluindo mais e melhores parques públicos com instalações desportivas, é neste momento, uma das áreas mais importantes do desenvolvimento da cidade de Budapeste.

O parque incluirá grandes áreas de descanso, caminhos pedonais e ciclovias, pistas desportivas comunitárias, jardins, instalações de fitness ao ar livre, muros de escalada e um parque de patinagem. Serão construídos terraços na margem do Danúbio e pontes para caminhantes e ciclistas, disse Fürjes.

Fonte: MTI

Foto: Facebook Balázs Fürjes/ MTI




Álbum “Mariza Canta Amália” editado nos Estados Unidos pela Nonesuch

O álbum em que a fadista Mariza homenageia Amália Rodrigues, lançado em novembro passado, vai ser editado na sexta-feira nos Estados Unidos pela etiqueta Nonesuch, divulgou hoje a discográfica Warner Music.

No mesmo dia, pelas 20:00 de Nova Iorque (01:00 de sábado em Lisboa), Mariza apresenta em ‘live-stream’ o álbum, numa iniciativa do Town Hall Theatre.

O álbum “Mariza Canta Amália” foi gravado entre Lisboa e o Rio de Janeiro, no ano passado, em que se cumpriu o centenário do nascimento de Amália Rodrigues.

O álbum “Mundo” (2015), de Mariza, foi também editado pela Nonesuch, que tem no seu catálogo artistas como Caetano Veloso, David Byrne, Randy Newman, Youssou N’Dour, Emmylou Harris, Wilco, The Black Keys, Youssou N’Dour, Laurie Anderson, Sam Phillips, Ry Cooder ou os Buena Vista Social Club.

Do alinhamento do novo álbum de Mariza fazem parte, entre os dez temas escolhidos, incontornáveis como “Barco Negro” (Caco Velho/Piratini, numa adaptação da letra por David Mourão-Ferreira), “Povo que Lavas no Rio” (Pedro Homem de Mello/Fado Vitória, de Joaquim Campos), “Foi Deus” (Alberto Janes), “Lágrima” (Amália/Carlos Gonçalves) ou “Gaivota”(Alexandre O’Neil/Alain Oulman).

A direção musical e os arranjos são de Jaques Morelembaum, que já tinha trabalhado com a intérprete há 15 anos, no disco “Transparente” (2005).

Mariza é acompanhada, entre outros, pelos músicos Bernardo Couto e Luís Guerreiro, na guitarra portuguesa, Cristóvão Bastos, no piano e acordeão, Lula Galvão, no violão, Jorge Helder, no contrabaixo, Andrea Ernest Dias, na flauta baixo, Rafael Barata, na bateria, e Marcelo Costa, na percussão.

A fadista disse à agência Lusa que conta começar a apresentar este novo trabalho em palco “em finais” deste ano.

NL // TDI

Lusa/Fim